Qualquer discussão relacionada com o ouro tem tendência para despertar o lado emocional dos investidores. Mas aqui apresentamos-lhe uma análise sóbria sobre o investimento no metal precioso.
Para alguns, o ouro é uma reserva de valor que vai suportar o teste do tempo – e, para dizer a verdade, é o único local onde o seu dinheiro está a salvo do governo, zombies, ou zombies criados pelo governo.
Para outros, o ouro é um brinquedo idiota. Para essas pessoas, os investidores do ouro ou são delirantes ou ignorantes, ou ambos.
Relativamente ao ouro, tento ser agnóstico. Eu vejo o metal precioso como algo a ser comprado e vendido de acordo com as forças do mercado atuais. Em nenhum mercado os compradores e vendedores agem de uma forma totalmente racional em relação a qualquer ativo, quer seja ouro, quer seja uma ação tecnológica qualquer sem lucro que esteja a ser vendida a 12 vezes o seu real valor.
Por fim, o ouro é um “bom” investimento baseado simplesmente no facto de que se faz dinheiro com o negócio e de como se compara com a alternativa.
Assim, tendo em conta a atual volatilidade do mercado e a recente corrente favorável do metal precioso, é natural que surjam dúvidas sobre se vale a pena prestar atenção ao ouro ou não.
O facto é que as forças do mercado decididamente ainda se encontram contra o ouro – e o famoso investimento “porto seguro” pode ser na verdade mais arriscado atualmente do que possuir ações.
As forças por detrás do ouro
Honestamente falando, o ouro tem sido recentemente um bom swing trade. Depois de uma queda que cerca de $1.074 por onça em julho, os preços tiveram um aumento de quase $1.100, conseguindo uma recuperação de aproximadamente 6%. Na mesma altura, as ações perderam quase 8% do seu valor, com a Dow a passar o seu pior mês de agosto em 17 anos.
Assim, em comparação com as ações, as recuperações do ouro parecem rejubilar. Contudo, olhe melhor para as recentes correntes a favor do ouro e desvenda por que motivo o metal precioso teve uma recuperação. Resumidamente, existem três motivos:
1. Atração como alternativa
Tendo em conta o estado agitado em que se encontram os mercados dos E.U.A., e o estado ainda pior no qual se encontram os da China, com tanto cenário “mais pessimista”, é fácil perceber a atual atração pelo ouro. O índice Shanghai Composite acabou de sofrer a sua terceira queda consecutiva em agosto, com uma queda de 12,5% nesse mês.
2. Incertezas em relação ao Banco de Reserva Federal
Ao mesmo tempo, a fraqueza da China também pôs em causa a capacidade do Banco de Reserva Federal aumentar este mês as principais taxas de juros. Se o tão esperado relatório da taxa de desemprego de sexta-feira não impressionar os dirigentes, o Banco de Reserva Federal poderá ter um mau bocado a tentar justificar as taxas elevadas – e num ambiente em que as ações estão voláteis e os ativos que rendem juros como por exemplo as obrigações de grau de investimento continuam a gerar rendimentos anémicos, o ouro vai continuar a ser visto como uma alternativa.
3. Esperança por uma descida
Para além da procura de um porto seguro do qual o ouro desfruta, vários relatórios recentes publicados pela Índia previram um surto de procura de joias de quase 70% durante a época festiva do país. Tal como acontece com todos os produtos, assim que o ouro tiver uma queda íngreme o suficiente nos preços, verá igualmente um pico na procura, já que as pessoas vão pensar que estão a conseguir uma verdadeira pechincha.
Tendo em conta os desequilíbrios que se veem por todo o lado e os sinais positivos por parte do ouro, são compreensíveis as recentes compras do metal.
Porque é que a onda não vai durar muito
À primeira vista, tudo parece apontar para que o ouro tenha uma tendência altista. No entanto, se olhar atentamente, estas “boas notícias” não são aquilo que parecem.
Por exemplo, a história da China, por acaso, é péssima para o ouro. A volatilidade nos títulos chineses é um sintoma de que estão em causa questões mais complexas. Observe por exemplo esta manchete do New York Times: “Os maiores despesistas chineses abrandam com o estremecimento da bolsa de valores”. Essa diminuição de procura por joias de ouro e de investimento na China em geral compensa qualquer ganho para o metal precioso como ativo alternativo nas carteiras ocidentais. Além disso, é impossível ver qualquer abrandamento na China como um impacto positivo.
Tendo em conta a contínua desvalorização do yuan chinês, vários investidores ocidentais sentem-se preocupados com os riscos de deflação globais, levando até a que um economista da Societe General alertasse para o facto de que poderia ocorrer uma “onda gigante” de deflação, caso a China e as economias da Ásia a ela relacionadas continuarem a sofrer.
As taxas de inflação baixas ou negativas aliadas a um dólar norte-americano em constante fortalecimento foram o que conduziu à sua atual descida de 40% relativamente às suas subidas de 2011, por isso, é uma atitude um pouco tola pensar que a persistência desses fatores apoiam ainda mais o ouro.
E antes que fique demasiado esperançoso em relação à explosão de procura ocorrida na Índia ou noutro lugar qualquer: tenha em consideração que no segundo trimestre, a procura por ouro caiu 12% em todo o mundo – incluindo um feio declínio de 25% na Índia. E segundo um relatório publicado em julho pelo GFMS, a procura por ouro está no seu ponto mais baixo desde 2009. Assim sendo, qualquer aumento nos preços do ouro deve ser visto neste contexto de abrandamento da procura mais amplo.
A cereja em cima do bolo está no facto de os gráficos continuarem a apoiar o ouro nos valores que rondam os $950 e os $1.000, com o metal precioso muito abaixo da sua média móvel de 200 dias e cerca de 11% abaixo dos valores que apresentava em janeiro. Embora as últimas semanas tenham sido uma raridade, é importante salientar que ainda em janeiro o ouro estava flertar com $1.300 a onça e ainda se encontra numa tendência para baixar de longo prazo.
Não sei qual será o futuro da bolsa de valores, e não é irrealista esperar mais declínios nos principais índices de todo o mundo. Todavia, tendo em conta as enormes forças a seguir contra o ouro, simplesmente não acho que o metal precioso tenha alguma coisa para oferecer aos investidores.
Se quer arriscar, fique-se pelas ações – de preferência aquelas que tenham pouca exposição na Ásia e um registo de crescimento decente. Se não quer correr esse risco, considere investir em obrigações de curto prazo ou em ações com características de obrigações.
Mas o ouro? Francamente, não compreendo por que motivo se pensa que vale a pena correr esse risco, dada a tendência baixista que está a enfrentar atualmente.