Habitualmente focamos a atenção na influência que a nossa psicologia tem sobre a negociação. Mas e se invertermos a lógica e utilizarmos antes o historial de transações como forma de nos elucidarmos psicologicamente?
Um dos meus exercícios prediletos com a gestão discricionária de ativos é verificar a dinâmica dos acumulados Lucro/Perdas – L/P – e tratá-los como séries temporais financeiras. No fundo, é essencialmente desenvolver um sistema de negociação que revele a o padrão de nogociações do investidor.
É frequente existir um padrão repetitivo nos lucros e perdas dos investidores. Que podem guiar quem os observa dando informações acerca da viabilidade dos investimentos.
Em alguns casos ajudei na criação de alertas para as negociações. Que consistiam no envio de um aviso para o ecrã quando o investidor chega à fase de perder dinheiro no ciclo de acumulados.
É um caminho diferente, mais consciente do momento, sobre os nossos padrões, para que possamos controlá-los ao invés de eles nos controlarem a nós.
Posto isto, quais foram os padrões repetitivos mais presentes durante a análise?
Ocorrem-me imediatamente três.
1. Perder dinheiro com tomada de riscos
É de senso comum que as grandes decisões devem ser feitas quando o investidor se sente confiante.
Mas geralmente os investidores ocupam uma posição mais confiante, depois de uma serie de investimentos bem-sucedidos. Uma vez que se ocupa uma posição maior, talvez as manifestações do mercado também se possam estender.
Sair perdedor, numa das suas maiores apostas é certamente um bom caminho para perder os lucros em dois investimentos menos bem-sucedidos – o que não é nada bom para a sua psique.
Pense bem antes de apostar mais alto só porque se sente convicto de que será uma boa jogada. Opte por examinar primeiro os seus acumulados, e só depois faça a sua tomada de risco, mas em função da sua pré-análise.
Se as suas apostas não tiverem uma grande taxa de sucesso, significa que é a sua confiança que lhe está a dar informações.
2. Perder dinheiro durante a calmaria dos mercados
Uma análise que gosto de fazer, para investimentos na bolsa de valores, é ver a quebra mais baixa de acumulados L/P, durante período VIX.
Qual é a postura dos investidores perante mercados mais ou menos voláteis? Como são feitas as transações, de que forma se pode diminuir ou não estes períodos de volatilidade, ou vice-versa? Para as operações daytrade, como atua o investidor, durante as horas do meio-dia em comparação com as horas da manhã e fim do dia? É durante períodos mais estreitos que o investidor faz mais ou menos compra ou vendas? Não é incomum ver os investidores mais prudentes a minimizar os riscos, quando há uma maior oscilação no mercado, e investidores mais agressivos a debaterem-se quando a volatilidade é esmagadora.
3. Perder dinheiro com as boas aparências dos mercados
Este tópico requer uma análise mais desafiante mas que vale muito a pena. O que acontece á posição e participação dos investidores depois de terminarem a negociação – em particular depois de negócios menos bem-sucedidos?
Normalmente, os investidores tem uma boa visão sobre o mercado, mas ainda assim perdem dinheiro. Ao colocarem paragens muito próximas das entradas, e ao acrescentarem novos posicionamentos às transações que já foram executadas. Os investidores têm capacidade de criar boas ideias, porém gerenciam-nas muitíssimo mal.
Uma variante comum deste problema é estipular metas de lucro, que ficam muito afastadas durante mercados de menor volatilidade.
As transações iniciam-se com dinheiro e terminam a arranhar as perdas – o que é seguramente uma experiencia frustrante. Por vezes, assistimos a investidores a extraírem lucros de transações que muitas vezes em última análise se estenderam por dias e horas subsequentes. E isso acontece quando as ideias são formuladas durante o período de tempo da análise, e que por razões psicológicas o investidor consegue gerenciá-las. Deixando assim a mesa repleta de dinheiro.
Os nossos resultados nas transações que realizamos são uma ótima maneira de nos estudarmos. Permite verificar se está a operar a partir das suas base cognitivas e/ou perturbações emocionais. E isso ganhará expressão no seu L/P corrente. Porque nem sempre somos observadores objetivos de nós próprios, o que ajudaria a manter o foco da nossa negociação para encontrarmos o espelho da nossa psique.