Didi Chuxing de olho no Brasil
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A Exame avançou na semana passada que a Didi Chuxing está a investir 100 milhões de dólares na 99, a maior concorrente da Uber no Brasil

A trégua – na guerra entre empresas prestadoras de serviços de transporte privado urbano – proporcionada pela compra da operação chinesa da Uber por parte da Didi Chuxing, em agosto passado, foi apenas temporária. O hiato permitiu que ambas as concorrentes escolhessem um novo campo de batalha: o Brasil.

A Exame, revista especializada em negócios com sede em São Paulo, relatou na semana passada que a Didi Chuxing está a investir 100 milhões de dólares na 99, a maior concorrente da Uber no Brasil. Com 10 milhões de utilizadores e 140.000 condutores registados em 550 cidades brasileiras, a 99 é clara líder num mercado cada vez mais competitivo – que, além da Uber, inclui a Cabify e a Easy. No entanto, para a Didi e Uber, o Brasil é apenas um trampolim, ainda que massivo, para um mercado muito maior: América Latina. A batalha está apenas a começar.

Apenas há alguns meses a Bloomberg escreveu que a Uber, sediada na Califórnia, se “sente atraída” pela América Latina, área que a empresa vê como “terra prometida”, onde “pode crescer rapidamente, com fraca e subfinanciada concorrência.” Agora, através da 99 brasileira, a Didi Chuxing também se encontra bem posicionada para se expandir pela América Latina, surgindo como concorrência para a rival dos EUA.

A situação da Didi

O investimento da Didi é apenas mais um passo numa série de movimentos que deram à empresa crescente controlo sobre empresas de transporte privado urbano nos últimos dois anos.

A empresa tem uma grande capacidade para lidar com rivais e construir parcerias – e, por vezes (e de forma contraditória), parcerias com empresas em alguns países enquanto as mesmas surgem como rivais noutros. A Didi formou uma parceria com a Lyft para rivalizar com a Uber, apenas para entrar para o conselho de administração da Uber e a Uber para o seu.

A Didi está a ganhar acesso ao quinto maior país do mundo em termos populacionais com o investimento na 99 – e embora os seus planos não sejam inteiramente claros, além de maior expansão, os mesmos deverão preocupar as suas concorrentes. Até agora, a Didi provou que consegue entrar em mercados fora da China – através das suas parcerias – enquanto as suas rivais são deixadas a especializarem-se nos seus próprios mercados.

Jean Liu, presidente da Didi, afirmou numa entrevista ao Wall Street Journal no ano passado:

"Queremos ser globais. Queremos ser uma empresa global."

E avançou à Vanity Fair, também em 2016:

“Somos uma grande patrocinadora de empresas locais. Se não existirem parceiros locais, vamos sozinhos. Vamos jogar um jogo global.”

A Didi deixou claro que a expansão global é uma das prioridades da empresa e o recente investimento na 99 prova que planeia realizar os mesmos movimentos agressivos este ano.

Quem vencerá a guerra?

Dinheiro – é o que ambas as empresas procuram na América Latina. Tanto a Uber como a Didi sabem, no entanto, que têm de investir de forma significativa. Encontrar o equilíbrio perfeito poderá ser difícil, especialmente para a Uber que terá alegadamente perdido mais de 2,2 mil milhões de dólares nos primeiros nove meses de 2016. Ainda assim, com 11 mil milhões de dólares de investidores de capital de risco, a empresa tem margem de manobra. Contudo, com o apoio da Alibaba (NYSE: Alibaba Group Holding [BABA]), Tencent (HKEX: Tencent Holdings [0700]) e Apple (NASDAQ: Apple [AAPL]), a Didi também tem margem de manobra.

É demasiado cedo para determinar quem vencerá a guerra. Uma coisa, no entanto, é clara: será necessária grande capacidade para permanecer na luta. Com a Uber a investir, em simultâneo, em carros autónomos, os condutores humanos poderão ser apenas peões temporários num jogo muito maior.

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