Investir como Carl Icahn
AP Photo/Mark Lennihan
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Saiba como adotar uma atitude ativista de investimento semelhante à do fundador da Icahn Enterprises.

Alguns dirão que o mercado de hoje se tornou demasiado eficiente. Com o advento de programas de trading para computador, plataformas que permitem pesquisas profundas e equipas de analistas a acompanhar, constantemente, todos os dados o pequeno investidor poderá sentir-se desarmado. A fim de combater estes desafios os grandes investidores em fundos de cobertura poderão tentar forçar as empresas a desbloquear valor ao comprarem grandes blocos de ações. Com investidores como Bill Ackman, Carl Icahn e Daniel Loeb por aí, seria muito fácil para um indivíduo se manter com fundos mútuos de índice. Dito isto, há uma forma de os pequenos investidores se unirem e lutarem.

Sob pressão

Um investidor ativista é descrito como aquele que utiliza a participação, como acionista, numa empresa para colocar pressão pública sobre a sua gestão. Existem, normalmente, duas razões pelas quais um ativista assume uma posição numa empresa. A primeira passa pela tentativa de aumentar o valor do acionista. A segunda passa pela tentativa de levar a empresa a fazer alterações às suas políticas por razões ambientais ou políticas.

Independentemente do motivo que conduz o envolvimento do ativista existe um cronograma típico que os investidores podem seguir. Em primeiro lugar, o ativista irá identificar uma empresa experiente que possa sofrer melhorias e irá adquirir uma participação significativa na mesma. A empresa ou indivíduo deverá apresentar um 13D (formulário exigido nos EUA) para apresentar a aquisição de 5% ou mais das ações em circulação. Em segundo lugar, o ativista irá explicar, através dos media sociais ou dos media tradicionais, porque é que adquiriu a sua participação e o que espera realizar.

Se o objetivo passar pelo aumento do valor do acionista poderão ser sugeridas as seguintes medidas – venda de divisões de baixo desempenho, aumento da recompra de ações ou dividendos ou substituição de membros do conselho. Em terceiro lugar, o ativista irá invocar os demais acionistas a juntarem-se à sua causa, tentando colocar pressão sobre a gestão.

Esta terceira fase poderá ser de curta duração, ou prolongada, consoante a extensão das exigências e a resposta da empresa. A fase final poderá ser o cumprimento, por parte da empresa, das exigências do ativista ou a saída da sua posição, por parte do ativista. Por vezes ocorrem ambas as situações em simultâneo.

Ativando valor

São diversos os desafios que os pequenos investidores encaram se pretendem replicar o que os investidores ativistas conseguem alcançar. Mesmo com estas questões os investidores são geralmente recompensados por seguirem o caminho ativista. O estudo de 2.000 “intervenções”, entre 1994 e 2007, constatou que as ações tendem a subir cerca de 6% no primeiro ano depois do envolvimento de ativistas. Este estudo concluiu também que as ações continuam a superar-se após o envolvimento inicial.

Dois estudos de caso recentes relacionam-se com o famoso ativista Carl Icahn. Em fevereiro de 2014 Icahn enviou uma carta aos acionistas do eBay (NASDAQ: EBAY) detalhando várias questões quanto ao conselho da empresa e potencial perda de valor. Um dos principais objetivos da compra de ações do eBay, por parte de Icahn, passou por tentar pressionar a empresa a separar o eBay Marketplaces do PayPal (NASDAQ: PYPL). Depois de dois meses a travar esta luta com a empresa Icahn teve a oportunidade de selecionar um diretor independente para o conselho do eBay. Num movimento mais do que irónico, cerca de cinco meses depois o eBay anunciou que iria separar as suas empresas Marketplaces e PayPal em duas empresas de capital aberto. Outro exemplo: Icahn adquiriu uma participação no Netflix (NASDAQ: NFLX), em 2012, tornando a empresa um alvo para aquisição por parte de um investidor maior. Considerou que empresas como a Microsoft, Verizon ou mesmo Amazon iriam beneficiar com a aquisição da empresa líder de vídeo online em tempo real.

Reed Hastings, CEO da Netflix

O preço de compra de Icahn foi de 58 dólares por ação e a sua apreciação da empresa chamou a atenção de outros investidores. Em apenas 14 meses, as ações subiram mais de 450%. Icahn avançou, recentemente, que terá vendido o Netflix demasiado cedo. O facto de as ações terem mais de duplicado novamente desde a venda sugerem que estava certo.

Mas há casos contrários. Pode-se ver um exemplo no caso de Ekman que em dezembro de 2012 anunciou que estudou por muito tempo o negócio da Herbalife e chegou à conclusão de que era uma “mera pirâmide financeira na história”. Depois desta declaração as ações da empresa caíram 21% em dois dias.

Os ativistas estão no centro das atenções

Recentemente, o The Wall Street Journal analisou 71 casos de interação de ativistas com as empresas de capitalização de 5 mil milhões de dólares a partir de 2009. O que foi analisado era a mudança do lucro, margem, despesas corporativas, efetividade dos empregados e lucros dos acionistas. Os resultados confirmaram a opinião pública: o melhor que uma empresa pode fazer numa situação destas é não aceitar todas as exigências dos ativistas, e pelo contrário analisar cuidadosamente cada exigência, segundo a agência russa Vedomosti.

De acordo com a pesquisa, as ações das grandes empresas que foram alvo de “ataques” de investidores ativistas na maioria das vezes apresentam resultados melhores do que o mercado. Mas a diferença não é grande - são cerca de 5 pontos percentuais. O lucro de tais empresas cresce um pouco mais devagar do que em média no ramo, mas a rentabilidade é muito mais alta.

Quanto à influência a longo prazo dos investidores ativistas na economia, não há uma opinião unânime. Laurence Fink, o CEO da BlackRock, afirmou que os ativistas prejudicam a economia porque faz com que as empresas sejam focadas em obter lucros no curto prazo. A candidata à Presidência Hillary Clinton promete realizar uma reforma fiscal para regular a atividade dos investidores ativistas, mas admite que graças a eles, a gestão comporta-se de uma forma mais responsável.

Homem de confinça

Nas 38 empresas com os resultados melhores que os do mercado, havia 28 ativistas na diretoria, segundo os dados do Wall Street Journal. Entre aqueles que lutam pelo lugar no conselho de diretores estão o mencionado acima Carl Icahn, e os fundos ativistas ValueAct Capital Management, Trian Fund Management e Relational Investors. Sete projetos do ValueAct de Jeff Ubben apresentaram os resultados melhores que os do mercado, e em cada um destes sete fundos tinha um representante na diretoria.

Mas o representante ativista na diretoria não é a garantia de que as ações da empresa cresçam. 16 das 40 empresas, cujos ativistas tinha um lugar na diretoria, mostraram resultados piores que no mercado em geral.

A pesquisa do WSJ mostra que a exigência de comprar todas as ações no mercado que é considerada algo habitual entre os investidores-ativistas, hoje não é tão usada: tal sucedeu apenas em 25 dos 71 casos. Para interagir bem com uma empresa grande, os ativistas têm de utilizar táticas mais sofisticadas.

Inimigos dos gerentes gerais

Os empregados de altos cargos das grandes empresas têm as suas próprias razões para não gostar muito dos ativistas. Carl Icahn prefere chamar aos diretores gerais “idiotas” e frequentemente faz piadas sobre os mesmos no Twitter.

Claro que ao tratar de um fluxo gigante de dinheiro, os ativistas às vezes exageram, prejudicando a empresa por engano ou até mesmo por infração da lei. Porém, apesar disso, eles podem ser uma boa influência.

No mercado há muitas empresas que sofrem de uma má gestão. Os acionistas das empresas da Europa e da Ásia acham que não precisam de investidores-ativistas. Eles consideram Carl Icahn e companhia “uma solução norte-americana para um problema norte-americano”. Além disso, não nos devemos esquecer das diferenças culturais: os investidores-ativistas normalmente comportam-se de uma maneira mais diplomática do que os seus colegas nos EUA.

No entanto, o mercado de ações de qualquer país pode ter empresas ineficientes, chefes incompetentes e capital dormente. A revolta dos investidores-ativistas ajuda a que as empresas de capital aberto se tornem mais eficientes e lucrativas.

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