O que se passa com o Alibaba?
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Alibaba, o colosso chinês do comércio eletrónico, teve uma entrada fulgurante na bolsa de valores de Nova Iorque. Porém recentemente as suas ações sofreram uma descida abrupta. Quais são os motivos por detrás da súbita desvalorização?

Depois de anunciar os rendimentos obtidos no último trimestre de 2014, o colosso chinês do comércio eletrónico Alibaba viu o preço dos seus stocks deslizar quase 9% nas vendas para os E.U.A. O que terá acontecido?

Sim, os números têm um papel importante nesta história. Os rendimentos no primeiro trimestre fiscal do Alibaba – que inclui as compras da época festiva – foram de 26,2 mil milhões de yuans ($4,2 mil milhões), falhando as estimativas dos analistas de 27,6 mil milhões de yuans.

O maior problema parece ser um escândalo que se começou a desenvolver em torno do governo chinês no dia 28 de janeiro, dia em que se publicou um livro branco secreto que condenava o site Alibaba por atividade ilegal. O relatório, que foi lançado pela Administração da Indústria e do Comércio chinês (SAIC) desapareceu misteriosamente do site da agência. Mas pode ler uma tradução aqui.

O relatório centra-se principalmente no descuido negligente da empresa na verificação das mercadorias nos seus locais de comércio eletrónico, e no facto de a população chinesa acreditar profundamente que vêm com produtos pirateados, falsificados e ilegais – a própria Alibaba fez alusão a esse facto durante a inscrição da empresa para uma OPI.

Reunião de Julho

O que provavelmente é mais preocupante para os acionistas é que, segundo o documento lançado, a SAIC encontrou-se com a equipa de gestão da Alibaba para discutir essas críticas no dia 16 de julho de 2014 – dois meses antes da OPI a 19 de setembro na Bolsa de Nova Iorque. O relatório indica que a agência manteve o seu encontro “confidencial” de forma a não arruinar a prospetivas da Alibaba para realizar uma OPI. Isto “levanta questões sobre se houve uma divulgação nas prospetivas da OPI de atividades regulares persistentes”, disse há pouco David Webb, fundador de um site de vigia de governo das sociedades a Quartz.

De facto, o prospeto de Alibaba apresenta problemas passados com produtos “ pirateados, falsificados e ilegais” e aguarda mais alegações e ações judiciais. Contudo, não menciona especificamente a reunião com a SAIC.

Joe Tsai, vice-presidente executivo da Alibaba disse durante o balanço trimestral de hoje que a empresa viu o Livro Branco pela primeira vez no dia 28 de janeiro e que a reunião de julho não foi diferente das reuniões regulares marcadas durante o “curso normal do negócio”. Também referiu que a empresa nunca pediu um atraso na publicação do relatório da SAIC.

Quer isto alivie qualquer suspeita relacionada com manipulação de revelações da empresa, quer não, pouco faz para esclarecer outra preocupação grave que parece pairar sobre o stock – considerando a relação complicada da Alibaba com as autoridades chinesas.

SAIC vs. Taobao

A estranha reviravolta das ações da SAIC – o timing conspícuo do lançamento do livro branco no dia anterior à Alibaba anunciar os seus rendimentos e a sua eliminação misteriosa no dia a seguir –foi antecipada por outro relatório da SAIC que abriu uma falha pública entre a agência e Taobao.

No dia 23 de janeiro, a SAIC publicou os resultados de uma ampla investigação realizada ao comércio eletrónico (link em chinês) na China, que descobriu que só 37% dos produtos amostrados no Taobao.com, o mercado eletrónico da Alibaba do género do Ebay eram legítimos. Essa foi de longe, a pior apresentação dos sites examinados. Segundo o Financial Times (acesso pago), quatro dias mais tarde, a Taobao disse através da sua conta oficial no Sina Weibo que estava a preencher uma denúncia formal contra a SAIC. (A publicação foi eliminada desde esse dia.) No dia depois desse acontecimento, a SAIC publica o livro branco sobre a Alibaba, que incluía os minutos da reunião de julho da empresa.

No comentário sobre o balanço trimestral de hoje, Tsai disse que o objetivo e a “abordagem errada tomada” pela SAIC “foi tão injusta que no sentimos forçados a tomar a medida extrema de preencher uma denúncia formal” contra a agência.

Entretanto, num ficheiro áudio que não foi verificado, o diretor da SAIC Liu Hongliang ripou-o para o Alibaba, relata Huxiu, um site chinês:

"Algumas pessoas poderão dizer que estou a ser preconceituoso, ou que só estou a implicar. Hoje estou aqui sem prejuízo em relação ao Alibaba, apenas a deixar as minhas ações falarem por mim, pois esse é o meu dever. Os salários anuais combinados de todos os camaradas deste lado da tabela é inferior ao salário mensal dos executivos do outro lado da tabela. Tem piada mas não é brincadeira nenhuma. O vosso salário mensal é muito maior do que a junção do nosso salário mensal."

É impossível saber “o que se passa nos bastidores”. Mas esta luta do Alibaba serve de lembrete aos investidores de que as fortunas das empresas chinesas – mesmo as de $250 mil milhões que são propriedade de muitos investidores estrangeiros – acabam sempre por estar a favor do Partido Comunista.

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