O gestor de carteiras Ben Carlson explica como se pode preparar para um crescimento súbito do mercado
Desde a crise financeira que os investidores são bombardeados com livros, publicações de blog, artigos e conselhos quanto a como sobreviver ao próximo mercado em baixa, Lehman Brothers, cisne negro, recessão, subprime, 1987, entre outros.
Não me interpretem mal, a preparação mental para a desaceleração do mercado pode ser um exercício útil. São coisas inevitáveis – logo, planear para uma ampla gama de resultados, que inclua potenciais grandes perdas em ativos de risco, é uma forma inteligente de garantir que não irá entrar em pânico quando os mercados caírem.
No entanto, há outro risco nos mercados a que a maioria dos investidores não presta muita atenção – o “melt-up” (melhoria) dos preços.
Parece-me que se verificam todos os ingredientes para uma possível bolha no mercado de ações nos EUA. As taxas de juro estão extremamente baixas, os bancos centrais de todo o mundo têm-se adaptado em todos os setores e verifica-se uma ausência generalizada de alternativas de investimento. Tal não significa que tenha de acontecer [a bolha] mas o puzzle está a formar-se para volatilidade elevada, algo que muito poucos investidores acreditam que poderá ocorrer estes dias.
De facto, se olhar para trás e para a forma como os mercados de ações se têm desempenhado de forma geral, estão muito mais propensos a subir substancialmente do que a cair substancialmente. O meu colega Michael Batnich observou esses números na semana passada e concluiu que desde 1926 “as ações dos EUA estiveram quase seis vezes mais propensas a subir na ordem de 20% um ano mais tarde do que a cair 20%.” Segue-se o seu gráfico:
Muito poucos investidores considerariam mais ganhos no mercado de ações como um risco – mas a realidade é que existe sempre a hipótese da ganância tomar conta do seu processo de tomada de decisão quando ocorrem ganhos inesperados. O outro lado desses ganhos pode ser doloroso se não tiver cuidado. A mudança pode ir do medo de estar no mercado ao medo de perder muito rapidamente nos mercados.
Num recente paper, Michael Mauboussin explica que uma das características que os grandes investidores partilham surge de saber a diferença entre informação e influência:
"Investir é um exercício inerentemente social. Como resultado, os preços podem ir de fonte de informação a fonte de influência. Isso aconteceu diversas vezes na história dos mercados.
Veja o boom dot-com, por exemplo. À medida que as ações de empresas de internet subiam, os investidores que detinham as ações tornavam-se mais ricos no papel. Isso exerceu influência sobre aqueles que não detinham ações e muitos acabaram a comprar também – o que alimentou o processo.
A rápida subida do setor dot-com não se relacionou tanto com expectativas fundamentadas sobre como a Internet mudaria os negócios, detendo-se mais com o embarcar no mercado. O feedback negativo cedeu ao feedback positivo, o que levou o sistema para longe do seu estado anterior.
Os grandes investidores não são absorvidos pelo vórtice da influência. Isso requer que não se preocupe com o que os outros pensam de si, o que não é natural para os seres humanos. De facto, diversos investidores bem-sucedidos têm uma habilidade que é muito valiosa para investir mas não tão valiosa para a vida: um desprezo flagrante pelos pontos de vista dos outros. O sucesso implica considerar vários pontos de vista mas em última análise moldar uma tese pensada e distante do consenso. A multidão está muitas vezes certa mas quando está errada é necessária força psicológica para ir contra a mesma. É muito mais fácil dizer do que fazer, especialmente se implicar risco ao nível da carreira (que é, geralmente, o caso)."
Além de um “desrespeito flagrante pelas opiniões dos outros” seguem-se mais alguns pensamentos ao redor da sobrevivência a um potencial “melt-up” de preços:
Não altere a sua estratégia. A pior altura para alterar completamente a sua estratégia é após grandes ganhos que perdeu ou grandes perdas que não perdeu. É raramente boa ideia fazer uma revisão da sua carteira durante mercados carregados de emoção.
Mantenha-se na sua zona de conforto. Não deve investir em produtos ou estratégias novas ou emocionantes apenas porque toda a gente o está a fazer. Deve sempre saber o que detém e por que razão o detém – e isso torna-se ainda mais importante quando os mercados estão a subir.
Evite perseguir o rendimento e substitutos. Estou a falar de substitutos como obrigações.
Não detenha mais ações do que aquelas que se sente confortável a manter durante um mercado com tendência baixista. A minha regra de ouro para a maioria dos investidores focados no longo prazo é nunca deter mais ações num mercado com tendência altista do que se sente confortável a manter durante um mercado com tendência baixista.
Tenha um plano. Deve ter sempre uma ideia sobre quanto e quando irá comprar ou vender – ou não fazer nada – num número diferente de cenários de mercado. Retire-se da equação tanto quanto possível.
Acima de tudo, conheça-se a si mesmo. A forma como opta por investir deve relacionar-se sempre com o tipo de pessoa que é e com o que consegue ou não lidar em termos de risco.
Para clarificar: não estou a prever um “derretimento” e a dizer que tem de acontecer. Contudo, deve preparar-se sempre para a possibilidade de algo assim vir a acontecer.
Embora tenha a sensação de que os investidores não querem outra bolha: já saíram prejudicados duas vezes nas últimas duas décadas logo essa euforia ainda não se sente, mesmo com os preços a continuarem a subir.
Seria interessante ver o que aconteceria se os investidores se tornassem otimistas – pela primeira vez, desde a crise financeira.