5 Razões porque merece perder cada cêntimo no mercado de ações

Muitas vezes as perdas no mercado de ações são muitas vezes apontadas como o resultado da ação de corretores e vendedores de produtos financeiros pouco honestos. Neste artigo porém é questionada a responsabilidade do investidor. Afinal, de quem é a culpa?

Este é um excerto do meu próximo livro “The most important concept for successful trading (and a few others)”, que apareceu no blogue The bclung.

O corpo do meu melhor amigo de infância, Eric Philips, estava imóvel numa maca no hospital. Ele estava a morrer. Pela segunda vez.

Eric estava no ponto mais baixo do que havia sido um vício de heroína de dois anos, que o transformou do melhor aluno da turma num viciado. Um dos que entrava nas garagens das pessoas para roubar coisas para depois as vender para sustentar o vício. A sua viagem tinha agora acabado debaixo das luzes duras das emergências, com Eric rodeado de médicos sem nome nem cara, que lhe estavam a tentar dar outra oportunidade.

A sua situação despertou uma discussão intensa no meio dos que o conheciam e amavam; quem devia ser responsabilizado, o vendedor ou o viciado? Em termos financeiros, o corretor da hipoteca ou quem a pediu? O profissional da área financeira ou o seu cliente?

Nós sabemos que o vendedor financeiro está a vender conscientemente algo que vai causar mal ao seu cliente (como documentado num dos melhores livros de sempre escritos sobre o assunto, “Backstage Wall Street” por Josh Brown (eu chamo-lhe JB). Mas e os clientes? Não têm nenhuma culpa nesta dança do diabo? Onde entra a responsabilidade pessoal?

Fiz esta pergunta a mim mesmo depois de passar um fim-de-semana no Money Show em São Francisco, onde falei com centenas de clientes financeiros. Basicamente passei horas a fazer a versão impessoal do que tento fazer no meu blogue – ajudar pessoas a compreender melhor os mercados mostrando-lhes uma perspetiva diferente.

Tive um número de boas conversas com investidores e comerciantes inteligentes e sérios. Infelizmente, a grande maioria das pessoas com quem falei não se encaixavam nestas categorias. Em vez disso, elas escolheram abraçar a ignorância ativa do mercado financeiro.

Elas dividiam-se, mais ou menos, em cinco categorias. Se se insere numa delas, na minha opinião, merece perder todo o seu dinheiro.

Estas pessoas são conhecidas como insetos do ouro, mas deviam ser conhecidas como idiotas do ouro. Graças ao fenómeno do relógio partido, elas podem ter parecido sábias por vezes no passado, mas relembremos que a maioria tentado o mesmo desde 1980.

A única resposta que elas têm para qualquer pergunta é “ouro”.

A desconfiança destas pessoas no mercado, torna a sua visão míope exponencialmente pior. Elas pagam enormes taxas de transação e impostos, e arriscam o roubo dos seus bens guardando ouro físico em vez de obterem outros bens mais eficientes, que iriam libertar espaço em casa para compotas nas suas prateleiras.

Vamos ter um momento de Jeopardy, sim?

Pista: Encontra-se em trabalhos de barro. Os dónutes costumam tê-lo também. Pode-se observar nos olhos da maioria das pessoas quando se menciona a análise técnica.

Resposta: O que é vidrado?

Eu vi essa expressão vidrada quando mencionei tão loucos e exóticos conceitos de mercado, como a simples média móvel ou um nível de suporte / resistência. No que toca às pessoas que estavam no Money Show, eu bem podia estar a dizer que os marcianos aterraram na Terra.

Ainda me espanta, como é que tantas pessoas que estão ativas no mercado, nunca sequer olharam para um gráfico do instrumento que compraram, quanto mais tentar usar alguma forma de conceitos básicos de análise técnica.

Num à parte, enquanto estava a sair da entrada do hotel para ir para o meu quarto, ouvi um técnico de mercado muito conhecido dizer à sua esposa, "Obama vai arruinar este país. Deviam matá-lo!"

Independentemente de que lado da cerca politica se está, esta deve ser uma das coisas mais ignorantes que já ouvi alguém dizer em publico, mesmo se ele pensava que estava sozinho. Só tenho pena de não ter sido rápido o suficiente para me acrescentar à sua lista negra, dizendo enquanto passava:

“E aos promotores dos indicadores de vaidade da caixa-negra que não trabalham há dez anos.”

Robots algorítmicos controlam os mercados. Comerciantes de alta frequência controlam os mercados. A FED controla os mercados. Os Illuminati controlam os mercados. Justin Bieber controla os mercados – bem, pelo menos os canadianos.

Esta gente sucumbiu à conspiração maluca de que os mercados são controlados – no entanto recusam-se a ficar fora deles.

Eles usam as suas teorias como desculpas para a sua falta de sucesso nos mercados, em vez de se adaptarem às maquinações que eles afirmam serem tão óbvias, e então usa-las para fazerem dinheiro.

Admito-o: estas são as pessoas para quem tenho menos paciência. Elas não querem aprender nada de novo sobre os mercados. De fato, elas sentem que já sabem tudo o que há para saber.

Uma mulher perdeu trinta minutos a falar comigo – não, a falar para mim, mais precisamente – sobre o seu comércio. Ela sabia tudo o que há para saber. Eu só podia supor que ela tinha chegado à perfeita negociação e tinha vindo para ao show só para que as pessoas saibam sobre ela.

Quando eu introduzi conceitos como ajustar a sua posição em relação ao seu perfil de risco, ela ou já sabia disso e tinha posto o conceito de parte, ou não sabia nada sobre o assunto e pô-lo logo de parte.

A certa altura, Brian chegou e perguntou-lhe o que tinha pensado sobre o livro de Rolo Tomassi, sobre encontrar fórmulas de comércio lucrativo consistente. Ela respondeu:

“Eu não acho que as coisas dele funcionem muito bem.”

(Nota do editor: Rolo Tomassi é uma banda inglesa de rock marginal).

Eu carreguei as páginas viruais no meu blogue com a ideia de que os media dão uma ferramenta poderosa no que toca a comercio e investimento. Pode não ser para toda a gente, mas se não faz sequer um esforço para se familiarizar com eles e com os seus benefícios, então, na minha opinião, é simplesmente ignorante.

Depois de ter sugerido a um homem que ele se ligasse ao StockTwits, uma das maiores comunidades online de investidores, a sua primeira pergunta foi “quanto custa?”

Expliquei então que era grátis. Só por se ligar, ele podia seguir alguns comerciantes muito bons e ver as suas ideias.

“Oh bem, quanto cobram?”

Mais uma vez, expliquei que era grátis, mas podia ver o cepticismo na sua cara. Acabei por sugerir que lê-se a seleção “best of” no meu blogue, onde discuto mercados numa maneira diferente.

“Ahhhh! Já percebi! Quanto cobra pelo seu blogue?” exclamou como se tivesse descoberto a minha intensão escondida.

“Nada”, respondi.

“Bem, então porque o faz?”

“Sou um pouco estúpido,” respondi (na minha cabeça).

Passei tanto tempo a ligar-me à comunidade de investimentos e comercio que é difícil lembrar-me que independentemente do quão grande e funda é, ainda ocupa apenas o ar rarefeito comparado com o grande público.

Tantos membros desse público puseram as suas cabeças na areia, ou decidiram que a educação financeira é finita, libertando-os da necessidade de continuar a evoluir o seu pensamento. Não admira que sejam cordeirinhos na matança para a indústria de serviços financeiros.

Nunca é tarde para aprender. Algumas das melhores conversas que tive naquele fim-de-semana foram com senhores com idade para serem meus pais, que estavam tão a par dos mercados como qualquer pessoa que eu conheça.

Para o Eric também não foi tarde demais. Aqueles médicos tiveram sucesso nos seus esforços: o Eric foi reanimado uma segunda vez. Ele limpou a sua vida, eventualmente, e mudou-se para França, onde ele vive desde então, agora completo com uma adorável esposa e duas bonitas crianças.