14 Frases que o farão parecer um guru do mercado de ações
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Os analistas dos mercados de ações adoram utilizar frases aparentemente muito profundas mas sem verdadeiro sentido. Descubra que frases são e porque é que não têm significado real.

Se seguir o mercado de ações de forma obsessiva como nós, vai perceber uma coisa rapidamente. Há uma mão cheia de analistas que falam português. Mas a vasta maioria não. Em vez disso, falam uma língua única do negócio dos investimentos. Esta língua consiste em frases de mercado que soam inteligentes mas não querem dizer nada.

As frases não soam como se não tivessem qualquer significado, claro. Pelo contrário, soam como se quisessem dizer muita coisa. Na verdade, fazem o falante soar tão sábio como Warren Buffet (que, para seu crédito, nunca fala desta forma).

A maioria destas frases têm um outro beneficia chave, que é útil no mundo dos investimentos: elas nunca comprometem o orador com nenhuma recomendação ou predição específicas. Por outras palavras, independentemente do que acontecer, o analista pode estar sempre “certo” mas nunca “errado” – porque não disseram nada verdadeiramente.

Por isso, se quer soar inteligente sobre investimentos sem dizer nada significativo, continue a ler.

1. “O dinheiro fácil já foi feito”

Quando utilizar a frase: sempre que o mercado ou ação já tenham subido bastante.

Porque é que soa inteligente: porque sugere uma cautela prudente e sábia. Implica que tenha comprado ou recomendado a ação há muito tempo atrás, antes do dinheiro fácil ter sido feito. Sugere que possa haver uma subida, mas que pode haver um contra no futuro, porque a ação está “em espera para uma correcção” (outra frase que soa inteligente que não tem sentido e que se ouve a toda a hora). Esta não o compromete a nenhuma recomendação ou previsão específica. Protege-o de todos os resultados possíveis: se a ação cair, pode dizer “Como eu disse…” Se a ação subir, pode dizer também “Como eu disse…”

Porque é que não tem significado: é um afirmar do óbvio. É uma descrição do que já aconteceu, não do que irá acontecer. Não requere nenhum tipo de reflexão ou poder de análise. Não lhe diz nada que não saiba já. Além disso, não é verdade: O dinheiro que já foi feito não foi, provavelmente, feito de forma fácil. Comprar ações que estão em crescimento constante é muito mais fácil que comprar ações que o mercado declarou mortas (porque ninguém pensa que será estupido o suficiente para comprar ações que mais ninguém quer).

2. “Estou cautelosamente otimista”

Quando utilizar a frase: em qualquer altura, basicamente.

Porque é que soa inteligente: sugere cautela prudente e sábia, mas também um resultado brilhante, o que a maioria das pessoas gosta. (Ninguém gosta de um urso, especialmente num mercado de touros.) Soa mais razoável que dizer, por exemplo, “A ação está a pedir para ser comprada e só vai subir daqui para a frente.” Protege o orador contra todos os resultados possíveis. Se o mercado cair, o orador pode dizer, “Como sabe, eu fui cauteloso…” Se o mercado crescer, o orador pode dizer, “Como sabe, estava otimista…”

Porque é que não tem significado: é demasiado geral para querer dizer alguma coisa. Pode descrever precisamente qualquer resultado de mercado da história, ajustando apenas a data. (Se fosse “cautelosamente otimista” em 1929, seria apenas “cauteloso”, o que é bom, e também otimista, o que também era bom. O mercado acabou por recuperar!).

3. “É um mercado de ‘escolhedores de ações’”

Quando a utilizar: sugere que o ambiente do mercado agora é diferente de outro ambiente do mercado e por isso requere uma habilidade especial para o navegar. Implica que o orador tem esta habilidade. Indica que, se for talentoso o suficiente para ser um “escolhedor de ações”, pode embolsar dinheiro agora mesmo – enquanto toda a gente deriva e perde as suas camisas.

Porque é que não tem sentido: se escolher ações como emprego (ou à sua conta pessoal), todos os mercados são mercados de “escolhedores de ações”. Em todos os mercados, os traders estão a tentar comprar vencedores e vender os cães, e em todos os mercados, apenas metade destes traders têm sucesso. (uma metade diferente de cada vez, claro – e a maioria dos ganhos dos vencedores são limpos por custos de transacções e impostos, mas essa é outra historia). Não é mais fácil (nem difícil) ganhar o jogo da escolha de ações num mercado plano ou de ursos que num de touros, e se tentar, vai, provavelmente, dar-se pior que se tivesse só comprado um fundo de índice.

4. “Não é um mercado de ações, é um mercado feito de ações”

Quando é utilizada: a qualquer hora.

Porque soa inteligente: soa imensamente profundo – o tipo de sabedoria que só pode ser conseguida através de décadas de trabalho árduo e experiencia. Sugere que o orador percebe o mercado de uma forma que a maioria da escumalha não percebe. Indica que o orador, que compreende que o mercado de ações é um mercado feito de ações, vai ganhar mais dinheiro enquanto a maioria perde a sua camisa.

Porque é que não tem significado: mais uma vez, é uma afirmação do óbvio. Claro que é um mercado feito de ações. Mas também é um mercado de ações. E ver o mercado de ações como um sitio onde se comercializa ações não o ajuda de forma alguma, a não ser na lembrança de que nem todas as ações se movem para cima ou para baixo na mesma quantidade. (Ver “É um mercado de “escolhedores de ações”.)

5. “Somos construtivos no mercado”

Quando a utilizar: a qualquer hora.

Porque é que soa inteligente: soa geralmente otimista, o que toda a gente vai apreciar, mas não o compromete com nenhuma recomendação ou previsão ou espaço de tempo precisos. Nem sequer requer que diga que o mercado vai subir ou descer ou como está a investir ou se acha que mais alguém devia investir. Soa simplesmente otimista, e deixa-lhe bastante margem de manobra se o mercado cair abruptamente.

Porque é que não tem sentido: porque ser otimista de uma forma geral sobre o mercado ou sobre um espaço de tempo não específicos não é diferente de ser otimista sobre a vida durante algum espaço de tempo não específico: a probabilidade é, aconteça o que acontecer, que a vida continue e que o mundo não seja destruído por um asteróide. E, além disso, nem está a dizer que é otimista. Está a dizer que é “construtivo”. O que pode querer dizer qualquer coisa!

6. “As ações estão em baixo na ‘realização de lucros’”

Quando utilizar: em qualquer altura em que tenha de explicar porque é que o mercado (ou uma ação) está em baixo depois de uma boa corrida.

Porque é que soa inteligente: parece que sabe o que os traders profissionais estão a fazer, o que o faz soar inteligente e dentro do assunto. Soa a senso-comum: os traders fizeram muito dinheiro – agora estão a “realizar os lucros”. Não o compromete com nenhuma recomendação ou precição especificas. Se a ação ou o mercado for a baixo outra vez amanhã, ainda pode ter estado correto em relação à “realização de lucros”. Se o mercado subir amanhã, pode explicar que os traders agora estão à procura de “pechinchas” (o corolário).

Porque é que não tem significado: os traders compram e vendem ações por dezenas de razões. E por cada vendedor, em qualquer altura, há um comprador no outro lado da troca. Se o vendedor está a ter lucros – e não há forma de o saber – o comprador está ao mesmo tempo a fazer uma aposta na ação. Por isso, descrever a atividade do mercado coletivamente como “realização de lucros” é ridículo. Qualquer troca, em qualquer altura, em qualquer mercado pode ser descrita como “lucrativa” ou “a cortar uma perda” ou “à pesca de pechinchas” ou a “encher uma posição”, etc. Não há maneira de saber o que se está a passar, e há sempre alguém no outro lado de cada troca. Mas ninguém vai conseguir provar que estava errado!

Corolário: “À pesca de pechinchas.” Pode ser usada para explicar porque é que as ações que caíram recentemente estão agora a subir. Igualmente sem significado.

7. “A tendência é sua amiga”

Quando a utilizar: qualquer altura.

Porque é que o faz soar inteligente: soa enérgico e sábio. Soa como se tivesse seguido o caminho todo (seja ele qual for). Soa calmo e confiante.

Porque é que não tem sentido: as ações têm tendência a moverem-se em varias direcções, como qualquer pessoa pode observar em retrospetiva. Às vezes sobem durante algum tempo. Às vezes baixam. Às vezes vão para os lados. Enfim, saber o que as ações fizeram – a tendência – diz-lhe quase nada sobre o que lhes vai acontecer. Por isso sim, se as ações continuarem a fazer o que têm feito, a tendência será sua amiga. E se elas não o fizerem, essa será uma nova tendência que será sua amiga.

8. “Mais compradores que vendedores”

Quando a utilizar: sempre que tiver de explicar porque é que o mercado (ou uma ação) está em alta.

Porque é que soa inteligente: soa como se soubesse realmente o que se está a passar, o que o faz soar inteligente e sofisticado. Soa como se entendesse como funciona o mercado, numa maneira que Joe Schmo não entende. (Ah… existem mais compradores que vendedores! Fascinante!)

Porque é que não tem sentido: em qualquer troca – cada uma delas – existe exatamente um comprador e exatamente um vendedor. Não pode comprar uma ação sem haver alguém a vendê-la. Por isso, não só não tem qualquer sentido, está errada. O que acontece quando uma ação ou mercado sobe é que o próximo comprador está disposto a pagar mais pela ação ou mercado que o ultimo comprador. O que acontece quando uma ação ou mercado desce é que o próximo comprador não está disposto a pagar tanto quanto o ultimo comprador. Nunca há mais compradores que vendedores, ou mais vendedores que compradores. Há sempre o mesmo número de compradores e de vendedores. Há simplesmente diferentes níveis de preços a que o comprador e o vendedor estão dispostos a fazer transações.

9. “Há muito dinheiro nas linhas paralelas”

Um método clássico de sugerir que o mercado irá subir eventualmente.

Quando utilizar: sempre que precisar de justificar um resultado relacionado com o aumento do preço das ações.

Porque é que soa inteligente: soa a senso-comum: investidores fracotes que guardam o dinheiro em vez de o por no mercado. Quando estes investidores finalmente se decidem e põem o seu dinheiro “no mercado”, o mercado subirá.

Porque é que não tem sentido: não existe “por dinheiro no mercado” ou “sair do mercado”. Em qualquer troca – todas – o vendedor vende ações a um comprador em troca de dinheiro. Importante, com a exceção das ofertas públicas iniciais e outras vendas de ações primárias, o dinheiro usado para comprar ações não vai “para o mercaso”. Vai para o vendedor. Depois da troca, o vendedor tem dinheiro em vez da ação, e o comprador tem uma ação em vez de dinheiro – e nem quantia de dinheiro nem do valor da ação mudou. Em algumas situações, alguns investidores – fundos mútuos, por exemplo – podem ter mais dinheiro que o normal nos seus fundos (por uma variedade de razões), e este dinheiro pode eventualmente ser usado para comprar ações, mas este dinheiro não irá “para o mercado”. Irá para os investidores a que pertence a ação que os fundos mútuos compram. Resumindo, outra vez, o dinheiro não “vai para o mercado”, nem para “fora do mercado”. Alguém o detém sempre o dinheiro ou as ações. Por isso, num sentido literal, o dinheiro está sempre nas linhas paralelas.

10. “Estamos num processo de assentamento”

Uma forma clássica de descrever uma ação ou mercado que caiu muito e possa fazer qualquer coisa daqui para a frente.

Quando utilizar: sempre que não souber o que a ação vai fazer mas quer dar a impressão que pode eventualmente subir, mas protege-se dizendo que também pode descer.

Porque soa inteligente: soa extremamente informado. A ação está “num processo de assentamento”. Está a formar uma “base”. Soa confortante, sem ser muito preciso. Claro, a ação pode descer mais um pouco, como parece estar a dizer, mas geralmente está a instalar-se aqui – e depois então subirá eventualmente. Parece que tem o comando de “análise técnica,” o que soa quase sempre inteligente (e quase sempre sem sentido).

Porque é que não tem sentido: porque descreve um padrão de preços que aconteceu mas não lhe diz nada sobre o que vai acontecer. Uma descida seguida de um movimento lateral não quer dizer que a ação não baixe mais. Também não quer dizer que a ação vá subir. E não o compromete a nenhum espaço de tempo. Pode ser utilizado para descrever qualquer ação que se tenha movido lateralmente durante algum tempo, sem oferecer a mínima previsão do futuro.

11. “Compras a mais”

Outra maneira clássica de descrever uma ação ou mercado que tenham subido muito.

Quando utilizar: sempre que não sabe como se vai comportar uma ação ou mercado, mas queira soar bullish ao mesmo tempo que sugere que a ação possa estar em “espera para uma correcção” (também sem qualquer significado).

Porque é que soa inteligente: soa muito informado. Soa a senso-comum: a ação subiu muito – por isso deve ter tido muitas compras. Protege todos os resultados futuros. (só porque foi comprada em demasia não quer dizer que vá descer. E se tiver ainda mais compras?) Soa como se tivesse o controlo de análises “técnicas” e “quantitativas”, o que soa sempre inteligente – apesar de serem quase sempre desprovidas de significado.

Porque é que não tem significado: o que é que quer dizer “demasiadas compras” na realidade? Quer dizer que os traders compraram demasiadas ações? Como é que podem ter feito isso? A quantidade de ações no mercado não mudou. Quer dizer que os traders pagaram preços demasiado altos pela ação? Ok, talvez isso. Mas quer dizer que a ação vai descer brevemente? Porquê? Em resumo, é uma forma fina e sofisticada de não dizer nada.

12. “Compras baseadas na fraqueza”

Quando utilizar: sempre que não tenha a coragem de dizer “compro” mas quer poder dizer mais tarde, que disse a toda a gente para comprar se a ação subisse.

Porque é que soa inteligente: soa bastante informado. Soa prudente (não seja tolo e ande à caça de ações aqui). Soa a senso-comum. Permite que fique com o crédito de ter previsto qualquer movimento de aumento dos preços das ações, enquanto também lhe permite dizer “Eu disse para comprar na fraqueza” se se espatifar. Cobre todos os resultados.

Porque é que não tem sentido: é demasiado vago para ser interessante ou ajudar. Pode ser aplicado a quase qualquer ação ou mercado em qualquer altura. Revela que o orador tem pouca ou nenhuma convicção no que está a dizer e só se quer precaver.

13. “Espere para ver”

Um favorito perene.

Quando utilizar: sempre que não sabe – ou seja, sempre.

Porque é que soa inteligente: soa prudente e cauteloso. Soa apropriadamente séptico. Joga com o senso do espetador de que, de alguma forma, as coisas são mais incertas agora que o costume. (absurdo – o futuro é sempre incerto.) Soa como se estivesse à espera de algum evento específico que o transformará subitamente em Donald Trump da convicção, em vez de sugerir que é perpetuamente insonso. Mas não especifica qual é esse evento.

Porque é que não tem sentido: não significa nada. Por quanto tempo se espera? Porque é que se espera? Porque é que, quando o que estiver à espera chegar, ninguém mais o vai ver ao mesmo tempo levando os preços a subir ou descer? Porque é que o futuro vai ser menos incerto amanha, ou para a semana, ou para o ano, ou quando acabar o tempo que está a planear esperar para ver? De que está à espera?

14. “É uma ação de ver para crer”

Quando utilizar: sempre que não saiba o que uma ação condenada vai fazer a seguir – especialmente se estiver preocupado que os espectadores possam pensar que foi burro o suficiente para a ter comprado quando ela estoirou.

Porque é que soa inteligente: soa duro, decisivo, e desaprovador. Não vai seguir as ordens da gerência – ao contrário de outros idiotas que explodiram com a ação. Quer ver resultados. Quer que a gerência lhe mostre o que consegue entregar, antes de confiar neles o dinheiro recebido arduamente dos seus clientes.

Porque é que não tem sentido: todas as ações são de “ver para crer”. Se a gerência lhe mostrar que conseguem resultados que batem as expetativas do mercado, as ações geralmente sobem. Se a gerência lhe mostra que estragaram um trimestre, as ações estagnam. Mesmo quando aplicado ao reino limitado das empresas que acabaram de sufocar, se a gerência lhe mostrar que consegue resultados, também vão mostrar a qualquer outra pessoa. As ações vão subir antes de as poder comprar. E então, quando as ações subirem, a gerência mostrar-lhe-á que consegue continuar a fazer melhor. Etc., etc. Quando toda a gente finalmente confiar na gerência o suficiente, outra vez, para comprar a sua visão do futuro, as ações terão subido – e então será altura para a gerência lhe mostrar que estragaram tudo outra vez.

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