Mercados emergentes: tendência altista ou baixista?
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As ações dos mercados emergentes, em geral, subiram mais de 20% ao longo dos últimos seis meses, superando confortavelmente as suas pares no mundo desenvolvido

A economia da China está em desaceleração. As detenções pós-tentativa de golpe na Turquia continuam. As sanções ocidentais quanto à Rússia continuam em força enquanto a Rússia se mantiver intrometida na Ucrânia. O Brasil está de volta à sua recessão paralisante e turbulência política, depois da distração proporcionada pelos Jogos Olímpicos. O ministro das Finanças da África do Sul enfrenta uma detenção pela terceira vez este ano.

E...

As ações dos mercados emergentes, em geral, subiram mais de 20% ao longo dos últimos seis meses, superando confortavelmente as suas pares no mundo desenvolvido. O índice de ações de referência da Rússia, o Micex, está a negociar em altas recorde. Sim, na Rússia.

Para não ficarem para trás, os fundos de obrigações têm mais dinheiro investido na dívida de mercados emergentes do que tiveram em quatro anos. Até agora este mês, os investidores institucionais estão a comprar obrigações de mercados emergentes a um ritmo semanal 10 vezes superior à média da primeira metade do ano, de acordo com o Institute for International Finance.

A recuperação fez uma pausa na semana passada logo parece ser uma boa altura para reflexão. Comecemos: será tudo isto uma loucura?

Tendência altista: apenas a começar?

Com bancos centrais nervosos pela Europa, Japão e todo o lado não é de admirar que o preço dos ativos esteja a aumentar, mesmo para títulos de risco em locais de risco. As taxas de juro de ativos seguros – dívida de governos de mercados desenvolvidos e obrigações de empresas com alta classificação – estão a definhar para mínimos históricos, oferecendo muito pouco em termos de rentabilidade futura.

Tal causa “sede de rendimento” que está a levar os investidores em busca de ativos de mercados emergentes, de acordo com Rollo Roscow, gestor de fundos na Schroders em Londres. As valorizações em muitos mercados desenvolvidos estão esticadas. De acordo com Roscow:

“Quem sabe se os mercados emergentes não contemplarão alterações de preço também?”

Na verdade, mesmo após a recente recuperação, a diferença de valorização entre mercados emergentes e desenvolvidos, medida pelo rácio preço-lucro e semelhantes, permanece grande. E a turbulência política não se limita aos mercados emergentes – veja o Brexit, Donald Trump e os burkinis. Porque deverão os investidores pagar preços exorbitantes por ativos supostamente seguros?

Enquanto os formuladores de políticas monetárias continuarem preocupados com as suas economias moribundas, as taxas de juro permanecerão baixas e a liquidez fluirá para bancos em necessidade e outros mutuários. Isso sugere que a recuperação dos mercados emergentes tem por onde crescer.

Tendência baixista: vem aí a queda?

Não tão depressa. A subida constante dos ativos nos mercados emergentes parou abruptamente quando um funcionário da Reserva Federal dos EUA advertiu que “o mercado está complacente” com a possível subida das taxas de juro este ano. O aumento da mais importante taxa de juro de referência do mundo irá quebrar o consenso “lower for longer” (mais baixo por mais tempo) e forçar uma revisão mais ampla dos cálculos de risco-recompensa dos investidores.

Além disso, os ativos em muitos mercados emergentes estão relativamente baratos por uma razão. As recessões na Rússia e Brasil irão terminar, eventualmente, mas não é garantido crescimento robusto de seguida. O compromisso errático e ambíguo da China para reformar a sua economia perigosamente desequilibrada – consumidor fundamental das mercadorias que sustentam os mercados emergentes ricos em recursos – é outro grande risco para as valorizações.

Embora “vender tudo” seja demasiado alarmista, os ativos de mercados emergentes são mais idiossincráticos do que muitos investidores podem apreciar, especialmente aqueles utilizados para comprar índices de base ampla em mercados desenvolvidos. De acordo com Roscow:

“Tentamos não nos focar muito no top-down. Em vez disso, nos mercados emergentes, é melhor “o foco em drivers específicos das empresas, com um pouco de visão macro.”

É um conselho sábio para alguns dos mercados que considera atualmente como “overweight”. Tal inclui a Rússia e Roménia – em comparação a outro mercado que o gestor de ativos identificou como uma “interessante história de reforma” na sua busca por retornos: a Geórgia, onde a bolsa dispõe apenas de uma mão cheia de empresas cotadas que muitas vezes passam dias, se não semanas, sem negociar.

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