Primeiros dados económicos do Reino Unido pós-Brexit podem não ser tão desastrosos
Dylan Martinez/Reuters
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Análise da empresa de pesquisas Pantheon Macroeconomics

A "dramática degradação" da economia britânica assinalada pelos dados do Purchasing Managers Index (PMI), ou índice de gestores de compras, da Markit da passada sexta-feira poderá não ser tão terrível como se esperava inicialmente — de acordo com uma análise da empresa de pesquisas Pantheon Macroeconomics que sugere que a divulgação de dados quanto ao PMI pode por vezes oferecer uma impressão "errada" da situação económica.

Relembremos os dados publicados na sexta-feira passada:

  • PMI de Serviços: 47,4 — de 52,3 em junho. Abaixo da previsão de 49,2.
  • PMI Industrial: 49,1 — abaixo da estimativa de 50.
  • PMI Compósito: 47,7 — uma queda em relação a 52,4 em junho.

Os dados do PMI da Markit são representados com um número entre 0 e 100.

Os números acima de 50 indicam crescimento enquanto abaixo significam contração da atividade – ou seja, quanto maior, melhor.

Os números da Markit mostraram que a produção composta no Reino Unido caiu para o nível mais baixo desde março de 2009, durante a fase final da crise financeira global. Como primeiros grandes dados concretos apresentados após o referendo, os mesmos foram utilizados pelos defensores da campanha anti-Brexit — como prova de que as previsões avançadas antes da votação, por economistas e bancos centrais, estavam a tornar-se realidade.

Porém, a Pantheon – mesmo reconhecendo a gravidade da queda dos números – alertou para a necessidade de se analisarem os dados com calma. Segue-se um fragmento-chave da análise da Pantheon:

"Cabe ressaltar que o PMI Compósito oferece, por vezes, uma impressão enganadora. Caiu abaixo da marca de 50 em 1998, 2001 e 2003 sem que a economia estivesse em recessão e sobrestimou o dinamismo de recuperação em 2013. As estimativas preliminares desta semana quanto ao PIB do segundo trimestre salientam que o PMI também não é um dado exato. O PMI é consistente com o crescimento trimestral de 0,2% do PIB no segundo trimestre. No entanto, dados oficiais de abril sugerem que seja provável crescimento mais rápido. Prevemos um aumento de 0,4%, ligeiramente abaixo do consenso ao redor de 0,5%."

Samuel Tombs, economista-chefe da Pantheon, continuou:

"O PMI é mais útil como barómetro de dinâmica de crescimento do que como um indicador preciso dos dados de crescimento do atual trimestre na medida em que apenas pede às empresas que relatem se a produção está a crescer, a manter-se ou a cair. Não reflete, assim, a dimensão das flutuações. Um PMI abaixo de 50 significa que o número de empresas a relatar declínio na produção supera o número de empresas a relatar aumento. No entanto, se um pequeno número de empresas estiver a passar por um grande aumento de produção, enquanto a maioria estiver a cair, a economia ainda pode estar em expansão."

Assim, os dados de sexta-feira passada, apesar de mostrarem aquilo a que o economista-chefe da Markit chamou "deterioração drástica" da economia britânica desde o referendo, devem ser analisados com cuidado. Não devem ser considerados isoladamente.

Contudo, a Pantheon ressalta que os dados vão ao encontro de outras pesquisas económicas pós-Brexit que se mostram bastante “sórdidas” para o Reino Unido. Segue-se um gráfico da Pantheon:

Segue-se mais um trecho da análise da Pantheon:

"O tom pessimista do PMI Compósito, no entanto, vai ao encontro de outras evidências. Está em consonância com o índice de confiança das empresas, um inquérito do barómetro empresarial do Lloyds conduzido logo após o referendo — e é menos pessimista que a pesquisa do diretor financeiro da Deloitte que mostrou que a confiança das empresas caiu para os níveis da crise financeira depois da votação."

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