Como se tornar alguém com quem todos gostam de estar
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Perceba qual é a chave do carisma de certas pessoas, e saiba como o pode também desenvolver.

Há pessoas que é simplesmente uma bênção tê-las por perto. A conversa flui sem qualquer esforço. Ri-se. Sente-se genuinamente interessado nessas pessoas. Depara-se com a sensação de querer voltar a vê-las no futuro e quando as deixas sente que estar com elas foi um uso valioso do seu tempo.

Obviamente que esta ligação tem algo a ver com o quanto você tem em comum com essas pessoas. Contudo, acho que existe algo mais que isso. Acho que essas pessoas têm um ingrediente secreto.

Compreender a sua mentalidade

Segundo a psicóloga Carol Dweck, a mentalidade de uma pessoa pode vir com dois “sabores”: a mentalida fixa e a mentalidade de crescimento. Creio que ao compreendermos esta diferença, podemos entender por que razão existem pessoas com as quais passamos um melhor tempo do que com outras.

Resumindo, uma pessoa com uma mente fixa acredita que somos o que somos e que as coisas não mudam propriamente. Isto aplica-se tanto a outras pessoas como a nós mesmos; e aplica-se a traços de personalidade, a capacidades, a autoconfiança… esse tipo de coisa. Assim, com esse tipo de mentalidade, se sou má a matemática, vou ser sempre má a matemática. Não vale a pena desperdiçar o meu tempo a tentar. Se eu achar que não sou uma pessoa divertida, então é esse o meu destino… etc.

Por outro lado, o indivíduo com o tipo de mentalidade de crescimento acredita na evolução constante. Eu sou o que sou agora, no entanto, sou algo diferente daquilo que era antigamente e daquilo que vou ser no futuro. Se neste momento sou má a matemática, posso trabalhar nisso e potencialmente tornar-me num génio da matemática (dependendo da motivação). Se agora não sou uma pessoa muito engraçada, posso sempre praticar a minha habilidade para contar anedotas e daqui a uns tempos deixar as pessoas a rirem-se a bandeiras despregadas. É tudo uma questão de esforço.

Algumas pessoas tendem para um tipo de mentalidade mais fixo, e outras para o do crescimento, se bem que as coisas não são totalmente binárias. Muitos de nós vão andar a passar de um tipo de mentalidade para o outro dependendo da nossa situação.

A forma como avaliamos o nosso sentido de valor, de sucesso e de capacidade difere conforme da nossa mentalidade.

A pessoa com um tipo de mentalidade fixa costuma comparar-se em relação às outras pessoas. Para se sentir que é bom nalguma coisa, essa pessoa tem de ser melhor do que aqueles que o rodeiam (ou pelo menos ser quase o melhor). Quando é esse o caso, surgem imediatamente o medo ou o falhanço. É provável que essa pessoa se esquive ao desafio, mesmo (ou melhor, especialmente) a fazer coisas nas quais ele se considera bom. Isto porque o falhanço ameaça pôr em risco o seu estatuto de “talentoso”. Basta um pequeno descuido e deixa de ser o génio que acreditava ser. É melhor não arriscar.

Além disso, este tipo de mentalidade gera arrogância porque do seu lugar no topo muito bem protegido, uma pessoa com uma mentalidade fixa sente-se superior em relação às pessoas com quem se rodeia. Essa pessoa precisa de pensar dessa forma para se sentir bem consigo mesma.

Já a pessoa com um tipo de mentalidade de crescimento sente-se bem-sucedida, com valor, com propósito (seja o que for) quando está a aprender. Isto essencialmente quer dizer que nunca se falha porque quanto mais difícil uma coisa for, mais essa pessoa pode crescer por ter realizado essa mesma coisa. Com um tipo de mentalidade de crescimento, damos as boas-vindas ao desafio porque não interessa se consegue logo sucesso nessa coisa ou não. Não é preciso dizer que a longo prazo os que têm uma mente de crescimento tendem a evoluir mais.

Assim sendo, como é que isto se aplica no ser-se uma boa companhia?

Algumas pessoas com uma mentalidade fixa podem fazer-nos sentir pequenos, algo que parece agradar-lhes. Normalmente, vão ser essas pessoas a sorrir afetadamente sempre que tivermos um deslize. São aquele tipo de pessoa às quais não gostaríamos de mostrar um trabalho inacabado, ou que nos vissem vestidos com umas calças de fato de treino e uma t-shirt velha numa manhã de domingo. Aquelas a quem não quereríamos dizer algo estúpido à sua frente e às quais sentiríamos a necessidade de nos justificarmos se o fizéssemos.

Se alguém deslizar para um tipo de mentalidade fixa, então tudo e todos vão começar a servir de espelho. São forçados a um estado perpétuo de autorreferenciamento. Vão perguntar “como é que este amigo/tópico/trabalho/escolha de tipo de música (ou uma treta qualquer) me fica?” e é algo contagioso. Como num grupo de criancinhas competitivas e maldosas, qualquer um pode acabar por cair num padrão desconfortável de individualismo… e aí a coisa fica feia.

Assim sendo, um amigo com uma mentalidade fixa pode ser uma pessoa desconfortável para se conviver porque a sua atitude “fixa” é contagiosa. Eles incapacitam o nosso crescimento. A antecipação por juízos faz-nos adotar uma postura defensiva, e por estarmos num estado de proteção, retraímo-nos. Não podemos correr riscos quando estamos sob ameaça. Não podemos crescer quando estamos a cingir-nos medonhamente a um sentido de valor que parece estar sob pressão, por isso sentimos que não conseguimos aprender nada com estas pessoas ao lado.

Os verdadeiros bons tempos acontecem quando estamos com pessoas que nos fazem sentir confortáveis a explorar. Quando estamos com elas, estamos presentes. Uma liberdade para conviver desenvolve-se da libertação de qualquer necessidade de nos estarmos a comparar. Se alguém estiver na mentalidade de crescimento, conseguimos sentir o seu abandono do conceito de falhanço, o que nos faz sentir infinitamente mais confortáveis em cometermos os nossos próprios erros.

Além disso, uma vez que as pessoas da mentalidade do crescimento não têm de estar a olhar-se ao espelho todo o dia, são capazes de se ligar às pessoas de uma forma muito mais autêntica. É muito mais fácil sentir-se compreendido na companhia de uma pessoa destas. E quando nos sentimos aceites, somos capazes de deixar a nossa necessidade de nos autorreferenciarmos. De repente, o espaço existente entre duas pessoas torna-se no foco, que fica preenchido com conversas ou atividades ou outra coisa qualquer que possamos aprender em conjunto na altura.

Com a competição posta de lado, estas pessoas podem sentir-se genuinamente felizes pelos nossos sucessos, e nós podemos sentir-nos incondicionalmente orgulhosos do sucesso deles. Estas são o tipo de pessoas cuja boa disposição nos anima, e a má disposição parecem coisa rara. Aquelas que vão “gostar” das coisas que põe no Facebook sem parecer que estão a entregar-nos um pouco do seu poder.

Alguns dos meus amigos mais antigos e queridos são exatamente assim, no entanto, não é uma qualidade que está reservada a pessoas que conhecemos como a palma da nossa mão. Somos capazes de sentir essa característica numa pessoa assim que a conhecemos. Também não é só porque nos estão a satisfazer. Não é necessariamente só porque as pessoas não iriam criticar o nosso trabalho ainda em progresso, ou rir-se de alguma coisa estúpida que tivéssemos dito. Mas antes porque caso isso aconteça, não nos sentimos como se estivessem a atacar o nosso sentimento de mérito.

Para as pessoas que vivem no mundo desenvolvido (ou pelo menos para aqueles que entre nós a sobrevivência não é um desafio enorme), as nossas maiores preocupações parecem surgir de uma questão relacionada com a nossa adequação; o sermos bons o suficiente nalguma coisa. Mas bons o suficiente em quê? Quando se pergunta verdadeiramente essa questão, normalmente de uma maneira ou de outra às outras pessoas. As causas para os nossos maiores medos estão relacionadas com a nossa boa imagem. A nossa qualidade de sermos adorados pelos outros. E são esses medos que nos podem reter a uma mentalidade fixa.

Por isso, existe uma ironia infeliz no meio disto tudo. Embora as pessoas com uma mentalidade fixa possam ter uma atitude arrogante e superior, provavelmente não passa de uma profunda (e às vezes inconsciente) insegurança em relação a elas próprias, que as força a comportarem-se daquela maneira. O que isto quer dizer é que essas pessoas que competem com outras normalmente só o estão a fazer para se sentirem dignas da admiração, amor e atenção delas mesmas. Mas é claro, ao tentarem uma ligação deste género, têm muito mais probabilidade de conseguirem o contrário.

Conclusão

Por isso, você só pode ser uma pessoa agradável para se conviver quando se sente BEM consigo como entidade em evolução. Sinta-se confortável com o facto de estar a crescer, não por já ter crescido. Não estou a dizer que tem de ser 100% confiante para ser uma pessoa divertida de se conhecer. Essa seria uma grande preocupação, além de que o excesso de confiança normalmente é um traço que pertence à categoria fixa. Tem mais a ver com o sentir-se confortável com a sua vulnerabilidade. Tem a ver com ser capaz de baixar a guarda porque sabe que as suas fraquezas não o definem.

Se as mentalidades são contagiosas, não existe nenhuma maneira real de se saber quem apanhou primeiro o bichinho da mentalidade fixa, seja em que relacionamento for. Podem ter sido eles que começaram, mas também pode ter sido você. Ter esta consciência significa então que tem o potencial para partilhar o antidoto. Ao adotar uma mentalidade de crescimento, pode pôr um fim à epidemia e inspirar os outros a crescer consigo.

Por isso, não seja tão exigente consigo mesmo porque as imperfeições são aquilo com o qual as pessoas se identificam realmente. Aprenda a rir-se de si mesmo e desfrute de facto de os outros poderem fazer o mesmo. Seja o aluno, não o professor. Questione quando não souber algo e não se preocupe tanto com o ir dar cabo de tudo. No fundo, isso significa que não só você como também qualquer pessoa com quem passa o seu tempo têm uma melhor hipótese de gozar a vida.

Fonte: Medium

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