Venezuela: a revolução socialista pode arruinar um país
Carlos Garcia Rawlins/Reuters
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Noah Smith, que colabora com o bloomberg.com, analisa a atual situação da Venezuela

A economia da Venezuela tem estado em declínio há já algum tempo – mas uma série de notícias recentes vieram destacar o quão má a situação se tornou.

A atual situação levou o governo a declarar estado de emergência.

Porque é que isto está a acontecer? Os economistas não têm bons modelos gerais de economia política, disfunção governamental ou colapso social para dar uma resposta. Embora pudéssemos, em princípio, obter algumas pistas sobre que políticas causaram mais prejuízos, tal requereria dados administrativos raramente disponíveis num país disfuncional como a Venezuela.

Sem uma teoria global e com poucos dados não se pode simplesmente concluir que os desastres como o da Venezuela são o resultado inevitável e óbvio dos esforços para tentar tornar a sociedade melhor para os mais pobres. Somos deixados com analogias históricas, observação casual e teorias vagas sobre o que faz um país ter sucesso ou não.

Normalmente este tipo de situações cria um debate vivo – contudo inconclusivo. No entanto, numa situação tão severa como a da Venezuela, é fácil identificar os maiores culpados por detrás das principais políticas conduzidas no país. Tal como Moises Naim e Francisco Toro escrevem no Atlantic, a maioria da culpa recai sobre as políticas de Hugo Chávez, que governou entre 1999 até à sua morte em 2013, e dos seus sucessores:

É verdade que os preços do petróleo... Caíram... Mas isso não pode explicar o que aconteceu: a implosão na Venezuela começou bem antes da queda do preço do petróleo. Em 2014, enquanto o petróleo ainda era negociado acima dos 100 dólares o barril, os venezuelanos já enfrentavam escassez aguda de produtos básicos como pão ou artigos de higiene pessoal.

A culpa é do chavismo – a filosofia dominante criada por Chávez e prosseguida por Maduro – e da sua propensão para a má gestão.

O controlo de preços – para lidar com a galopante hiper-inflação na Venezuela – parece ter sido uma política especialmente prejudicial. Baixar os preços das necessidades diárias conduziu à escassez – todos correram para comprar os produtos mais baratos, deixando as prateleiras das lojas vazias.

O governo respondeu, de seguida, com a estratégia típica – mas errada – de punir os que considerou “acumuladores”, o que exigiu que a polícia prendesse qualquer um que parecesse ter demasiado de determinado produto. Infelizmente, considerando que ninguém sabe o quanto é demais, muito menos a policia, tal conduziu à detenção de pessoas que possuíam quantidades necessárias de coisas como alimentos ou papel higiénico.

Tal foi especialmente difícil para as empresas, que ficaram presas no meio. Toda a gente começou a viver com medo da polícia, os negócios não eram concluídos e a economia entrou em colapso.

Podem os problemas da Venezuela ter sido causados por ações de governos ou empresas estrangeiras? Os poucos defensores de Chávez (incluindo Maduro) que restam tendem a fazer essa afirmação, mas não faz muito sentido. O timing está errado – esforços estrangeiros para desacreditar ou derrubar Chávez teriam sido mais intensos quando o mesmo estava vivo.

A queda do preço do petróleo em 2015 foi certamente um duro golpe para a já doente economia da Venezuela – no entanto, países baseados no petróleo (como a Rússia e o Irão) também sofreram o choque mas não entraram em colapso.

Parece ser muito mais provável que a Venezuela tenha sofrido uma variante do destino de outros países que se voltaram para revoluções socialistas. A planificada economia de Cuba não entrou em colapso mas esteve estagnada durante décadas. As experiências da Índia com o socialismo também conduziram a décadas de crescimento lento – até as reformas da década de 1990 terem desfeito grande parte dos danos.

E ainda assim Cuba e Índia pré-1990 são resultados maravilhosos em comparação com a Coreia do Norte, que continua a ser um pesadelo em termos de empobrecimento, ou com a China sob Mao Zedong. As economias da Europa do Leste também se saíram mal sob regimes comunistas.

Será que isto significa que o socialismo é um fracasso? Certamente que não. As economias da Alemanha, França, Dinamarca, Suécia e Reino Unido têm os seus problemas mas as políticas como a nacionalização dos cuidados de saúde não as impediram de se tornarem sociedades ricas e confortáveis. Aliás, medidas como pausas de fim de semana entre os dias de trabalho, regras para as horas extra ou a segurança social devem a sua existência aos movimentos socialistas do século XIX e início do século XX.

Então, quando é que o socialismo falha e quando é que é bem sucedido? É uma grande questão e qualquer resposta será simplista – mas sinto um padrão geral em termos históricos. Os países que implementaram o socialismo de forma gradual, ajustando as instituições económicas e avançando reformas – uma a uma – permaneceram, de forma geral, saudáveis.

Quando o socialismo parecia prejudicar o desempenho económico, os países davam um passo atrás na redistribuição e nacionalização antes das coisas piorarem. No entanto, quando os países tentam fazer uma transição para um socialismo extremo de uma só vez acabam muitas vezes por estragar tudo. E uma vez que as instituições tendem a ser persistentes, os erros destes big bangs socialistas, uma vez realizados, revelam-se difíceis de desfazer.

A historicamente bem sucedida abordagem à reforma económica passa por “atravessar o rio sentindo as pedras” – uma frase cunhada pelo líder chinês Deng Xiaoping, que desfez a maior parte dos danos económicos causados pelos seus antecessores. A reforma gradual, não a revolução, é uma vencedora quando se trata de melhorar a vida dos menos afortunados da sociedade.

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