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Já diziam os romanos que errar é humano. Mas e se puder transformar os seus erros em lições? Apresentamos-lhe uma metodologia que permite que você tire o maior proveito possível dos seus erros.

Ray Dalio é o fundador da Bridgewater Associates, um dos maiores fundos de cobertura do mundo – e foi considerado como uma das pessoas mais influentes do mundo por várias listas). Com um património líquido de 15,3 mil milhões de dólares, em Outubro de 2014, Dalio surge como a 30ª pessoa mais rica dos Estados Unidos. É, por todos os padrões, extraordinariamente bem sucedido.

Qual o segredo do sucesso de Dalio? A capacidade de reconhecer os seus erros e de sistematicamente aprender com os mesmos.

“Eu aprendi que toda a gente comete erros e tem pontos fracos (...)” Avança Dalio num documento de 123 páginas que delineia os seus princípios de vida e de gestão.

“(...) e que uma das coisas mais importantes que diferencia as pessoas é a abordagem a lidar com os erros. Aprendi que existe uma beleza incrível nos erros pois cada erro foi provavelmente o reflexo de algo que eu estava a fazer de forma errada – logo eu poderia descobrir do que se tratava e poderia aprender como ser mais bem sucedido.”

Aprender com os erros – é mais fácil dizer do que fazer?

Em “Mistakes were made (but not by me)” o psicólogo social Elliot Aronson argumenta que os nossos cérebros estão constantemente a trabalhar para manter uma auto-imagem positiva, para que acreditemos que estamos a fazer o que é certo. Estes “pontos cegos de preservação do ego” são, segundo Aronson, dominantes: mesmo os promotores em investigações policiais com provas claras de ADN têm dificuldade em aceitar que “tenham sido cometidos erros”.

Também nem sempre é exatamente claro o que “aprender com os seus erros” significa na prática. Se você não tem um plano, pode facilmente acabar a armazenar o que correu mal. Isto poderá ser ainda pior do que simplesmente ignorar completamente os erros – você não aprende nada e sente-se mal.

Ao longo da sua carreira, Dalio desenvolveu um conjunto sistemático de princípios para analisar erros dentro da sua própria empresa e um grupo de questões a colocar quando algo corresse mal. Fortemente inspirado pelos princípios e pelas questões de Dalio, o site ClearerThinking.org – que oferece cursos online gratuitos para ajudar as pessoas a evitar as armadilhas do pensamento e a tomar melhores decisões – criou umpequeno processo, passo-a-passo, que qualquer pessoa pode facilmente utilizar para aprender com os seus erros, analisando-os. O processo envolve seis questões que você deverá colocar a si mesmo sempre que cometer um erro e queira retirar algo de útil do mesmo; e três princípios gerais a interiorizar para aprender o máximo possível com os seus erros.

As seis questões

1. O que correu mal?

Quando você comete um erro muitas vezes não é imediatamente claro o que é que correu mal. Você poderá ter uma ideia vaga de quais os fatores que terão contribuído para o problema mas ainda não está clara qual a cadeia de eventos que conduziram ao problema. Fazer uma lista específica de fatores ou eventos concretos poderá ajudá-lo a pensar mais claramente sobre as causas imediatas e profundas do problema e a identificar o que você terá feito que terá levado ao problema.

2. Você já cometeu um erro como este antes?

Se esta é a primeira vez em 20 anos em que você se esqueceu de enviar um cartão de aniversário à sua mãe – a forma como você irá responder a este erro é provavelmente diferente da forma como responderia se se esquecesse quase todos os anos. Questionar-se sobre se terá cometido um erro semelhante antes ajuda a determinar o objetivo da sua resposta – se só tem que lidar com esta situação ou se precisa de lidar com um problema subjacente mais profundo.

Se você nunca esqueceu o aniversário da sua mãe antes você vai querer perguntar a si mesmo o que se terá passado que o tenha levado a esquecer-se nesta situação específica – provavelmente você estava extraordinariamente sobrecarregado de trabalho, tornando-se muito mais esquecido do que habitualmente. Se se trata de algo que acontece repetidamente você deve ir mais fundo: você é geralmente uma pessoa esquecida? Existe alguma coisa que você possa fazer para mudar essa situação?

3. Qual foi a causa imediata do problema?

De seguida você vai querer identificar a causa imediata do problema. As causas imediatas tendem a ser específicas à situação corrente e referem-se, com frequência, a uma ação específica que você tomou ou deixou de tomar. Se não conseguiu concluir um projeto a tempo a causa imediata poderá ser que você não agendou o seu tempo de forma eficaz nas semanas que antecederam o projeto ou que, por exemplo, você assumiu muitas responsabilidades adicionais na mesma altura.

4. Qual foi a raiz do problema?

Depois de identificar a causa imediata questione-se se existirá uma causa base do erro que cometeu. As causas mais profundas tendem a ser mais genéricas e frequentemente descritas como aspetos da sua personalidade ou de certas disposições.

No caso de não conseguir concluir um projeto a tempo a raiz do problema poderá ser o facto de você não ter hábitos eficazes de gestão de tempo ou o facto de ter tendência para dizer que sim a mais coisas do que aquelas para as quais tem realmente tempo para se comprometer.

5. O que é que você pode fazer para corrigir o problema no curto prazo?

Depois de identificar a causa imediata do problema você poderá tentar perceber o que pode fazer para corrigi-lo no curto prazo. Prepare um plano de ação específico que o irá deixar lidar com o problema e seguir com a sua vida da melhor forma possível. No caso de se ter esquecido do aniversário da sua mãe você provavelmente irá querer ligar-lhe, lamentar profusamente, enviar um cartão tardio e um presente extravagante e esperar que a sua mãe compreenda...

6. O que é que você pode fazer para evitar problemas como este no longo prazo?

Por último, se você cometeu erros semelhantes no passado dispense algum tempo a pensar como pode prevenir que problemas semelhantes ocorram no futuro. Esta poderá muito bem ser a parte mais desafiadora do processo e vale a pena gastar uma considerável quantidade de tempo e esforço com a mesma.

Pensar na raiz do problema que identificou: será que foram os seus hábitos e tendências que o levaram a cometer este erro particular? Existe um padrão geral de erros ao qual este erro pertença? E em que consiste esse padrão? Uma vez que refletiu sobre o seu padrão de erro poderá pensar em formas para o corrigir. Se o problema surgir de certos hábitos – ou falta de hábitos – que novos hábitos poderá você construir que o ajudariam a evitar estas questões? Se você tende a entregar projetos tarde, por exemplo, poderá querer adquirir o hábito de utilizar um calendário para garantir que programa tempo suficiente para trabalhar em projetos de longo prazo.

Os três princípios

Além de ter um processo para lidar com os problemas como e quando os mesmos surgem é também útil ter alguns princípios chave a ter em conta numa base diária.

1. “Lembre-se que a maioria dos problemas são potenciais melhorias.”

O primeiro passo para aprender com os seus erros passa por relembrar-se de que pode aprender com os mesmos. Isto poderá soar como óbvio mas na verdade a maioria das pessoas não encara os seus erros como oportunidades de aprendizagem. Se você conseguir interiorizar isto poderá vir a transformar o maior erro numa experiência positiva. Pesquisas mostram que as pessoas que acreditam que podem aprender com os seus erros têm uma reação neurológica diferente ao problema e recuperam dos erros muito mais rapidamente.

2. “Seja honesto consigo mesmo em relação às suas falhas.”

É natural que queria esconder as suas falhas tanto das outras pessoas como de si próprio – mas esconder as suas falhas não as elimina. Elas sentam-se e apodrecem no fundo, afetando a forma como você pensa e se comporta – não importa o quão você tenta ignorá-las. Ser honesto consigo mesmo em relação às suas falhas significa que poderá realmente começar a melhorá-las.

3. “Identifique tanto a causa imediata como a raiz do seu problema.”

Cada erro tem dois tipos de causas: a causa imediata, específica à situação, e a raiz, geralmente mais genérica e relacionada com aspetos da personalidade ou comportamentos habituais.

Tanto a causa imediata como a raiz são importantes de reconhecer – se só identificar uma está somente a encarar parte do problema. Reconhecer a causa imediata ajuda a corrigir o problema no curto prazo enquanto que compreender a raiz irá ajudá-lo a começar a pensar sobre como evitar os mesmos erros no futuro.

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