O fotógrafo Reiner Riedler dedica-se a documentar locais que reproduzem destinos de sonho. Tais locais são muito procurados por quem não tem tempo ou dinheiro para viajar até ao lugar original.
Está calor, a água está quente, e o céu azul estica-se por todo o horizonte. Que não é realmente muito longínquo. Apesar de todas as evidências dos sentidos mostrarem o contrário, estamos dentro de quatro paredes — aglomerados num globo de plástico gigante num dos mais antigos centros industriais do Norte da Europa. Bem-vindos ao mundo das "férias falsas," como foi documentado pelo fotógrafo austríaco Reiner Riedler.
Muitas revistas de viagens, guias de viagem e sites concentram-se em experiências "autênticas"; fora dos circuitos habituais que revelam a verdadeira cultura para além dos clichês turísticos. Riedler passou a última década a documentar o fenômeno oposto - destinos artificiais que imitam outros lugares de todo o mundo, abandonando qualquer noção de autenticidade a favor da facilidade e comodidade. Quer seja assistir a um pôr-do-sol do Pacífico na Alemanha, ou jantar sob as ruínas maias na Flórida, ou praticar snowboard no Dubai, muitas pessoas estão dispostas a dispensar o esforço e a despesa das viagens a favor de um simulacro barato e confortável em vez da verdadeira experiência.
Las-Vegas, 2005
México, Epcot, o Centro Mundial de Descanso de Walt Disney, Orlando, Flórida, os EUA, 2005
O interesse de Riedler foi inicialmente despertado pelas praias artificiais, que ele viu surgirem em Berlim e Hamburgo. Todos os seres humanos, diz ele, desejam um contato profundo com a natureza. Mas "também somos muito simples. Necessitamos apenas de alguns componentes como a areia, umas cadeiras de praia, uma bebida fria, um pouco de água e música, e sentimos que estamos de férias."
Um dos temas favoritos de Riedler, Berlim Tropical Islands Resort, possui 50 mil plantas diferentes, uma enorme lagoa e um horizonte artificial envolvente, todos alojados dentro de uma cúpula digna do The Truman Show.
Tropical Islands, Alemanha
Obviamente, o clima do norte europeu torna mais fácil entender o apelo de um refúgio quente, mesmo que seja manufaturado. O Vichy Aqua Park com temática da Pacific Island em Vilnius, capital da Lituânia, oferece uma escapada quente, húmida, da escuridão que prevalecer no Báltico.
Aqui, pode combinar a sua sauna Bora Bora com uma experiência de vapor Tahitian Mist, antes de repor alguns dos fluidos que perdeu com um ou dois coquetéis polinésios no Aloha Bistro.
Dois atores vestidos como polinésios está a descansar no Vichy Aqua Park em Vílnius, Lituânia
A fórmula é revertida em Dubai, sede da maior (claramente) paisagem nevada manufaturada do mundo. "Muitas pessoas lá nunca viram neve; vão apenas para tocar nela," declara Riedler. "Ninguém era um bom esquiador."
Ski Dubai, Dubai, 2006
Enquanto algumas atrações estão satisfeitas em interferir com a geografia, outros a tomam liberdades com a história, também. A Experiência de Holy Land em Orlando, Florida, inclui um templo enorme, uma arena para grupos de rock que cantam, e um edifício cheio de estátuas pintadas com figuras bíblicas.
A atração principal, no entanto, é o "Caminho da Morte." Todos os dias, os visitantes podem ficar na rua e observar como os soldados romanos trataram Jesus antes de o pregar para ser crucificado. "Ver o público a chorar durante a atuação e depois aplaudir foi... estranho," diz Riedler, com eufemismo Teutónico.
A Experiência de Holy Land em Orlando, Florida, 2005
O Titanic Beach Resort, em Antalya, na Turquia, é menos teatral mas igualmente macabro. Embora tenha pouca semelhança com o malfadado transatlântico, imita contudo a forma do casco de um navio genérico: No entanto aquecendo a água, é difícil nadar na piscina circundante sem pensar nas 1.500 almas que faleceram no gelado Atlântico Norte.
O Titanic Beach Resort, em Antalya, na Turquia
Um navio marítimo de um tipo bem diferente é a inspiração para Minsk World, em Szecheun, China. Este parque com temática militar centra-se num antigo porta-aviões russo, com as principais atrações a incluir um punhado de caças de combate MiG, um par de helicópteros e um incrível sistema de mísseis naval A-11 M Shtorm terra-ar.
Minsk World, em Szecheun, China
A Janela do Mundo, também na China, é uma espécie de pequeno museu dos maiores sucessos do turismo mundial. Recria destinos emblemáticos na escala de 6:1, permitindo aos visitantes cobrir tudo desde o "Amazon Jungle Shuttle" até ao "Alpine Ice World" - completo com um castelo brilhante, translúcido, uma pista de esqui coberta e uma pista de gelo - num dia.
A Janela do Mundo, em Szecheun, China, 2008
A técnica fotográfica de Riedler, especialmente o seu uso de cor, intensifica a artificialidade destas escapadas, mas o seu objetivo não é ridicularizar os seus locais de trabalho. Pelo contrário. "Respeito sempre as pessoas no que toca ao que fazem e como se comportam. Compreendo perfeitamente porque anseiam pelos sítios dos seus sonhos," declara Riedler. “Todos ansiamos por eles."
Parks Bispingen Holiday Park, Alemanha, 2007
Parks Bispingen Holiday Park, Alemanha, 2007
Os próprios locais podem ser claramente falsos, mas a ânsia por eles— uma escapada compartilhada num outro local coletivo, imaginário — é real, e significativa.
E tal como os visitantes repetentes que se viciam nestes substitutos de escapadas, até o próprio Riedler parece ser incapaz de parar de as documentar. "É como uma droga," diz ele. "Não consigo parar."