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Continuamos o nosso ciclo de artigos do doutorado em Física e Matemática Viktor Argonov – que se destinam a investidores preguiçosos (e não muito preguiçosos) que querem fazer investimentos simples mas lucrativos.

A forma mais simples de "bater o mercado" passa por investir em fundos que se especializam em empresas crescentes e valiosas (growth e value). De que se tratam?

  • Empresas growth são empresas que têm mostrado, nos últimos anos, um maior crescimento de lucros, volume de negócios e cotações e que são capazes de manter a mesma dinâmica no futuro.
  • Empresas value são empresas subvalorizadas (que têm um valor de mercado baixo, mas contam com o seu próprio “valor alto”). Ou seja, empresas com lucros e volumes de negócio elevados, contudo com ações extremamente baratas que poderão tornar-se mais caras no futuro.

Fundos "growth" (fundos de crescimento)

Estes fundos selecionam ações de empresas crescentes. Para prever o crescimento da empresa, os fundos tomam em consideração a dinâmica de indicadores anteriores (o crescimento dos lucros, volume de negócios e cotações) e alguns outros dados (por exemplo: o lucro dos ativos).

É claro que o facto de uma empresa ter crescido nos últimos cinco anos não garante que continuará a crescer no sexto ano. Ainda mais quando as líderes “típicas” de crescimento são empresas pequenas nas quais é arriscado investir. Mesmo assim, em muitos casos estas empresas continuam a crescer no ano seguinte e não entram em falência. Se um fundo investir em muitas empresas ao mesmo tempo, tal minimiza o risco.

Um exemplo de fundo deste tipo é o Guggenheim S&P Pure Growth. Este fundo investe em 114 ações do índice S&P 500, consideradas como tendo o melhor crescimento. Para avaliar o seu lucro face a outros fundos, vamos analisar o respetivo gráfico.

Cotações do fundo "growth" Guggenheim S&P Pure Growth (10 anos)
Cotações do fundo setorial SPDR S&P Pharmaceuticals (10 anos)
Cotações do fundo geral SPY (10 anos) que tende a repetir a dinâmica do índice S&P 500

Como podemos ver, investir no Guggenheim S&P Pure Growth não é tão lucrativo como investir no SPDR S&P Pharmaceuticals. Porém, é muito mais lucrativo do que investir no SPY. Aliás, as cotações do Guggenheim S&P Pure Growth não parecem uma “bolha”. Desde o nível máximo de 2007 até ao nível máximo de 2015 cresceram duas vezes – e do nível mínimo de 2009 até ao nível máximo de 2015 aumentaram quatro vezes. Depois de uma queda pequena no início de 2016 voltaram aos níveis recordes de 2015.

Este fundo é certamente um bom investimento. Quase tão seguro como o SPY – e mais lucrativo.

Fundos "value" (fundos de valor)

Outra abordagem passa por selecionar empresas subvalorizadas (muitas vezes grandes e que já atingiram níveis máximos de crescimento) em vez de empresas crescentes (geralmente pequenas e arriscadas).

Infelizmente, verifica-se um choque de termos: os conceitos de valor (value) e valorização (valuation) são opostos. Vamos clarificar o significado de cada conceito mais detalhadamente:

  • Uma empresa é considerada valiosa, porém subvalorizada (undervalued), quando tem ações baratas e capitalização baixa mas conta com significativo lucro, volume de negócios e valor de ativos materiais.
  • Uma empresa é considerada como com pouco valor, porém sobrevalorizada (overvalued), quando tem ações caras e capitalização alta mas conta com baixo lucro, volume de negócios e valor de ativos materiais.

De acordo com dados estatísticos, investir em empresas com elevado valor (e valorização baixa) é mais lucrativo do que investir nas restantes. Por duas razões:

  1. Numa empresa valiosa a cada euro investido corresponde lucro e volume de negócios significativo. É, assim, capaz de pagar dividendos altos (e muitas vezes paga).
  2. É bastante provável que as ações de uma empresa valiosa fiquem mais caras quando os investidores entenderem que o preço atual não é justo (por exemplo quando acabar o pânico com o mercado de petróleo).

Exemplos de empresas sobrevalorizadas (com valor baixo): as gigantes da internet Amazon (NASDAQ: AMZN) e Netflix (NASDAQ: NFLX). A sua capitalização está tão alta que se gastassem todo o lucro com o pagamento de dividendos (na verdade não têm dividendos), os investidores receberiam de volta todos os seus investimentos daqui a centenas de anos. Contudo, as cotações destas empresas cresceram por muito tempo. Assim, os investidores investiram nas mesmas, na esperança de revender as ações no futuro (entretanto, as cotações já estão a cair).

Exemplos de empresas subvalorizadas (com valor alto): as empresas de energia Slavneft e Surgutneftegaz (MCX: SNGS), ambas russas. As empresas de países em desenvolvimento normalmente são subvalorizadas. No entanto, neste caso as empresas tornaram-se menos populares devido à crise do petróleo. Contudo, continuam a apresentar bons lucros.

Se cada uma destas empresas distribuísse todo o lucro em forma de dividendos, os investimentos da Slavneft seriam “compensados” dentro de seis anos, enquanto os da Sergutneftegaz em apenas dois anos! Isto sem contar com o provável crescimento das cotações após o final da crise do petróleo.

É claro que o lucro de empresas subvalorizadas, bem como o lucro de empresas de crescimento, são apenas fenómenos estatísticos. Ambos os tipos têm os seus perigos ocultos. Se uma empresa tiver os indicadores de valorização formalmente baixos (por exemplo, uma baixa relação entre a capitalização e o lucro), tal não garante que as suas cotações sejam “erradas”.

Talvez a empresa esteja a ter problemas reais, não detectáveis atrás da fachada otimista de lucros elevados. São, no entanto, claros para investidores atentos.

Estes investidores não acreditam no futuro da empresa. É difícil dizer se o preço é justo ou não. Talvez a empresa tenha sido estimada erradamente e volte a crescer novamente em breve. Ou talvez a empresa valha o que merece e possa entrar em falência.

Seja como for, investir em empresas valiosas é normalmente mais lucrativo do que em índices, como o S&P 500. Vamos analisar o exemplo do ETF Guggenheim S&P Pure Value.

Este ETF investe nas 115 empresas do índice S&P 500 que considera mais valiosas. Algumas destas empresas são verdadeiros gigantes: a fabricante de carros Ford Motor (NYSE: F), o banco JPMorgan Chase (NYSE: JPM), entre outras.

Gráfico das cotações do fundo Guggenheim S&P Pure Value (10 anos)

As cotações deste ETF impressionam menos que as do Guggenheim S&P Pure Growth. Em alguns aspetos até são piores do que as cotações do S&P 500: por exemplo, uma queda mais profunda em 2008. Porém, o crescimento geral desde o nível máximo de 2007 até ao nível máximo de 2015 é de 49%, o que é notavelmente melhor do que o índice S&P 500.

Growth e value não são conceitos opostos! Quais as desvantagens dos fundos de crescimento e de valor?

Os fundos growth e value são uma boa escolha para um investidor novato que aposte no longo prazo. São fundos que, de facto, podem ser "comprados e deixados de lado". Baseiam-se em princípios lógicos que permitem manter o lucro acima do valor de mercado por muito tempo. Porém, a realização prática destes princípios tem um defeito.

Muitos criadores de índices fazem o seguinte: consideram um índice principal (por exemplo, o S&P 500) e dividem-no em três partes. Na primeira parte colocam as líderes de crescimento (criam um índice growth), na segunda colocam apenas empresas subvalorizadas (índice value) e na terceira colocam as restantes (que consideram a parte menos interessante).

Este método posiciona os fundos growth e value como conceitos alternativos ou até mesmo opostos. Na verdade, são parâmetros independentes.

Como veremos no próximo artigo, muitas empresas adequadas ficam de fora das cestas de growth e value e dentro das cestas encontram-se muitas empresas medíocres.

É uma das razões pela qual os investidores avançados evitam comprar ETF prontos e criam carteiras com muitas ações sozinhos. Essa abordagem é mais demorada (inclui a parte de atualizar a carteira quando algumas ações deixam de satisfazer as exigências). Porém, pode trazer muitas vantagens. Falaremos sobre isso nos próximos artigos.

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