O segredo do sucesso de Charlie Munger
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Saiba o que é um “perito-generalista” e perceba como tornar-se uma pessoa assim é a chave para alcançar sucesso.

Muito tem sido escrito sobre como a prática deliberada de mais de 10.000 horas em determinada área de especialização é a chave para o sucesso.

Apesar de Munger ter certamente trabalhado muito para se tornar um dos principais investidores do mundo a razão do seu sucesso é outra. De acordo com o seu próprio relato, em vez de se focar na teoria de investimento como um laser Munger estudou diversas áreas de forma ampla e profunda – incluindo microeconomia, psicologia, direito, matemática, biologia e engenharia – aplicando noções das mesmas ao investimento.

Bill Gates avançou, em relação a Munger: “Ele é verdadeiramente o indivíduo com o mais amplo pensamento que alguma vez encontrei. Dos princípios de negócio, aos princípios económicos, ao projetar de dormitórios de estudantes e ao projetar de um catamarã... Não tem igual. A nossa mais longa correspondência foi uma discussão detalhada sobre os hábitos de acasalamento dos ratos-toupeira e o que a espécie humana poderia aprender com eles.” Munger tem sido, em suma, o melhor perito-generalista.

O aparecimento do perito-generalista

O argumento rival da regra das 10.000 horas é a abordagem do perito-generalista. Orit Gadiesh, presidente da Bain & Co e quem cunhou o termo, descreve o perito-generalista como:

“Alguém que tem a capacidade e curiosidade para acumular e dominar conhecimentos de muitas disciplinas, indústrias, habilidades, capacidades, países e tópicos diferentes. Ele ou ela pode, então, até mesmo sem se dar conta:

  1. Valer-se dessa palete de conhecimento diversificado para reconhecer padrões e ligar pontos em diversas áreas.
  2. Aprofundar para se concentrar e aperfeiçoar o pensamento.”

O conceito é comummente representado pelo modelo do “indivíduo em forma de T”:

Enquanto a regra das 10.000 horas funciona bem em áreas com regras definidas e que não mudam – como o desporto, música e jogos – as regras dos negócios mudam constantemente e fundamentalmente. Ser um perito-generalista permite aos indivíduos adaptarem-se rapidamente à mudança. A pesquisa mostra que conseguem:

  • Ver o mundo com maior precisão e fazer melhores previsões do futuro pois não são tão suscetíveis a preconceitos e suposições vigentes em determinado campo ou comunidade.
  • Ter mais ideias revolucionárias pois aplicam noções que já funcionam numa área a áreas onde ainda não foram experimentadas.
  • Construir ligações mais profundas com pessoas que são diferentes de si próprios pois compreendem as suas perspetivas.
  • Construir redes mais abertas – o que lhes permite servir como elo de ligação entre pessoas de diferentes grupos. De acordo com pesquisa da ciência das redes: ter uma rede aberta é o predicador de sucesso nº1.

A abordagem de Charlie Munger em relação a ser-se um perito-generalista

Ao ligar os pontos através das disciplinas Munger desenvolveu um conjunto daquilo a que chama modelos que utiliza para avaliar oportunidades de investimento. Na verdade, identificou mais de 100 desses modelos que utiliza frequentemente desde a publicação do “Poor Charlie’s Almanack” (Almanaque do Pobre Charlie). Não há dúvida de que continua a desenvolvê-los e a aperfeiçoá-los.

Charlie Munger

Quais são esses modelos exatamente?

A melhor forma de explicar passa por dar o exemplo de um modelo que Munger utiliza constantemente e a que chama análise de duas linhas. Combina noções de psicologia, neurociência e economia em relação à natureza do comportamento humano. Este modelo instrui que ao analisar uma situação na qual está envolvida a tomada de decisões por indivíduos – e que obviamente abrange todas as situações de negócio – deverá considerar duas linhas:

  • Como agiriam se se comportassem de forma racional, de acordo com os seus verdadeiros interesses.
  • Como sucumbiriam a uma série de enviesamentos psicológicos irracionais que parecem ser “programados” no cérebro humano. Os investigadores identificaram uma série deles e Munger incorporou 25 no seu modelo de análise de duas linhas.

Outro exemplo é o condicionamento clássico desenvolvimento por Ivan Pavlov no início do século XX. Pavlov descobriu que com o condicionamento certo os cães iriam salivar não apenas a comer mas também na expectativa de cada vez que entrava no laboratório. Munger aplica a mesma lógica aos negócios. No seu livro dá o exemplo de como a Coca-Cola (uma das maiores holdings da Berkshire Hathaway) condiciona os seus clientes com o tipo de publicidade, e frequência certa da mesma, utilizando o seu logótipo como gatilho.

Segue-se um resumo das suas regras enquanto perito-generalista, nas suas próprias palavras extraídas e condensadas das várias palestras que tem dado:

Regra 1: aprenda diversos modelos

“A primeira regra é que você tem de ter vários modelos – porque se você apenas utiliza um ou dois a natureza da psicologia humana é tal que você irá distorcer a realidade para que a mesma encaixe nos seus modelos.”

“É como o velho ditado: ‘Para o homem com apenas um martelo todo o problema parece um prego.’ Mas essa é uma perfeitamente desastrosa forma de pensar e uma perfeitamente desastrosa forma de lidar no mundo.”

Regra 2: aprenda vários modelos de várias disciplinas

“E os modelos devem ser provenientes de diferentes disciplinas – pois toda a sabedoria do mundo não será encontrada num pequeno departamento académico.”

Regra 3: foque-se em grandes ideias das grandes disciplinas (20% dos modelos criam 80% dos resultados)

“Você poderá dizer ‘Meu Deus, isto está a ficar muito difícil’. Mas, felizmente, não é assim tão difícil pois 80 ou 90 importantes modelos representarão 90% daquilo que o tornará uma pessoa sábia. E desses, apenas uma mão-cheia realmente representa alguma dificuldade.”

Regra 4: utilize uma lista de verificação para garantir que utiliza os modelos certos

“Utilize uma lista de verificação para garantir que obtém os principais modelos.”

“Como é que as pessoas inteligentes podem errar? Bem, a verdade é que elas não erram... Pegue em todos os principais modelos de psicologia e utilize-os como uma lista de verificação para a revisão de resultados de sistemas complexos.”

Regra 5: crie listas de verificação diversas e utilize a lista certa para a situação

“Você precisa de diferentes listas de verificação e modelos mentais para diferentes empresas. Não posso torná-lo fácil ao dizer ‘Aqui estão três coisas.’ Você tem de o descobrir sozinho para o enraizar na cabeça para o resto da sua vida.”

A abordagem perito-generalista em diferentes áreas

Quer você decida ou não seguir a particular abordagem de Munger uma ideia a reter é o valor de ganhar uma grande amplitude de conhecimento enquanto aprofunda a sua área de especialidade.

Ao longo do tempo muitos dos cientistas de topo, líderes empresariais, inventores e artistas também alcançaram as suas descobertas de sucesso ao serem peritos-generalistas. Albert Einstein formou-se em física mas para formular a sua lei da relatividade aprendeu sozinho uma área da matemática muito distante do seu conhecimento – geometria de Riemann. James Watson e Francis Crick combinaram descobertas da tecnologia de difração de raios X, química, teoria evolucionária e computação para resolver o enigma da dupla hélice. Steve Jobs, claro, baseou-se em noções do seu estudo de caligrafia e numa rica compreensão do design para criar uma nova geração de dispositivos de computação.

Além do mais, aqueles que conseguem preencher as lacunas entre silos estão a tornar-se mais valiosos do que nunca – enquanto a quantidade de conhecimento no mundo e a sua fragmentação continua a acelerar.

Ser um perito-generalista irá tornar-se mais e mais valorizado

A disciplina conhecida como cienciometria é a ciência da ciência: estuda a evolução do conhecimento científico. Duas das principais conclusões deste campo são:

  1. A quantidade de informação académica está a duplicar cada 9 anos
  2. O número de disciplinas está a crescer exponencialmente

À medida que as disciplinas emergem e amadurecem desenvolvem as suas próprias culturas e línguas. Cada tem a sua própria terminologia juntamente com as suas próprias revistas e conferências anuais. Esta especialização já se tornou tão extrema que aqueles que são especialistas num subcampo de uma disciplina muitas vezes sabem pouco ou nada sobre o trabalho em curso noutros subcampos.

Considere a crescente especialização que levou a uma importante nova área da ciência – a epigenética. A epigenética é essencialmente o estudo de como os fatores ambientais afetam a forma como os nossos genes são expressos. Quando a biologia surgiu como um campo autónomo, fora da medicina e da história natural no século XIX, teria sido possível a qualquer biólogo obter uma boa compreensão de toda a área. Hoje, muitos geneticistas dir-lhe-ão que não têm uma compreensão real das descobertas na epigenética.

Dada esta situação muitos profissionais têm determinado que a melhor abordagem passa por entrar em sub-sub-sub-especialidades onde podem esperar tornar-se um dos melhores se seguirem a regra das 10.000 horas. Isso poderá ser realmente frutífero. Mas as oportunidades também são abundantes para aqueles que, em vez disso, desenvolvem uma aptidão para a construção de ligações entre as disciplinas.

Os peritos-generalistas enfrentam muito menos concorrência. Quanto mais campos você dominar menos pessoas irá encontrar com a mesma capacidade. Quando se trata de aprofundar um determinado domínio a competição é geralmente feroz. O estreitamento da especialização também o deixa vulnerável às cada vez mais assustadoras forças da mudança. Orit Gadiesh oferece uma visão a este respeito:

“Como a tecnologia, a globalização, os desafios geopolíticos e a competição aceleram a disrupção dos negócios os indivíduos confrontam-se com desafios e questões que nunca experienciaram antes. Acho que os especialistas – alguém com um profundo conhecimento de apenas uma área – muitas vezes não têm a necessária flexibilidade para se adaptarem à mudança e podem facilmente ficar perturbados ou, pior, descarrilar completamente.”

Fonte: Quora

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