Uma das razões: o Pokémon Go não é desenvolvido ou distribuído pela Nintendo mas sim pela Niantic, uma spinoff da Alphabet – a empresa-mãe da Google
A revelação de sexta-feira por parte da Nintendo (NYSE AMEX: NTDOY) de que o fenómeno mundial de perseguição de criaturas imaginárias com o smartphone não irá impulsionar em muito os seus ganhos confirmou o que muitos suspeitavam – mas que as ações ainda não refletiam.
Isso mudou esta segunda-feira de manhã com a Nintendo a cair 18% na abertura do mercado de Tóquio. A queda deixou as ações 73% mais elevadas do que há um mês atrás, antes do lançamento do Pokémon Go.
Colocando o movimento em contexto: o massivo run-up deixou a Nintendo apenas 42% acima este ano, até à data, e apenas 15% acima face há 12 meses atrás. Por outras palavras, o Pokémon Go poderá ter impulsionado as ações mas uma grande parte desse ganho serviu para a recuperação de terreno perdido ao longo do ano passado.
Há ainda mais uma questão importante a considerar aqui: porque é que a aplicação de topo (de acordo com os rankings), com incessante cobertura dos meios de comunicação e acordos de patrocínio com cadeias de fast-food não se está a transformar num golpe de sorte para a Nintendo?
A própria empresa delineou uma das razões na sua declaração da semana passada. O Pokémon Go não é desenvolvido ou distribuído pela Nintendo mas sim pela Niantic, uma spinoff da Alphabet (NASDAQ: Alphabet Class C [GOOG]) – a empresa-mãe da Google. O Pokémon em si é detido pela The Pokemon Co, da qual a Nintendo possui apenas 32%. A The Pokemon Co recebe uma taxa de licenciamento e “compensação pela colaboração” por desenvolver o Pokémon Go.
Assim, eventuais ganhos obtidos com o Pokémon Go serão obtidos pela The Pokemon Co. através de um processo filtrado – e cujos detalhes não foram tornados públicos. A Nintendo apenas irá receber parte dos lucros através do método de equivalência patrimonial.
Daí o título da declaração da Nintendo:
Devido ao sistema de contabilidade o lucro refletido nos negócios consolidados da empresa é limitado.
Isso também significa que os direitos de filmes, acordos com cadeias de fast-food e quaisquer outros subprodutos que o Pokémon Go inspire apenas chegarão à Nintendo através da The Pokemon Co.
Tudo isso terá sido levado em conta quando a Nintendo divulgou a sua previsão para os 12 meses até 31 de março de 2017, a 27 de abril deste ano. O facto de ter dito na sexta-feira que não irá “modificar a previsão financeira por agora” indica o quão dececionante a vantagem da loucura ao redor do Pokémon Go poderá ser e por que razão os investidores estão certos por começarem, finalmente, a questioná-la.
Se o Pokémon Go fez um mau trabalho a extrair mais da loucura então não há muito que a Nintendo possa fazer quanto a isso.
O modelo de receita baseia-se nas compras de itens dentro da aplicação – que poderão ajudar os jogadores a melhorar as suas pontuações. As taxas de conversão do Pokémon Go, que rastreiam os dólares por utilizador ou quantos utilizadores compram itens, ainda não foram disponibilizadas ao público e poderão nunca vir a ser. Uma estimativa coloca a conversão em cerca de 1 dólar por download até agora, o que até é bastante bom mas fica muito aquém de justificar a subida do preço das ações da Nintendo.
O que a Nintendo precisa é que a Niantic descubra uma forma de extrair ainda mais dinheiro aos utilizadores – e que a The Pokemon Co obtenha mais lucro das personagens antes que o fenómeno acabe.
Optar por não aumentar a perspetiva de lucro no meio da loucura indica que a Nintendo poderá ter dificuldade em alcançar ambas e isso é um mau presságio para as suas esperanças de vir a repetir este sucesso.
Já sabemos que o sucesso do Pokémon Go é tão grande como qualquer derivado de realidade aumentada e aplicação móvel poderá alguma vez ser. À luz disso, não aposte que o Mario, Luigi ou Donkey Kong venham a superar o Pikachu ao nível dos lucros.