O que precisa de acontecer para que as criptomoedas sejam levadas a sério
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9 de Abril de 2018

O que precisa de acontecer para Wall Street, investidores e governos de todo o mundo levarem as criptomoedas a sério? A opinião de Sean Williams, que colabora com o The Motley Fool.

Regulamentação, regulamentação, regulamentação

A regulamentação provavelmente surge como o único fator capaz de restaurar a fé nas criptomoedas no curto prazo. Repare, alguns investidores avançaram na loucura inicial das criptomoedas sob a noção de suposto anonimato: as suas transações não foram conduzidas através de redes bancárias tradicionais e não tiveram de vincular o seu nome às suas contas em plataformas de câmbio de criptomoedas. No entanto, é precisamente o anonimato, além da natureza selvagem do mercado, a razão pela qual investidores acreditam tratar-se de moda passageira, convictos de que a regulamentação não vai alterar nada.

Porém, estão errados. Para começar, a regulamentação oferece validação. Quantos mais governos em todo o mundo apertarem o controlo sobre as criptomoedas, mais as criptomoedas se tornarão uma classe de ativos florescente. A Coreia do Sul, por exemplo, anunciou em janeiro que não continuaria a permitir que investidores acrescentassem fundos a plataformas de câmbio de criptomoedas, a partir de contas bancárias domésticas, a menos que fornecessem o seu nome e outra informação de identificação. Os reguladores sul-coreanos não estão a tentar terminar com o mercado de criptomoedas, estão a procurar validar a sua existência.

Também testemunhámos recentemente iniciativas das maiores redes sociais do mundo: proibiram, de forma coletiva, publicidade relacionada com criptomoedas e Ofertas Iniciais de Moeda (ICO). A Facebook em janeiro, a Google até junho e a Twitter recentemente — estão todas a dizer adeus a anúncios relacionados com o sector. Rob Leathern, diretor de gestão de produto na Facebook, avançou em janeiro: «Criámos uma nova política que proíbe anúncios que promovam produtos e serviços financeiros frequentemente associados a práticas promocionais enganosas, como as opções binárias, as ofertas iniciais de moeda e as criptomoedas.»

À superfície, as ações tomadas por estas titãs das redes sociais parecem prejudiciais para o mercado — poderão reduzir substancialmente as impressões diárias, o que poderá retardar ou reverter fluxo de fundos para o mercado de criptomoedas. Contudo, em última análise poderão ajudar a formar alicerces através dos quais os investidores se tornarão mais informados, disseminando informação de forma ordenada — em vez de através de publicidade em massa, em que se torna difícil distinguir o bom do mau. A regulamentação é positiva, é um passo necessário para que as criptomoedas sejam levadas a sério.

Aplicação no mundo real

Em seguida, o mercado de criptomoedas tem de ultrapassar a «prova de conceito».

Têm sido várias as empresas de referência a avançar iniciativas neste sector, criptomoedas e tecnologia blockchain, nos últimos dois anos. Porém, em muitos casos os projetos conduzidos são pequenos, ou pouco abrangentes, e carecem de algo que se aproxime de escalabilidade para o mundo real. Para que as criptomoedas se tornem fiáveis, vamos precisar de ver mais projetos baseados na tecnologia blockchain a moverem-se para além de testes de «prova de conceito» — com aplicação no mundo real.

A Fundação IOTA anunciou em novembro passado o lançamento beta do seu Data Marketplace, uma rede baseada na blockchain que permite a venda ou partilha de dados não utilizados. Considerando que a maioria dos dados das empresas se torna inútil a dado ponto, esta ideia foi vista como revolucionária — mesmo na sua versão beta. Porém, com a capitalização de mercado da IOTA a aumentar, o número de utilizadores na rede também aumentou, desacelerando o tempo de processamento. Ou seja, ao escalar a rede IOTA enfrentou grandes obstáculos.

Num sentido mais amplo, a tecnologia blockchain é apanhada num vicioso paradoxo. Por um lado, demonstrou sucesso em vários projetos-piloto de pequena escala. No entanto, as empresas não se têm mostrado dispostas a substituir as redes existentes pela blockchain. A razão? A carência de testes na aplicação ao mundo real — e de escalabilidade comprovada. Contudo, a escalabilidade e teste no mundo real não se podem provar se nenhuma empresa der uma hipótese à tecnologia.

Além disso, a blockchain não se ajusta a todas as indústrias, mesmo na sua forma não monetária, e o custo de integrar a blockchain — ou de substituir uma rede existente — poderá ser enorme. Porém, se quisermos que as criptomoedas e a blockchain ganhem aceitação, vamos precisar de ver aplicação da tecnologia no mundo real.

Consolidação das criptomoedas

Por último, mas não menos importante, vamos precisar de observar grande consolidação no mercado de criptomoedas — o que representa atualmente cerca de 1650 criptomoedas passíveis de investimento. Sei o que poderá estar a pensar: «Mas há milhares de ações negociadas em bolsa, e o mercado de ações parece estar a operar de forma eficiente.» Embora seja verdade, deve recordar que o mercado de ações é regulado e o mercado de criptomoedas não é na sua maioria.

A maioria das criptomoedas que levou a cabo uma Oferta Inicial de Moeda não reuniu capital suficiente para se tornar viável no longo prazo — e um número de outras carece de volume de negociação regular. Compreenda que a consolidação poderá tomar várias formas. Poderá significar remover a capacidade de investir em criptomoedas que não conseguiram reunir fundos adequados durante uma Oferta Inicial de Moeda ou poderá mesmo envolver consolidação de projetos na blockchain.

No fundo, o mercado de criptomoedas só será levado a sério quando se encontrar reduzido a criptomoedas viáveis, reguladas e aceites de forma ampla.

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