A teoria comum (e errada) sobre a Tesla
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Muitos investidores acreditam que a Tesla sobrestimou a procura de carros elétricos, e que a falta de procura foi a razão para o decréscimo de produção em 2014. Quer saber porque é que consideramos essa teoria errada?

É pouco provável que a notícia de que a Tesla (NASDAQ: Tesla Motors [TSLA]) vendeu um recorde de 10.030 carros detenha os seus investidores baixistas. A sua teoria favorita é de que a Tesla sobrestimou a procura de carros elétricos e essa negligência foi a verdadeira culpada para os decréscimos da produção em 2014. Tenho esperança de que a procura pelos carros com motor duplo (dual motor) acabe com esta teoria de uma vez por todas em 2015.

O que alguns investidores não veem

Já escrevi anteriormente sobre o que considero ser a principal atração do Tesla Modelo S: o facto de proporcionar uma experiência de utilizador fundamentalmente melhor do que o tradicional modelo de carros com motor de combustão interna. Não é só por ser silencioso e pela ausência de vibração e emanações tóxicas. A Tesla está basicamente a criar uma interface de utilizador diferente.

Há mais de um século que a interface de utilizador de um automóvel como conjunto de um ou mais pneus, travões e pedais utilizados para controlar o carro basicamente não sofreu nenhuma alteração. Como concessão necessária para a convenção automóvel, os controlos do Modelo S são iguais aos dos outros carros, mas estão preparados para um salto evolutivo – o piloto automático.

Essencialmente, o piloto automático é uma forma diferente de se controlar o veículo. Em vez de se manipular travões mecânicos, os condutores do Tesla vão poder controlar os seus veículos quase como controlam os seus smartphones, com gestos à base do toque e, eventualmente, com a voz.

Mas não há já outros fabricantes de automóveis a desenvolver carros de condução automática? Sim, mas parece-me a mim que a Tesla tem conseguido destacar-se do grupo, em parte devido ao carro ser movido a eletricidade e outra em virtude do veículo estar a ser projetado de raiz como um dispositivo inteligente com atualizações de software como os smartphones.

A totalidade da experiência do Modelo S é tão superior a qualquer outro automóvel da mesma classe de preços que me pergunto sobre o ponto morto económico dos investidores baixistas da Tesla. Faz-me lembrar a reação ao primeiro iPhone da Apple (NASDAQ: Apple [AAPL]). Em 2007, muitos críticos acharam que a falta de um teclado físico era um completo fracasso. A seu ver, isso tornou o dispositivo num mero brinquedo que só iria apelar a uma minoria. Assumiram que depois da corrida desenfreada durante os primeiros tempos de venda dos fãs desmiolados da Apple, obviamente que a procura iria descer.

Estas pessoas estavam completamente alheias à interface de utilizador e à experiência totalmente diferentes e superiores proporcionadas pelo iPhone. Esse tipo de atitudes podem durar anos. Três anos mais tarde, após a chegada do iPhone, a Microsoft (NASDAQ: Microsoft Corporation [MSFT]) criou e comercializou os telemóveis Kin, que eram equipados com teclados QWERTY. Passado um ano o Kin estava acabado.

Existe um alheamento parecido na mente dos investidores baixistas da Tesla. Se calhar é compreensível. Todos crescemos com carros, acostumámo-nos ao barulho, à vibração e à poluição. Esperámos pagar quantias exorbitantes só para nos isolarmos desse barulho, vibração e poluição. E pagamos quantias ainda maiores para não ficarmos isolados dessas coisas se isso significar que podemos desfrutar do desempenho de um “supercarro”.

Com o Modelo S de motor duplo (versão P85D), os condutores poderão possuir sedãs de ruído suave, quase silencioso, combinado com um desempenho aproximado dos carros desportivos extremamente caros.

Proposta de valor

Eu entendo que não se perceba a vantagem da experiência de utilizador. Afinal, é um pouco subjetiva. Algumas pessoas ainda gostam dos seus Blackberrys com teclado. Muitos ainda vão continuar a conduzir os caríssimos V8 de consumo elevado de gasolina mesmo depois dos veículos elétricos terem dominado as estradas.

A vantagem da experiência de utilizador é um pouco confusa e difícil de quantificar. Então, deixe-me tentar colocar a discussão num nível diferente. O Modelo S de motor duplo e o Modelo X de motor duplo que será lançado mais tarde neste ano vão apresentar aos consumidores de automóveis uma proposta de valor imbatível. Simplesmente não existe atualmente nenhum automóvel de motor de combustão interna ou híbrido em produção da mesma classe de preços do Modelo S P85D capaz do seu elevado desempenho.

A aceleração do P85D só é igualada ou ultrapassada por veículos exóticos, como os McLaren 570S, cujo valor inicial é de $185.000. Claro, o McLaren bate o Tesla em termos de velocidade máxima (205 mph vs. 155 mph do P85D), mas também o Modelo S é um sedã, além de que tem espaço para cinco pessoas, mais bagagem. Mais importante ainda, o Modelo S de motor duplo tem, provavelmente, o melhor sistema de tração integral do mundo, capaz de controlar o torque das rodas motrizes, com uma precisão eletrónica que nenhum outro sistema mecânico consegue igualar.

A um valor de cerca de $120.000 com a maioria das opções verificadas, incluindo o piloto automático, o P85D é uma pechincha comparado com qualquer outra coisa igualmente rápida. Se o preço e o desempenho do P85D significam alguma coisa, o Modelo X será um SUV fenomenal que vai envergonhar o desempenho de outros SUVs como, por exemplo, o Porsche Cayenne Turbo.

Crescimento

A produção do Modelo S de motor duplo foi provavelmente muito limitada para fomentar as vendas durante o primeiro trimestre, mas estou muito interessado em ver o impacto, se é que houve algum, das vendas do motor duplo quando forem lançados os relatórios de vendas do primeiro trimestre da Tesla. Acredito que o impacto será muito maior nos próximos trimestres quando o motor duplo se tornar uma percentagem maior da mistura do Modelo S. O Modelo X irá impulsionar novamente as vendas quando estas começarem já nos finais do terceiro trimestre ou início do quarto.

Com a proposição de valor inerentemente atrativa dos veículos de motor duplo da Tesla, espero que a procura exceda a oferta ao longo de 2015. Os investidores baixistas questionaram a habilidade da Tesla em vender 55.000 veículos em 2015. Acredito que a Tesla vai ser capaz de vender todos os carros que produzir. Assim sendo, a pergunta é: será que a Tesla consegue produzir carros de motor duplo suficientes para satisfazer a procura? Espero que no final de 2015 os carros de motor duplo consigam representar a maior parte das vendas da Tesla.

Os carros de motor duplo poderiam ajudar na rentabilidade, que é a minha única ressalva acerca da Tesla como investidor. O S de motor duplo é, de algum modo, um pouco subvalorizado em relação às suas capacidades. Os Tesla de motores duplos poderiam originar margens brutas maiores, e os investidores deviam estar atentos às suas melhorias e ao aumento dos preços médios de venda uma vez que os Tesla de motores duplos reagem mais favoravelmente à mistura de produtos. Tal desenvolvimento seria um bom sinal para a rentabilidade da Tesla crescer.

Entre a experiência de utilizador inerentemente superior oferecida pelos carros da Tesla e a exclusividade da capacidade dos motores duplos, não acredito que a Tesla vá sofrer perdas, mas se vai ou não continuar a publicar perdas de princípios contabilísticos geralmente aceites é outra questão. Eu apoio fortemente a visão de Elon Musk de um futuro com veículos movidos a eletricidade sustentável em termos ambientais, mas tenho receio de que a Tesla esteja a pôr esse futuro em risco por causa das suas perdas contínuas.

Acredito que a Tesla tem um maior poder de fixação de preços do que aquele que tem querido utilizar até agora, no entanto, os S e X de motor duplo poderão permitir à Tesla melhorar a margem bruta sem ter de se aventurar no território dos preços dos supercarros. Contudo, não estou otimista em relação às margens operacionais de 2015. Os custos de produção da Gigafactory mais o aumento da produção do Modelo X irão provavelmente significar que os custos operacionais vão superar os rendimentos até que o Modelo X esteja em velocidade máxima de produção.

A Tesla é uma empresa fabricante de automóveis relativamente nova e os investidores baixistas têm sido particularmente imperdoáveis em relação aos seus atrasos de produção. O aumento de produção do Modelo X muito provavelmente também vai ter problemas, mas isso também é de se esperar. Com o Modelo S e o Modelo X em plena produção, 2016 parece vir a ser um ano melhor em termos de rentabilidade, especialmente se Musk mudar de ideias e começar a cobrar os seus carros a um valor mais aproximado daquele que o mercado consegue suportar.

Fonte: Seeking Alpha

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