Quando rebentará a bolha chinesa
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Já não se coloca a questão se o crescimento do mercado de ações da China é ou não uma bolha, mas antes quando é que essa bolha vai rebentar.

Temos bolha. É essa a conclusão de um crescente número de analistas, à medida que as avaliações sobem para níveis que de certa forma até já excederam o pico da última bolha chinesa, em 2007.

          Na passada terça\-feira a Bocom International Holdings Co afirmou que o colapso do mercado poderá ocorrer durante os próximos seis meses, citando uma análise global de bolhas durante mais de 800 anos, que demonstra que a velocidade dos ganhos na China equipara\-se a outros picos de mercado. A Macquarie Investment Management, cujo fundo de ações asiático está a ter um desempenho em 2015 superior a 97% dos seus pares, já eliminou a sua exposição às ações chinesas, após ter concluído, pela primeira vez em sete anos, que estas iriam cair. De acordo com a CLSA Ltd, o governo pode vir a programar uma correção, caso as avaliações continuem a subir muito mais.

          “Provavelmente, vamos passar por um período de transações muito volátil, antes do colapso eventualmente acontecer”, afirmou à Bloomberg o estratega da Bocom International para o mercado chinês, Hao Hong. “É claro que a China está numa bolha”, considera o especialista.

          Alimentada por uma margem de dívida recorde e um número sem precedentes de investidores novatos, a capitalização do mercado chinês triplicou durante o ano que passou, chegando aos 9,8 biliões de dólares. Com ganhos previstos 84 vezes superiores, a ação média no território chinês custa quase duas vezes mais em comparação com os preços durante o pico do Shanghai Composite Index em outubro de 2007\.

O maior palerma

Num sinal de quão depressa o sentimento dos investidores pode mudar, a bolsa de Xangai caiu 5,4% ao longo dos últimos dois dias, após fechar, a 12 de junho, num valor recorde dos últimos sete anos. O índice subiu 1,65% na quarta-feira, aumentando os seus ganhos a 12 meses para 140%.

          A combinação de uma mudança súbita e dos velozes ganhos de preço nas ações de classe A, numa China dominada pelo yuan, sugere que o pico do mercado está próximo, à medida que os traders continuam a testar se “o maior palerma” vai entrar em ação para comprar, afirma Hong. O especialista estima que a Shanghai Composite poderia subir até aos 6100, contra o fecho de quarta\-feira a 4967,9, antes de começar a cair.

          O valor médio das transações de ações a 20 dias no território chinês continental saltou para cerca de 314 mil milhões de dólares, contra os 244 mil milhões nos Estados Unidos, que tem um mercado de capitalização com o dobro do tamanho, segundo os dados recolhidos pela Bloomberg.

          “Se olharmos para o mercado de ações de classe A, vemos que se está a tornar muito especulativo”, considera Sam Le Cornu, especialista da Macquarie em Hong Kong que supervisiona cerca de 3 mil milhões de dólares em equidades asiáticas. “Essa é a raiz de maior preocupação quando temos bolhas”, afirma.

Demasiado pessimista

Alguns segmentos do mercado chinês estão demasiado esticados, mas, para Miranda Carr, responsável do departamento de pesquisa chinesa do Espirito Santo Investment Bank, de um modo geral as avaliações não são suficientemente elevadas para garantir um colapso.

          A Shanghai Composite, que tem cerca metade do seu peso em empresas financeiras e industriais, está avaliada num valor 18 vezes superior aos seus ganhos projetados. Isto compara\-se ao índice ChiNext, que é dominado por ações de tecnologia e tem um múltiplo de 65 vezes.

          “A ideia de que isto vai subitamente chegar a um pico e rebentar, e de que vamos ter esta espécie de colapso catastrófico, e de que vai ser o fim de tudo — isso é demasiado pessimista”, afirma Carr. “O que vamos ver é uma correção em algumas das áreas realmente sobrevalorizadas”, considera a especialista.

Sinais da bolha

Os reguladores chineses veem este rácio de 20 para os preços-ganhos a 12 meses como um sinal da sobreavaliação para o mercado global, escreveu Francis Cheung, um estratega da CLSA em Hong Kong, num relatório intitulado “Bubble trouble”. Se as ações continuarem a aumentar, escreve Cheug, o governo vai provavelmente implementar um imposto sobre a compra de ações.

          Para Pau Morilla\-Giner, o chefe do gabinete de investimento do London & Capital Group Ltd., os mercados da China continental tornaram\-se demasiado especulativos para os gestores internacionais. As variações no índice de Xangai durante os últimos 30 dias são maiores que em qualquer outro mercado do mundo exceto o grego, de acordo com os dados recolhidos pela Bloomberg.

          “Cheira como uma bolha, parece uma bolha e caminha como uma bolha”, afirma Pau Morilla\-Giner. “Fiquem longe, é o melhor a fazer”, aconselha.
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