O que a Bitcoin e o Snapchat revelam sobre o futuro da tecnologia
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19 de Julho de 2018

A Bitcoin e o Snapchat são dois produtos bastante populares — e embora distintos entre si no centro do seu sucesso encontra-se a mesma ideia contraintuitiva. Compreendê-la poderá ajudar-nos a determinar qual a próxima "big thing" do mundo da tecnologia. [A opinião de Tony Aubé, partilhada no Hacker Noon].

Bitcoin

Um dos mais importantes recursos dos computadores é o facto de serem capazes de duplicar informação facilmente.

É difícil apreciar o quão conveniente isso é. Antes dos computadores, se enviasse uma carta escrita à mão a mesma «ia-se». Só havia uma versão da carta no mundo. Hoje, é possível enviar o mesmo e-mail a uma quantidade infinita de indivíduos.

Uma grande parte dos anos 1990 e 2000 prendeu-se com a habituação a este novo mundo onde a informação, a música, os filmes, e outros podem ser continuamente duplicados e partilhados. Agora, já estamos habituados a isso. Tomamo-lo por certo.

Porém, a Bitcoin veio mudar a situação.

Uma das grandes inovações proporcionadas pela Bitcoin é a escassez digital. Uma Bitcoin é digital, mas é única também. Tal como um e-mail, pode enviar uma Bitcoin para qualquer pessoa no mundo. Porém, ao contrário do e-mail, não pode duplicá-la. Tal como uma carta escrita à mão quando enviar uma Bitcoin a mesma «vai-se».

De certa forma a Bitcoin leva-nos de volta aos dias pré-computadores. A sua maior inovação não se prende com o acrescentar de novos recursos — prende-se com a remoção de um: a capacidade do computador para duplicar elementos digitais.

Esta ideia é tão simples que é quase idiota. Ainda assim criou um mercado de cerca de 300 mil milhões de dólares (285 mil milhões à hora de escrita). Lançou milhares de novas start-ups e mudou completamente a forma como pensamos sobre a tecnologia, finanças e governança.

Snapchat

Outra característica dos computadores é que, por padrão, registam tudo.

Assim, nos anos 2000, quando o Facebook e o Twitter levaram as nossas vidas pessoais para o mundo digital, passámos a encarar algo novo: qualquer interação que temos nesse mundo fica registada para sempre.

Não o percebemos na altura mas havia algo de extremamente bizarro sobre isso. Isto porque, na vida real, as interações humanas não duram para sempre. Desvanecem-se. São efémeras.

E então surgiu o Snapchat e a sua grande inovação: as mensagens efémeras.

Tal como a Bitcoin, o Snapchat levou-nos de volta para os dias pré-computadores. As conversas digitais passaram a poder desaparecer tal como na vida real. Foi um sucesso instantâneo.

Tanto quanto o verificado com a Bitcoin, uma das grandes inovações do Snapchat não se relaciona com o adicionar de um novo recurso. Tratou-se da remoção de um recurso: da capacidade dos computadores para registarem tudo.

Uma vez mais, uma mudança simples e contraintuitiva criou um mercado significativo: uma empresa avaliada em cerca de 16 mil milhões de dólares e um recurso hoje usado por mais de 1,2 mil milhões de indivíduos em todo o mundo.

Conclusão

A Bitcoin e o Snapchat são produtos muito diferentes, mas no centro do seu sucesso está a mesma ideia: em vez de adicionarem novos recursos, removeram recursos. Os seus criadores analisaram com atenção as propriedades fundamentais dos computadores, neste caso o registo e a fácil duplicação de informação. Enquanto todos achavam que essas propriedades surgiam como intrínsecas aos computadores, os seus fundadores removeram-nas. Ao fazê-lo, criaram produtos bem-sucedidos e utilizados em todo o mundo.

Tal verificou-se pois tornaram a tecnologia mais humana. Aproximaram-na do que a vida era antes dos computadores.

Creio que a Bitcoin e o Snapchat são apenas a ponta do icebergue. Haverá muitas oportunidades por descobrir. Num mundo em que todos competem para encontrar o próximo recurso inovador — realidade aumentada, realidade virtual, inteligência artificial, etc. — qual será a chave? Construir novos recursos ou removê-los?

Os computadores são enigmáticos. Têm propriedades fundamentais que os tornam completamente diferentes da forma como evoluímos nos últimos milhões de anos. São rápidos. Duplicam e transmitem informação sem esforço. Registam tudo.

Os anos 1990 e 2000 serviram para nos habituarmos a essas novas invenções. A próxima década será sobre torná-las menos estranhas, mais reais.

Fonte: Hacker Noon

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