Howard Gold, colunista do Market Watch que aposta na vitória de Hillary Clinton, explica por que razão o mercado financeiro está prestes a "subir"
Estamos muito próximos do final da campanha presidencial nos EUA – que durou 591 dias. Em menos de uma semana teremos de procurar outro assunto onde focar a atenção.
Tenho escrito frequentemente que a eleição presidencial tem sido a maior incerteza do mercado de ações. É por isso que as ações não têm seguido para lado nenhum nos últimos três meses. Com o dia das eleições à vista, saberemos se toda a ansiedade se justificava.
Entretanto, os astros alinham-se para uma simpática recuperação do mercado em novembro por cinco razões:
1. A economia encontra-se em boa forma
O Departamento do Comércio dos EUA relatou, a 28 de outubro, que o Produto Interno Bruto do país cresceu 2,9% no terceiro trimestre deste ano. Dependeu, fortemente, da exportação de soja e poderá ser revisto para baixo no futuro – contudo, tratou-se de uma grande melhoria em relação ao verificado no primeiro semestre do ano.
Se as recentes tendências se mantiverem, o relatório relativo ao emprego nos EUA em outubro – a ser divulgado hoje, sexta-feira – deverá ser bastante bom também. O crescimento de novos postos de trabalho rondou, em média, 192.000 por mês entre julho e setembro, tendo recuperado o ritmo do início do ano – apesar de se encontrar significativamente abaixo da média de aumento mensal em 2015 – na ordem de 229.000 novos postos de trabalho. Os dados sugerem uma economia ainda em crescimento, embora não tão rápido como o desejado.
2. A Reserva Federal dos EUA está “em espera” até, pelo menos, dezembro
Francamente, estou cansado de escrever sobre a probabilidade da Reserva Federal dos EUA aumentar ou não as taxas de juro nas suas reuniões, pois é pouco interessante para a maioria das pessoas – exceto para os traders hiperativos. O FOMC (Federal Open Market Committee), que define as taxas, adiou esta semana qualquer possível aumento das taxas para a reunião de dezembro. Os traders apostam uma probabilidade de 74% de se verificar aumento de um quarto de ponto.
Mesmo que se venha a verificar um aumento, a taxa rondará apenas 0,5% – 0,75%. No próximo ano, o FOMC irá tornar-se mais dovish, tornando o aumento de taxas mais improvável. A única surpresa para Wall Street será se o FOMC não aumentar as taxas em dezembro – o que será favorável para as ações.
3. Os lucros têm vindo a aumentar
De acordo com Howard Silverblatt, 73% das empresas que relataram resultados trimestrais até segunda-feira superaram as suas estimativas de ganhos – e 55% superaram as projeções de receita dos analistas.
John Butters, analista sénior da FactSet Research Systems, escreveu a 28 de outubro que os ganhos do S&P 500 SPX (INDEX:US500), -0,65%, estão em vias de aumentar 1,6% no terceiro trimestre, sendo a primeira vez que mostram crescimento positivo desde o primeiro trimestre de 2015. Assim a recessão de lucros causada pelo colapso dos preços do petróleo terá, provavelmente, terminado.
4. O sentimento é demasiado pessimista
O meu colega Mark Hulbert salientou, a 31 de outubro, que “uma boa porção da comunidade que tende a cronometrar o mercado tornou-se, recentemente, cautelosa, se não totalmente pessimista”. Um índice que costuma seguir revelou uma recomendação de exposição a ações de apenas 13,9%.
Entretanto, os fundos mútuos de ações experienciaram os maiores outflows em cinco anos (16,3 mil milhões de dólares) com os investidores a focarem-se em obrigações e fundos geridos passivamente. O índice de volatilidade da CBOE, +0,26% (VIX), subiu na ordem de 50% ao longo do último mês. É claro que há quem considere estas tendências otimistas.
5. A campanha eleitoral acaba em breve!
A concisa carta de James Comey, diretor do FBI, a diversos congressistas republicanos a 28 de outubro – a revelar “a existência de e-mails que parecem pertinentes para a investigação” da candidata democrata Hillary Clinton através de um servidor de e-mail privado enquanto se encontrava no Departamento de Estado – foi a surpresa de outubro que todos esperavam.
Ainda penso que graças à votação antecipada e à organização e vantagem estrutural de Clinton no Colégio Eleitoral, a mesma irá prevalecer – embora não por tanto como pensei anteriormente. No entanto, as hipóteses dos democratas “varrerem” o Senado tornaram-se mais remotas – bem como de vencerem a Câmara. É uma receita para a paralisia, que Wall Street aprecia mas os restantes não.
A grande surpresa será, claro, se Trump vencer. A perspetiva de Trump na Sala Oval desencadearia pânico – e vendas. Dois economistas, Justin Wolfers da Universidade de Michigan e Eric Zitzewitz do Dartmouth College, calculam que uma vitória de Trump eliminaria 10% a 15% do preço das ações a nível global. Poderá criar uma oportunidade de compra, mas o tema fica para um próximo artigo.