Num concurso realizado no Reino Unido, gestores profissionais de fundos perderam... Para um gato. Saiba o que pode aprender com isso
Pensamos muitas vezes nos gatos como sedentários e pouco exigentes. Dormem cerca de 20 horas por dia, não comem muito...
No entanto, existe a hipótese do seu gato saber selecionar ações melhor do que você.
Serão os gatos melhores a selecionar ações do que os humanos?
Em 2012, o jornal britânico The Observer realizou um concurso que permitiu que três grupos separados de participantes investissem 5.000 libras esterlinas imaginárias. Seguem-se os três grupos:
- Um trio de gestores profissionais de fundos (Justin Urquhart Stewart da Seven Investment Management, Paul Kavanagh da Killick & Co. e Andy Brough da Schroders).
- Um grupo de alunos com idades entre 11 e 18 anos da John Warner School em Hoddesdon, Reino Unido.
- Um gato chamado Orlando.
Estará convicto de que os profissionais experientes, que são pagos para oferecerem os seus conselhos, terão ganho. Certo? No final do concurso, que teve a duração de um ano, os stock pickers tinham de facto gerado um ganho de 3,5%. Os alunos não se saíram tão bem, com a sua carteira a enfrentar uma queda de 3,2% desde o início. No entanto, Orlando, que escolheu as suas ações ao atirar o seu brinquedo favorito – um ratinho de brincar – deixou toda a gente estupefacta com um ganho de 10,8% no final do ano.
Sim. Um gato superou três profissionais.
É claro que não é a primeira vez que gestores de fundos saem vencidos. Há alguns anos, quatro autores publicaram as suas descobertas depois de terem estudado uma amostra ampla de 1.300 fundos de cobertura entre 1994 e 2009. O que concluíram foi que apenas 22% dos gestores de fundos criavam, na realidade, ganhos de investimentos ajustados ao risco. Os autores levaram a pesquisa mais longe e também examinaram quantas das empresas adicionavam valor ao escolher os gestores certos e ao evitar os errados. A resposta a que chegaram foi que se verificou apenas 5,7% de valor acrescentado pela escolha de gestores certos, depois de deduzidas as comissões. Não é muito encorajador.
Valiosas lições de investimento, de acordo com Orlando (o gato)
Se dermos um passo atrás e olharmos além do facto dos gestores de fundos terem perdido para um gato, há lições a aprender.
1. As ações são inerentemente imprevisíveis no curto prazo
Indiscutivelmente, a lição mais importante é a pura aleatoriedade dos resultados. Num mundo perfeito um gato não deve superar gestores profissionais – mas o mundo não é perfeito e o mercado de ações está longe de ser previsível.
Um grande número de tendências de investimento praticamente garante que o investimento nunca se torna previsível no curto prazo. O confirmation bias é um bom exemplo. Trata-se da tendência para confirmar crenças e opiniões existentes ao focarmo-nos em notícias, opiniões e ideias que surgem e que confirmam as nossas crenças. O confirmation bias é algo de que somos culpados a dado ponto pois faz com que nos sintamos confiantes em relação aos nossos investimentos. Infelizmente, focar-se num dos lados da equação sem tomar em consideração potenciais riscos é uma fórmula que pode, e eventualmente irá, conduzir a perdas de investimento a dada altura.
Mesmo que seja um investidor focado no longo prazo e orgulhoso por examinar todos os lados da equação, não pode simplesmente contabilizar milhões de outros investidores que nem estão conscientes dos vieses que existem. É por isso que é impossível cronometrar o mercado por longos períodos de tempo.
2. Até mesmo os peritos são falíveis
Em segundo lugar, o sucesso do gato Orlando é um bom lembrete de que não existe algo como o stock picker perfeito. Os gestores profissionais de fundos podem ser tão falíveis como qualquer outro trader – o que surge como incentivo para aprender o máximo possível sobre investimento para controlar o seu próprio destino.
De acordo com um estudo conduzido pela NerdWallet em 2013, apenas 24% dos gestores de fundos ativos tinham superado o mercado num período de 10 anos. As conclusões da NerdWallet mostraram, essencialmente, que os investidores teriam feito melhor a investir em fundos de índice, ou a investirem sozinhos, em vez de confiarem os seus ativos a gestores de fundos.
3. Por vezes vale a pena ser sedentário quando se trata de investir
A vida sedentária de um gato serve como lembrete muito necessário para os investidores de que por vezes a melhor estratégia é esperar e não fazer nada.
Os gestores de fundos, mais frequentemente do que o contrário, tentam fazer demais. O raciocínio é bastante fácil de compreender: têm um pequeno grupo de clientes e alteram de forma consistente as suas carteiras de investimento para incluir as ações “mais quentes”, capazes de atrair mais dinheiro. No entanto, tentar fazer muito no curto prazo irá muitas vezes conduzir a baixo desempenho, quer estejamos a falar de profissionais ou de “meros” traders.
Um hoje famoso estudo conduzido por Terry Odean da UCBerkeley olhou para 10.000 contas de corretagem de investidores, a abrangerem um período de sete anos, e examinou cerca de 163.000 negociações realizadas. No meio das mesmas, Odean foi capaz de identificar casos em que os investidores venderam uma ação e, dentro de um curto espaço de tempo, compraram outra. Odean considerou essas negociações como um sinal de que os traders acreditavam que a ação vendida iria perder valor e a comprada iria ganhar valor. No entanto, os resultados mostraram que as ações vendidas superaram as ações compradas por uma substancial média de 3,2 pontos percentuais por ano! Por outras palavras, os investidores deviam ter mantido as ações que detinham por mais tempo.
Um estudo separado de Odean e dos seus colegas, publicado em 2011, examinou se o day trading podia ou não ser rentável. As conclusões do estudo mostraram que apenas 14% dos day traders acabavam com lucro numa base anual, com apenas 1% a encontrar uma forma consistente de lucro devido a altas comissões e à imprevisibilidade do mercado.
Não lhe estou a dizer para dormir 20 horas por dia. No entanto, talvez seja altura de parar de pensar em demasia na sua estratégia de investimento e permitir que o que comprou trabalhe para si no longo prazo. Se funcionou para o gato Orlando também poderá funcionar para si.