Como encontrar o equilíbrio entre trabalho e família
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Scott Weiss revela que os seus tempos de maior sucesso profissional levaram ao fracasso nas suas obrigações familiares, e dá dicas para que você não caia no mesmo erro.

Como tudo começou

A minha esposa e eu fomos namorados no tempo da escola. Primeiro adiámos ter filhos por escolha, e depois por necessidade, porque estávamos a estudar administração. Mas depois de seis anos de casamento, achámos que era altura. Ambos trabalhávamos em startups e estávamos dedicados às nossas carreiras; estávamos à espera de conseguir prosseguir com as nossas carreiras e criar o nosso primeiro filho ao mesmo tempo. Para facilitar isso, encontrámos uma ama energética e fantástica a tempo inteiro. Na verdade, a minha mulher voltou ao trabalho apenas duas semanas depois do nosso primeiro filho nascer, porque a startup onde ela trabalhava estava a aproximar-se de uma IPO, e a nossa ama apoiou-nos durante esse período.

Quando a minha esposa ficou grávida com o nosso segundo filho, eu era um parceiro gerente na Idealab, uma incubadora de startups, onde uma grande parte do meu trabalho envolvia fechar empresas que tinham sofrido com a explosão ponto-com. Planeava tirar algum tempo e ficar em casa enquanto a minha mulher voltava ao trabalho seis meses depois do nascimento, mas quando a nossa segunda filha nasceu, 22 meses depois, muito tinha mudado. Desencantado com o meu trabalho, e com vontade de construir algo meu, decidi começar uma empresa. Quando trouxemos a nossa filha do hospital para casa, eu já estava lançado com a angariação de fundos para o que viria a ser a IronPort, uma startup de segurança de correio electrónico.

Crescimento profissional

Eramos só eu e o meu co-fundador no início, e apesar de termos uma visão ambiciosa – proteger empresas contra todas as ameaças relacionadas com a Internet – ainda não tínhamos os recursos para a aumentar. Por isso inicialmente fizemos tudo nós mesmos. A vida a que uma pessoa se dedica no estádio inicial de uma startup de tecnologia envolve chegar cedo, matar-se a trabalhar para fazer algo fantástico, e lançar um produto significativo antes de ficar sem dinheiro. Isto permaneceu verdade até mesmo depois de começarmos a contratar pessoas. Eu não programava, mas como CEO sentia a necessidade de estar lá fisicamente com a equipa de engenharia. Às vezes, levava-lhes almoço ou jantar. Quando começámos a fazer fins-de-semana de programação constantemente, toda a equipa de administração vinha servir os engenheiros: trazíamos-lhes comida, lavávamos os seus carros, mudávamos o óleo, íamos à lavandaria, e arranjámos um infantário para as suas crianças no escritório.

Graças a todo o esforço, a IronPort, acabou por crescer bastante e ter sucesso nos seus sete anos como empresa independente, antes de ser adquirida pela Cisco. Foi uma experiencia profissional que aparece uma vez na vida. Mas estes anos mais brilhantes em termos de trabalho foram sem dúvida os mais negros em casa. Tínhamos tido o bebé número 3 apenas 18 meses depois do segundo, o que nos forçou a fazer uma decisão sobre como sermos pais daqui para a frente. Fizemos as contas – e alguma meditação pessoal – e calculámos que seria preciso duas ou mais amas e outros ajudantes para permitir que continuássemos com o ritmo de trabalho com que estávamos. Por isso, depois de anos a trabalhar a tempo inteiro numa startup com o nosso primeiro filho, e continuar como vice-presidente sénior de desenvolvimento administrativo depois da sua IPO, a minha esposa com um mestrado em administração de empresas, que tinha tido uma carreira fantástica por mérito próprio, “decidiu” tornar-se uma mãe a tempo inteiro e cuidar dos nossos filhos.

Pela altura em que já tínhamos três jovens crianças, eu raramente estava em casa. E quando lá estava, bem, digamos que não era particularmente positivo e bom ajudante.

A minha perspetiva na altura era: eu estou a matar-me a trabalhar, por isso quando chego a casa só quero sentar-me com um cocktail e ver alguma televisão. Passava o dia a falar com pessoas por isso em casa preferia relaxar silenciosamente. Depois, à medida que a IronPort crescia, eu estava constantemente na estrada com clientes, imprensa, analistas, e claro, empregados. Acabámos por fazer a maior parte da nossa receita fora dos EUA, e todos sentíamos que era muito importante apoiar os nossos escritórios espalhados pela Europa, Ásia e América do Sul. Houve várias vezes em que eu estava fora mais de metade dos dias num certo mês. Mesmo quando estava em casa, estava geralmente num estado horrível privado de sono e a recuperar do ajuste a mais um fuso horário, e não podiam contar comigo para ajudar a cuidar das crianças.

A experiência da minha esposa era completamente diferente. Ela estava agora em casa a falar em palavras monossilábicas com as crianças o dia todo, e, quando eu entrava em casa, ela estava faminta por conversação adulta. E aquela parte de me sentar em frente da televisão com um cocktail? Isso ia contra todos os seus esforços de ensinar as crianças sobre o trabalho em conjunto como família. A mensagem de toda a gente ajudar a cozinhar, limpar, e ser responsável pela família caiu completamente quando o papá deixou de sequer levar os lixos à rua ou mudar uma lâmpada. Não, eu era demasiado importante para isso e sugeri que ela contratasse alguém para manter a casa limpa e mesmo cozinhar, se isso a estivesse a “stressar”.

Ugh. Eu estava completamente alienado. Estava a dar um exemplo tão bom no trabalho, mas tão mau em casa, onde frequentemente agia como um imbecil importante. Algo tinha de mudar.

Momento importante

Depois de a Cisco comprar a IronPort, fui trabalhar para lá durante alguns anos, depois despedi-me e tirei 18 meses. Durante esse tempo a minha relação com a família mudou completamente. Eu empacotava almoços, dava boleias, fazia o jantar; comecei a fazer a minha parte. Com a ajuda da minha mulher e outros pais exemplares, fui essencialmente reprogramado. Em 2011, juntei-me à Andreessen Horowitz como parceiro. Mas o meu novo papel em casa continuou a funcionar para nós mesmo comigo a trabalhar a tempo inteiro.

Agora, a minha esposa e eu estamos casados há 22 anos. Refletindo nos anos que passámos enquanto pais, aqui estão alguns dos aspetos mais críticos que eu precisava de mudar:

Desconectar para conectar

Durante os dias da IronPort, quando os meus filhos eram pequenos, pensei que o que estava a fazer no trabalho era muito mais importante e urgente do que o que estava a acontecer em casa. Fui muitas vezes acusado de estar fisicamente presente sem estar presente mentalmente. (Se está a fugir para a casa de banho para completar e-mails, então certamente não está no momento.) A minha esposa dava-me uma série de pistas, mas eu não me intimidava. Quando saí da IronPort, percebi que para me comprometer com a minha família era necessário desconectar-me do trabalho (por exemplo, desligar o computador e o telefone), e concentrar completamente toda a minha atenção nos detalhes da casa. Cozinhar uma grande refeição. Ajudar com um projeto de ciências. Discutir o futuro com a minha parceira.

Planeamento e Prioridades

A minha esposa e eu temos uma noite semanal para nós. O meu filho e eu estamos num campeonato de futebol fantasia juntos. Cozinho com minhas filhas. Na maioria das vezes estes tornaram-se compromissos imovíeis no meu calendário. Quando o meu calendário reflete que não posso fazer uma reunião na quarta e sexta-feira de manhã antes das 9h porque tenho de fazer o pequeno-almoço e fazer a ronda das boleias, então é incrível como as reuniões simplesmente não se marcam. (Se for de todo possível, viver fisicamente perto do escritório também é uma grande ajuda para fazer malabarismos com as prioridades. Significa que posso parar para um jantar de família e depois voltar para o escritório ou ter uma reunião mais tarde)

Comunicar

Quando estava a viajar pela IronPort, às vezes passava dias sem comunicar com toda a gente. Quando amigos perguntavam à minha esposa, "Ei, onde está o Scott esta semana?", Ela sinceramente tinha de responder: "Não faço ideia, terá de lhe mandar um email você mesmo." Estava de tal forma vidrado. Agora que estou completamente em sintonia com a agenda semanal da família, planeamos e calendarizamos as refeições da família (talvez a coisa mais importante que fazemos), boleias, e fazemos ajustes em tempo real. Por exemplo: Acabei de ter algum tempo livre de repente de forma a poder apanhar os últimos 30 minutos do jogo de basquete das crianças? Posso apanhar alguma coisa a caminho de casa? E assim por diante. A minha norma é dar uma apitadela entre as reuniões, mas se sou o "pai de plantão" – ou seja, se a minha esposa está fora da cidade – então vou começar uma reunião com, "Vai ter de me desculpar, mas a minha esposa está fora da cidade por isso preciso de manter o meu telefone à mão em caso de um problema." A comunicação era de longe a minha maior área a melhorar. Agora, múltiplas verificações diárias por telefone e mensagem são a norma. A comunicação também é importante num sentido mais amplo. Acredito que as famílias – e isso inclui toda a gente – têm de discutir as decisões de mudança de vida de cada um dos pais, tal como juntar-se a uma startup ou tornar-se CEO, juntos. E devem reservar-se o direito de alterar o contrato à medida que a sua vida juntos evolui.

Participar

É simplesmente impossível ser um verdadeiro parceiro se não está profundamente envolvido em todos os aspectos da família; não pode simplesmente pedir ao seu parceiro a delegar determinadas tarefas em si. Ou talvez possa, mas, então tem de uma decisão mútua partilhada – que também honre as escolhas e sonhos do seu parceiro. Mas eu, pessoalmente, acredito que até mesmo os CEOs mais agitados devem ter uma rota de boleias, embalar almoços, ajudar com os trabalhos de casa, fazer o pequeno-almoço ou jantar, e participar em eventos da escola de forma consistente. E note, a minha esposa não precisava de outra pessoa para "gerir" o agregado familiar; ela precisava que "me apoderasse” de algumas da nossas atividades da vida em família eu mesmo. Estar envolvido cada semana é a única maneira de se manter conectado em casa, e isso não pode ser terceirizado. Pode até fazer de si um CEO melhor uma vez que está mais sensível às necessidades dos outros.

Resumo

Há um debate que se trava nos corredores dos subdirectores, startups e outros centros empresariais intensos, que é: pode-se ter tudo? Não serão os melhores CEOs e fundadores tão ambiciosos, tão focados, que devem sacrificar tudo para funcionar? Vemos casais que lutam com isto em um nível pessoal, e há quase sempre um desequilíbrio que leva a sacrifícios profundos numa frente ou noutra.

O que historicamente tem sido um tanto original para Silicon Valley é a idade e o nível de experiência dos CEOs; este papel é muitas vezes conseguido uma década mais cedo do que nas indústrias tradicionais. Tenho observado que os CEOs nos seus 20 anos podem estar totalmente equipados e serem experientes o suficiente para lidar com uma empresa líder, mas quando a sua vida familiar começa a expandir-se e a exigência pela sua atenção aumenta, eles ficam à nora sem saber porque é que as coisas não estão a correr como esperado. As mudanças que descrevi, devem ser feitas idealmente antes de chegar a este ponto.

É fácil para mim partilhar este conselho agora – depois de ter vendido a minha empresa. A realidade é que foram precisos certos sacrifícios, em termos da minha vida familiar, para fazer da IronPort um sucesso. Ainda assim, estou esperançoso. Estou esperançoso de que a nova geração, tendo crescido com fronteiras mais permeáveis ​​entre o trabalho e a casa, e estando tão habituada a que as novas tecnologias os mantenham ainda mais ligados de formas que não eram possíveis antes, se recuse a aceitar um mundo em que não se possa ter tudo.

Fonte: Medium

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