A experiência e dicas de Todd M. Wenning, analista, contadas na primeira pessoa
“Tem de se proteger do arrependimento.” – Daniel Kahneman
Recordo-me de estar numa sala de conferências, há cerca de dez anos, a discutir ideias de ações com um grupo de investidores. As ações que apresentei tinham por detrás empresas com bons modelos de negócio e posição competitiva – bem como com boas equipas de gestão. A capitalização de mercado também parecia razoável.
No entanto, quando questionado se compraria as ações, hesitei.
“E se as ações caírem 20% logo depois de as comprar?” – pensei. “Vou parecer um tolo.”
Outro investidor sentiu a minha timidez e inexperiência e deu-me o melhor conselho que alguma vez poderia ter recebido naquela fase da minha vida. “Trata-se de uma área em que é necessário tomar decisões.” – Afirmou. “Não pode ter medo de tomar uma decisão.”
Tempo para decidir
Nunca é fácil separarmo-nos de dinheiro fruto do nosso trabalho para fazer um investimento com resultado incerto. É verdade quer esteja a tomar a decisão sozinho ou com um consultor financeiro.
Dito de outra forma: quando se trata de investir em ações precisa de se sentir confortável com a incerteza. Tal é especialmente relevante se esperar ganhar retornos acima da média.
Ah, mas e se o investimento não correr bem? A dor de uma perda permanente de capital pode estancar qualquer alegria sentida por outros ganhos. De facto, os economistas que analisam o comportamento concluíram que os seres humanos são até 2,5 vezes mais avessos a perdas face a ganhos semelhantes. Em termos práticos: sentimos mais a dor de perder uma nota de 100 euros do que a felicidade de encontrar uma nota de 100 euros na rua.
Tudo isto se relaciona com instinto humano básico. Quando o homem era caçador-colector, perder metade do stock alimentar da tribo era uma crise real. Ter mais 50% de “stock” era um bom bónus mas não uma questão de vida ou de morte. Apesar da aversão ao risco ter apoiado a sobrevivência da nossa espécie, surge como prejudicial para nós enquanto investidores modernos.
O que podemos fazer?
O receio do arrependimento e da perda tem levado a que muitos investidores – e estou incluído neste grupo – evitem importantes decisões de investimento. Embora estejamos biologicamente moldados para pensar e sentir assim, há algumas táticas que podem ser empregues para enfrentar essas forças.
Limitar a verificação do preço e do desempenho. Quanto mais invisto, mais estou convencido de que a pior coisa que um investidor focado no longo prazo pode fazer é verificar com frequência o desempenho dos seus investimentos. Verificar o desempenho convida a vieses adicionais – como o viés da confirmação, o viés da retrospetiva e a aversão à perda. Como Michael Mauboussin do Credit Suisse disse: “Os preços podem ir de ser uma fonte de informação a uma fonte de influência.”
Digamos que investiu numa empresa e que o respetivo relatório trimestral mostra grande melhoria – contudo, a mesma não foi ao encontro das elevadas expectativas do mercado. A ação cai, assim, 5%. Vê esta queda na televisão e pensa “Oh, o que fui fazer?”. Começa a stressar, em busca de formas de equilibrar a sua carteira – o que só agrava o problema. Inversamente, se uma ação que comprou disparar 10% poderá ficar com a falsa impressão de que é um novo guru do investimento – começando a fazer apostas mais agressivas como resultado dessa ultra confiança.
Limite a frequência, na medida do possível, das suas visitas ao site da sua corretora, do acompanhamento dos preços em tempo real ou do consumo de notícias financeiras.
Tenha um período de reflexão de 24 horas. Se estiver sob emoções fortes – seja de prazer ou desespero – dê um passo atrás antes de tomar uma decisão de investimento. Vá correr ou fazer uma caminhada. Medite. Durma sobre o assunto. Consulte o seu consultor financeiro. Faça o que for necessário para deixar a emoção arrefecer.
Sim, enquanto adia a decisão o valor do investimento poderá cair. Contudo, ao longo de anos de investimento, os benefícios de esperar e de tomar decisões calmas compensam face a perdas conduzidas por tomada de decisão em pânico.
Tenha um ponto de referência alternativo. Os investidores costumam comparar os seus retornos ao mercado amplo, como o S&P 500. Não há nada de errado nisso. Numa base anual, no entanto, o que impulsiona o desempenho nesse índice provavelmente difere da sua estratégia.
Se for um investidor focado no crescimento irá provavelmente perder para o mercado quando o valor superar e vice-versa. Se não estiver ao corrente destas correntes de mercado, poderá ver-se tentado a mudar a sua abordagem de investimento pensando que está a fazer algo errado.
Uma referência alternativa deve relacionar-se com os fundamentos das ações que constam da sua carteira. Por exemplo: se for um investidor focado em dividendos poderá dizer que quer alcançar crescimento de dividendos na ordem de 6% a 8% ao ano. Desta forma, mesmo que o seu estilo não vá ao encontro de um índice num dado ano poderá sentir-se confortável com a sua abordagem se a sua carteira gerar, por exemplo, um crescimento de 9% dos dividendos.
O comum desta abordagem passa por afastar-se da tomada de decisão baseada em emoções, focando-se nos fundamentos da atividade subjacente.
Conclusão
Um investidor tem de tomar decisões. Quanto melhor se conhecer a si próprio e às razões pelas quais investe e toma decisões, maiores são as probabilidades de alcançar retorno satisfatório sobre os seus investimentos.
Seja paciente e mantenha o foco.