O ano de mudança do poderoso yuan
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2015 foi um ano muito significativo para a moeda da China. Compreenda a importância do que aconteceu e saiba o que pode ainda vir a acontecer.

Observando em retrospetiva, o desempenho do mercado de ações de Xangai em 2015 pode parecer bastante tranquilizante, com uma subida de 13% apesar do susto do verão.

Mas a grande história do último ano não são as ações chinesas mas a evolução do yuan e o influxo de dinheiro na China.

Isto é significativo porque o governo chinês encontra-se agora num novo território, tentando manobrar uma queda controlada da moeda enquanto também tenta estancar uma fuga massiva de capitais. Se as autoridades perderem o controlo os investidores terão de lidar com um ajustamento muito maior da moeda da segunda maior economia do mundo.

11 de agosto foi o ponto de viragem, quando o governo surpreendeu os mercados ao inesperadamente definir a taxa de câmbio para menos 1,9% e prometeu um regime de câmbio mais conduzido pelo mercado. No princípio de dezembro foi anunciado que o valor do yuan seria baseado num índice de várias moedas.

De acordo com a Daiwa Research, tal consiste numa luz verde para que o yuan continue a cair face ao dólar.

Mas mesmo assim, com o yuan apenas um pouco mais do que 4% mais fraco face ao dólar ao longo do ano, não parece ser uma razão que motive preocupação.

Mas para ver porque é que esta mudança é tão significativa, apenas precisamos de reparar o quão longe as expectativas do mercado e a política de Pequim se moveram no passado ano.

Há 12 meses atrás uma desvalorização do poderoso yuan era raramente discutida, ou mesmo no radar da maioria dos analistas.

A força desta convicção foi parcialmente baseada em ver a China a acumular décadas de excedentes comerciais. De facto, o tamanho das descomunais reservas de divisas estrangeiras da China era habitualmente usado para argumentar que o yuan estava subvalorizado.

Além disso, um yuan forte era um pilar da política de Pequim, com o consenso de que estava de acordo com os interesses do país. Porém, enquanto isso foi o que Pequim queria – com o seu regime de câmbio controlado – foi isso que a China teve.

Mas há medida que o ano foi passando, os líderes chineses tiveram que se confrontar com um novo problema de fuga de capitais. Se o capital era em última análise o árbitro das perspetivas e desempenho económicos do país, então estava a dar um voto de não confiança.

Para complicar ainda mais as coisas, o governo do país também se viu constrangido pela “trindade impossível”, em que um governo com objetivos de taxa de câmbio, taxa de juro assim como liberdade de fluxo de capitais pode controlar apenas dois fatores – não todos os três – em simultâneo.

As autoridades cortaram as taxas de juro repetidamente ao longo de 2015, as fugas de capitais intensificaram assim como os custos.

Até agora este ano a China já utilizou cerca de meio bilião de dólares para intervir no mercado de câmbios para apoiar o yuan. Enquanto isto ainda deixa cerca de $3,4 biliões em reservas estrangeiras, tal nível de intervenção é normalmente encarado como sendo insustentável – não apenas por fazer esgotar as reservas mas também por contrair a base monetária interna numa altura em que a economia precisa de estímulo.

Alguns criticaram esta movimentação em agosto de modo a sinalizar um distanciamento da anexação de facto ao dólar, pois só encorajava mais fuga de capitais com a expectativa que o yuan continuasse a cair.

Mas as autoridades podem apontar para algum sucesso, pois este aviso inicial ajudou o setor corporativo chinês.

Ao mesmo tempo o mercado de obrigações do país reabriu depois de uma pausa de seis anos, o que ajudou a que as empresas reduzissem riscos potenciais de dívida estrangeira e não correspondência de divisas.

O financiamento passou a ser interno a um ritmo recorde de emissão de obrigações de 312,8 mil milhões de yuans este ano, de acordo com a Dealogic.

Assim como em limitar o risco de não correspondência de dívida, em novembro o governo chinês também tivesse sucesso em incluir o yuan no cabaz de divisas de reserva do FMI. Tal foi muito celebrado pois tal deveria ajudar o yuan a atrair a procura de bancos centrais.

Porém, perversamente, no curto prazo pode levar a ainda mais fraqueza. Agora que a moeda chinesa já está no cabaz, manter o valor do yuan poderá ser uma prioridade menor para o governo.

Entretanto, para um futuro próximo os analistas avisam da eventualidade de uma série de riscos do novo caminho não testado para o yuan.

Os analistas da Societé Generale reparam que tal poderá iniciar uma nova ronda de guerra de divisas, ou diretamente ou através de outro país tentado nivelar a sua moeda com a depreciação do yuan. A posição de manufaturas dominante da China faz com que uma retaliação da desvalorização da sua moeda seja altamente provável.

Além de que temos também os riscos de que o caminho da desvalorização ordenada advenha da fatiga da intervenção em caso de queda prolongada de divisas estrangeiras.

O outro risco é de que o banco central do país pode simplesmente achar que é altura de mudança e apressar a movimentação para que o yuan se torne uma moeda livremente negociável.

Em última análise, muito se trata apenas de adivinhar quais são as prioridades políticas do governo chinês à medida que tenta conduzir o país através de desafios de dívida e crescimento.

A maioria dos analistas iriam por a proteção do setor imobiliário no topo da lista, dado a sua importância sistemática para os bancos e para estabilidade financeira num tudo.

Se for necessário escolher entre a moeda e o estímulo para prevenir a queda dos preços das propriedades, pode esperar que seja o yuan a sofrer.

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