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Este ciclo de artigos do doutorado em Física e Matemática Viktor Argonov destina-se aos investidores preguiçosos, e aos muito preguiçosos, que querem fazer um investimento simples, porém lucrativo. Um investimento que possa trazer lucros no longo prazo sem necessidade de revender ativos. Vamos discutir o quão bons são, para isto, os fundos que acompanham os índices das bolsas de valores, tais como o S&P 500: fundos gerais e fundos setoriais, bem como fundos "growth" e fundos "value". Também vamos dar dicas para que reúna uma carteira de ações lucrativa desde o início. Vamos mostrar como os métodos mais simples podem trazer lucros de cerca de 11% ao ano – e como os mais avançados podem gerar lucros a partir de 15%.

Especuladores e investidores de longo prazo

O mercado de ações conta com muitos métodos para ganhar dinheiro e os profissionais tentam utilizá-los a todos. Aplicam a análise técnica e fundamental, leem notícias e pesquisam sobre as empresas (quanto à sua atratividade para investimento). Revendem algumas ações várias vezes por dia e mantêm outras por muito tempo, como fonte de dividendos.

Contudo, nem todos os traders se tornam profissionais. A maioria limita a sua atividade a tarefas que dominam (devido ao seu caráter ou à educação que receberam). Geralmente, os traders comuns pertencem a uma de duas categorias: os “especuladores” e os “investidores de longo prazo”.

  • Os especuladores recebem lucro com a revenda de ativos e negoceiam com oscilações de preços por, no máximo, um mês. Para tal utilizam métodos de análise técnica. Boa parte destes traders são jovens programadores sem educação económica. Não se querem aprofundar quanto ao funcionamento das empresas. Para estes, é mais fácil prever o próximo movimento de uma cotação com base nos gráficos.
  • Os investidores de longo prazo recebem lucro com dividendos e raras revendas de ativos por um ano ou mais. Para estes investidores a análise técnica não importa tanto, no entanto precisam de saber em que empresas investir e porque é que estas empresas são boas. Uma parte significativa dos investidores de longo prazo são representantes da classe média, não são programadores nem economistas, que querem investir dinheiro de forma lucrativa.

Neste ciclo de artigos vamos falar sobre os investidores de longo prazo e sobre os métodos que permitem a qualquer pessoa realizar investimentos com lucros significativamente maiores que os dos melhores depósitos bancários.

Índices comuns: mais ou menos lucrativos e conservadores

Imagine uma situação simples. Um novato entra no mercado: não entende nada de economia, nem de programação, porém dispõe de algum dinheiro – que quer investir bem. Quer investi-lo de forma muito fácil – de preferência, comprar um instrumento "perfeito" e contar com o crescimento das suas cotações e/ou dividendos. O que podemos sugerir?

Comprar uma ação de uma empresa, mesmo que seja bem-sucedida, é um grande risco. Mais cedo ou mais tarde, a empresa pode entrar em crise. É mais seguro comprar muitas ações ao mesmo tempo e diversificar os investimentos. No entanto, o nosso cliente não quer ter "muito trabalho". Por isso, a solução mais fácil passa por comprar ações de um ETF (Exchange Traded Funds, fundos de investimento negociados na bolsa como as ações) que acompanhe um dos índices das mais populares bolsas de valores. É quase a mesma coisa que comprar muitas ações ao mesmo tempo. Trata-se de um investimento bastante lucrativo e seguro.

Vamos ver o que são os índices das bolsas de valores e os ETF que os acompanham.

O índice de uma bolsa de valores é um valor estatístico calculado com base nos preços das ações de um certo conjunto de empresas (cesta de índices). Os índices mais famosos são o Dow Jones e o S&P 500. O Dow Jones apresenta o preço médio das ações das 30 maiores empresas dos Estados Unidos, enquanto o S&P 500 abrange as 500 maiores empresas. Com o tempo, o valor do índice muda, bem como o preço da carteira que inclui todas as ações da cesta.

Movimentos do índice Dow Jones ao longo de 40 anos
Movimentos do índice S&P 500 ao longo de 40 anos

Como podemos ver nos gráficos, os índices crescem bem no longo prazo, superando bastante a inflação. Se comprarmos todas as ações da cesta, teremos um bom lucro. Porém, é difícil comprar todas as ações. É mais conveniente comprar o ETF que as acompanha.

O ETF que acompanha as ações é um fundo que investe todo o dinheiro em todas as ações da cesta de um certo índice. É, na sua essência, uma carteira pronta com todas as suas ações.

Os ETF mais conhecidos são o DIA (que investe em todas as ações do Dow Jones) e o SPY (que investe em todas as ações do S&P 500). Se comprarmos uma ação deste fundo, com o tempo o preço da ação vai mudar da mesma forma que o valor do índice acompanhado. Além disso, o investidor irá receber dividendos do ETF (proporcionais aos dividendos de toda a cesta).

Vamos avaliar este investimento mais detalhadamente.

O lucro médio anual da carteira de todas as ações do índice S&P 500 (ou seja, ETF SPY) em diferentes períodos de cinco anos (tendo em conta o crescimento das cotações e dos dividendos)

Como se pode ver no gráfico, investir no índice S&P 500 (no ETF SPY que o acompanha) nos anos 1970 e 2000 não era muito lucrativo. Porém, nos seus melhores períodos o lucro de 10-15% superou a inflação. O lucro médio é de 11%. É um ótimo lucro, que supera os depósitos bancários e é comparável ao lucro do setor imobiliário.

Então, se um investidor for extremamente preguiçoso e não quiser aprofundar o seu conhecimento, existe uma boa solução: investir nos fundos SPY ou DIA.

Esta solução convém apenas aos investidores de longo prazo verdadeiramente conservadores. Caso uma pessoa queira ganhar muito em 2 ou 3 anos, poderá não ser conveniente pois poderá atravessar um período não lucrativo.

Existirão ETF mais lucrativos e estáveis do que o SPY e o DIA?

O problema com os índices mais populares, como o Dow Jones e o S&P 500, é que os mesmos incluem as maiores empresas que constam em determinadas bolsas de valores (por exemplo, a Bolsa de Valores de Nova Iorque ou o NASDAQ). O valor da empresa é importante para a sua credibilidade, porém não garante que a rentabilidade seja grande.

Em geral, estes índices selecionam empresas de acordo com a sua representatividade no mercado. O S&P 500 abrange mais de metade de todo o mercado de ações e índices maiores, como o Russell 3000 (que envolve 3.000 grandes empresas), abrangem a sua esmagadora maioria. Será que um investidor precisa de todo o mercado? Não, precisa apenas das melhores empresas.

Há muito que os economistas e as empresas de investimento procuram um método para "superar o mercado", para "bater o mercado" (beat the market), e para criar um índice que ultrapasse sempre, por exemplo, o índice S&P 500. Este índice não deveria incluir as maiores empresas, mas antes as mais bem-sucedidas, segundo determinados fatores. Quais?

Índices setoriais: muito lucrativos mas arriscados

Um dos métodos passa por selecionar empresas de um certo ramo que esteja a ter sucesso. Atualmente são as biotecnológicas. Há alguns fundos que selecionam apenas as empresas relacionadas com biologia e medicina do índice S&P 500, incluindo a Pfizer (NSYE: PFE) e a Johnson & Johnson (NYSE: JNJ).

Será que este índice vai conseguir "bater o mercado"? Vamos comparar o seu gráfico (10 anos com) com o gráfico do SPY.

Cotações do fundo SPDR S&P Pharmaceuticals (10 anos)
Cotações do fundo SPY (tende a repetir a dinâmica do índice S&P 500) (10 anos)

Até 2015, o SPDR S&P Pharmaceuticals superou o S&P 500. Este fundo reagiu de forma tranquila à crise de 2008 e logo em 2009 recuperou as cotações pré-crise. Em 2015, as suas cotações eram cinco vezes superiores ao recorde negativo de 2009 e quatro vezes superiores ao recorde pré-crise de 2007.

Comparando: em 2008, o S&P 500 caiu bastante e apenas restabeleceu as suas posições pré-crise em 2013. Em 2015, superou em três vezes o recorde negativo de 2009 e encontrava-se apenas 34% acima do recorde de 2007. Os investidores que tinham comprado ações do SPDR S&P Pharmaceuticals no ano pré-crise de 2007 aumentaram o seu capital até 2015 e os que tiveram a má sorte de comprar o SPY ultrapassaram a inflação apenas três vezes.

Agora a situação mudou. O SPDR S&P Pharmaceuticals caiu significativamente e não é claro quando voltará a subir. O crescimento de cinco vezes em seis anos teve lugar apenas para os investidores que, de alguma forma, conseguiram adivinhar os melhores momentos para comprar e vender ativos. Outros investidores receberam lucros menores.

Assim, os índices setoriais conseguiram superar o mercado mas a custo da segurança.

Tal como as empresas autónomas, os índices setoriais tornam-se favoráveis e desfavoráveis no mercado de ações e tal pode não estar relacionado com o estado do próprio setor.

Toda a gente sabe em que consistiu a bolha das empresas .com de 1999 e 2000, quando muitas empresas online valorizaram em pouco tempo e depois ficaram novamente baratas. A Internet continuou a desenvolver-se e o setor das TI nunca perdeu importância. Porém, a bolha estourou. Não há garantias de que o crescimento das cotações de empresas de biomedicina também não seja uma bolha.

Assim, os índices setoriais não são a melhor opção para investidores preguiçosos.

Para investir, é preciso sentir a situação do setor e entender que os índices podem cair.

Como deveria ser o índice ideal?

Como vimos, os índices comuns geram bons lucros – porém, são muito propensos a prolongados períodos de crise. Os melhores índices setoriais geram lucro muito mais elevado e superam crises comuns mais rapidamente – no entanto são capazes de resultar em bolhas, perdendo o lucro.

Como deveria ser um índice capaz de superar o mercado geral de forma estável e prolongada e sem gerar bolhas?

Tal índice não deveria referir-se ao mercado comum. Deveria incluir apenas as empresas atraentes do ponto de vista dos investimentos e os critérios de seleção destas empresas deveriam ser flexíveis, mudando de acordo com a situação atual. O índice não deveria focar-se, por exemplo, nas empresas de um único setor pois diferentes setores geram lucros em diferentes períodos.

Da mesma forma, não deveria focar-se apenas em empresas antigas ou recentes. O índice deveria basear-se em métodos universais (na medida do possível) de avaliação da atratividade de investimentos que funcionam em todos os tempos. Finalmente, também deveria atualizar anualmente (ou com mais frequência) a lista das melhores empresas.

Será que existe esse tipo de índice e fundo? Sim, existe. Não prometem demasiado lucro e às vezes são menos lucrativos que os índices setoriais. Porém, conseguem "bater o mercado" – e fazem-no de forma estável durante longos períodos de tempo. Os mais populares são os fundos e índices "growth" e "value".

Vamos falar disso no próximo artigo desta série.

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