Os investidores estão a enlouquecer com o Pokémon Go mas devem acalmar-se e analisar a realidade
Não há nada como uma mania. O Pokémon Go, o jogo de vídeo de realidade aumentada que utiliza smartphones para colocar os monstros de bolso da Nintendo (TYO: 9794) em localizações da vida real, está por todo o lado. Desde o seu lançamento na semana passada nos EUA e noutros países que os jogadores estão a reunir-se em parques e a correr para dentro de restaurantes, à caça do Pikachu e outros animais.
Os investidores também estão a enlouquecer um pouco. As ações da Nintendo subiram 50% numa semana – na expetativa de que o Pokémon Go possa salvar a empresa da dependência de consolas como a Wii U, lançando-a para o mundo em crescimento dos jogos casuais em dispositivos inteligentes.
Calma
Se alguma empresa consegue fazer a transição essa empresa é a Nintendo. Já o fez antes, quando se transformou de fabricante de máquinas de jogos arcade em empresa de consolas e jogos na década de 1980 – e quando se encontrava em apuros há uma década atrás inventou a Wii original, ultrapassando a PlayStation 3 da Sony (NYSE: SNE) e a Xbox 360 da Microsoft (NASDAQ: MSFT).
O génio criativo por detrás de grande parte deste sucesso é Shigeru Miyamoto, que criou o Donkey Kong e Super Mário e tem supervisionado a missão da empresa de “colocar sorrisos nos rostos das pessoas ao redor do mundo”. A Nintendo tem uma capacidade incrível para inventar personagens que não só o fazem mas continuam a fazê-lo – o segmento Pokémon, por exemplo, celebra o seu 20º aniversário este ano.
Esta capacidade tem permitido à Nintendo evitar o destino da Sega, a sua antiga rival que perdeu o sentido em 1990 com as consolas Saturn e Dreamcast antes de deixar o segmento das consolas por completo. Até mesmo agora, a Nintendo espera recuperar no setor com a NX no próximo ano, que se encontra em sigilo.
Quando uma empresa de consolas de jogos está na berra, a sua força criativa com jogos novos e absorventes alimenta as vendas das suas mais recentes e tecnologicamente avançadas máquinas. A Sony está a desfrutar desse círculo virtuoso com a PlayStation 4, que já vendeu mais de 40 milhões de unidades desde 2013 – embora dependa mais do que a Nintendo de editoras de jogos como a Activision Blizzard (NASDAQ: ATVI).
A chave para a resistência num negócio tecnológico volátil e cíclico tem sido a ligação entre os jogos e as máquinas. Um jogo de vídeo popular poderá ser uma mania de curta duração mas estimula os consumidores a comprar consolas e a comprar mais jogos. A criatividade foi sempre a força motriz da Nintendo.
Então o que poderá ser melhor para a Nintendo do que uma nova geração de utilizadores de smartphones iPhone e Android a perseguir Pokémons pelo mundo, tentando identificá-los e atirando-lhes Poké Balls? É claro que tal terá colocado sorrisos nos rostos dos executivos na sede da empresa em Quioto?
Bem, até certo ponto. Em primeiro lugar a Nintendo não criou o Pokémon Go nem o detém. Detém 33% de participação na Pokémon Company, que licenciou os direitos à Niantic, uma start-up norte-americana de jogos de realidade aumentada fundada por John Hanke, antigo executivo da Google. A Nintendo investiu na Niantic no ano passado mas irá receber apenas uma minoria das receitas.
Uma participação minoritária num fenómeno é melhor do que a ausência de fenómeno ou de participação mas reflete um contexto mais amplo. Enquanto a Nintendo desenha as suas próprias consolas, e cria muitos dos mais conhecidos jogos para Wii, virou-se para parceiros para entrar no mundo dos smartphones. Além da Niantic, está a trabalhar em conjunto em mais cinco jogos para smartphone com a DeNA, uma programadora de jogos japonesa.
Até agora a Nintendo esteve presa num “jardim murado” de jogos para as suas próprias consolas. Enfraquece-o ao entrar no mundo dos dispositivos inteligentes, onde já não controla a sua plataforma e deve oferecer jogos para iOS e Android em competição com outras editoras de jogos. Tal é diferente da sua antiga transição das máquinas de jogos arcade para consolas.
As novas tecnologias são abertas e móveis, incluindo em termos de localização, mapeamento e realidade virtual e aumentada. Tal oferece vantagem às empresas de software de Silicon Valley, incluindo start-ups como a Niantic. A Nintendo poderá aprender através da parceria mas trata-se de território desconhecido para a mesma.
Em segundo lugar, o modelo de negócio de jogos para o mundo móvel é curioso. O Pokémon Go é um exemplo: os jogadores descarregam-no gratuitamente e pagam por itens adicionais, tal como “incenso” para atrair monstros e para as Poké Balls os caçarem. Muitos não se irão preocupar – a King Digital, criadora do Candy Crush, divulgou em 2013 (antes de ser comprada pela Activision Blizzard) que 96% dos utilizadores mensais não pagavam extras.
O mobile ainda pode ser rentável – a Activision pagou 5,9 mil milhões de dólares pela King no ano passado pois tinha receitas fortes e margens elevadas – mas é menos confiável. O Pokémon Go não será vendido por 60 dólares, como grandes jogos para consolas nos EUA, e não irá alimentar a venda de consolas. Os sucessos têm de continuar a surgir e terão de continuar a pagar-se a si próprios.
Em alguns aspetos a Nintendo está adaptada para a mudança de paradigma. Tal como Hanke afirmou, tem “propriedade intelectual incrível, amplamente acessível a homens e mulheres em qualquer idade.” Quem não gosta de uma caça ao monstro? No entanto, antes dos acionistas da Nintendo ficarem muito entusiasmados, devem examinar a realidade.