A PepsiCo irá relatar os seus resultados relativamente ao segundo trimestre de 2016 esta quinta-feira
Os investidores ficarão com uma noção de como a volatilidade económica está a afetar as empresas globais quando a PepsiCo Inc. (NYSE: PEP) relatar os seus resultados quanto ao segundo trimestre esta quinta-feira.
A gigante norte-americana de snacks e bebidas realiza quase metade das suas vendas no estrangeiro, com uma grande presença no Reino Unido, Rússia e Brasil. As suas batatas fritas, refrigerantes e sumos são consumidos diariamente, tornando-a um barómetro da confiança do consumidor. Além disso, a PepsiCo irá relatar os seus resultados antes de muitas outras grandes empresas.
A PepsiCo tem sido capaz de navegar na turbulência exterior – reduzindo custos, aumentando preços e focando-se no seu segmento de vendas nos EUA. Em 2014, e novamente em 2015, aumentou a sua previsão de ganhos para o ano inteiro quando relatou resultados relativamente aos respetivos segundos trimestres.
É, no entanto, pouco claro se a empresa irá rever a sua orientação de ganhos novamente em sentido ascendente – nomeadamente depois do Reino Unido ter votado pela saída da União Europeia, o que tem aumentado temores quanto a uma recessão mundial.
De acordo com Jack Russo, analista de bens de consumo na Edward Jones:
“O meu palpite é que provavelmente não o farão desta vez na medida em que se verifica muita incerteza a nível global.”
A Morgan Stanely estimou, na semana passada, 40% de probabilidade de se verificar uma recessão global no próximo ano, acima da anterior previsão de 30%.
As empresas do S&P 500 deverão relatar um declínio de 5,2% quanto a ganhos no segundo trimestre face ao ano anterior, o quinto trimestre consecutivo de contração de lucro – tal como estimado pela FactSet.
Estima-se que a PepsiCo relate ganhos por ação de 1,29 dólares, uma queda face a 1,32 dólares no mesmo trimestre do ano anterior, de acordo com uma pesquisa da Thomson Reuters junto de analistas que monitorizam a empresa. A receita deverá cair 3,4%, para 15,37 mil milhões de dólares, atingida pela queda de moedas estrangeiras.
A fabricante das batatas fritas Lays e da Pepsi-Cola recusou-se a comentar antes da divulgação de resultados. Indra Nooyi, CEO, alertou para um “ambiente difícil” a nível global e para “volatilidade e incerteza” na teleconferência de resultados de abril.
A empresa teve de lidar com 373 milhões de dólares de custos de depreciação com a sua joint venture de bebidas chinesa no primeiro trimestre. Diversos economistas esperam que o crescimento chinês quanto ao segundo trimestre fique aquém dos 6,7% do primeiro trimestre, o seu mais lento ritmo trimestral desde a crise financeira global de 2008.
A PepsiCo também estimou que a Venezuela tenha um impacto negativo de cerca de 2% nos seus lucros este ano depois de ter lidado com um custo de depreciação de 1,36 mil milhões de dólares e com a destabilização de operações no país devastado pela recessão.
Tudo isso antes do referendo quanto ao Brexit a 23 de junho. O Reino Unido é o quinto maior mercado para a PepsiCo, responsável por 3% das vendas da empresa. Os economistas alertam que a quinta maior economia do mundo enfrenta risco de recessão e inflação – o que poderá causar efeitos em cascata, com o Fundo Monetário Internacional a alertar na semana passada que poderá reduzir a previsão de crescimento da Alemanha.
Não é só a Europa que está nervosa. O presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, avançou na semana passada que o Brexit poderá prejudicar a economia do seu país, que deverá encolher 3,3% este ano. O Brasil é o sexto maior mercado da PepsiCo, responsável por 2% da sua receita, e as empresas esperam um aumento das vendas no país anfitrião dos Jogos Olímpicos no próximo agosto.
A PepsiCo também está exposta à economia russa, em dificuldades, o seu maior mercado após os EUA e México. O Banco Central da Rússia cortou as taxas de juro no mês passado pela primeira vez em quase um ano, alimentando as esperanças de que a economia do país volte a crescer no próximo ano.
Toda essa volatilidade no estrangeiro está a aumentar a pressão sobre a PepsiCo para gerar crescimento nos EUA, responsável por 56% da sua receita em 2015. A despesa pessoal nos EUA aumentou 0,4% em maio, face ao mês anterior, depois de um salto de 1,1% em abril, o mais acentuado em quase sete anos.
A unidade de snacks da PepsiCo nos EUA teve o seu mais forte desempenho em mais de um ano nas quatro semanas que terminaram a 18 de junho, com as vendas a aumentar 5,9% face ao ano anterior – de acordo com a Wells Fargo, a citar dados da Nielsen. Parte foi impulsionada pelo Memorial Day, que não foi totalmente incluído nos dados do ano anterior.
A empresa tem relatado um saudável crescimento de vendas quanto a água engarrafada, bebidas desportivas e chás mas o seu segmento de refrigerantes tem vindo a perder espaço no seu maior mercado. As vendas de refrigerantes nos EUA contraíram 3,4% nas 12 semanas que terminaram a 18 de junho, um declínio superior ao sentido pela indústria como um todo – 2,2%.
Grande parte da desaceleração está ligada à Diet Pepsi, cujo deslize de vendas acelerou depois da empresa ter alterado os seus adoçantes artificiais em agosto passado. Avançou, na semana passada, que irá retomar a antiga receita, mas não antes de setembro.
A PepsiCo estimou no início deste ano que moedas estrangeiras mais fracas teriam um impacto negativo de 4 pontos percentuais nos seus resultados de 2016, inferior ao impacto negativo de 11% no ano passado. Até recentemente, Joseph Agnese, analista na S&P Global Market Intelligence, avançava que o câmbio poderia fornecer um salto até ao final do ano. No entanto, ao citar a incerteza global, Agnese afirmou: “Agora não parece que tal venha a acontecer”.