Algumas das mais valiosas perceções sobre liderança não vêm da área dos negócios, vêm da literatura clássica
Quando pensamos em "livros sobre liderança" tendemos a pensar em títulos de não-ficção, tal como o eterno favorito "Como fazer amigos e influenciar pessoas".
Porém, limitarmo-nos a manuais, biografias e estudos de caso poderá levar a que percamos algo importante. Algumas das mais valiosas perceções sobre liderança não vêm da área dos negócios. Vêm da literatura clássica.
Diferentemente dos tradicionais livros de negócios, a literatura permite acesso à vida interna das personagens. Segue-se uma lista de leitura. Talvez a mais estimulante – e bonita – de todos os tempos.
1. "O Grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald
"O Grande Gatsby" conta a história de um rapaz que foi estimulado a ser bem sucedido pela sua amada, Daisy.
O que é maravilhoso sobre Gatsby é que o seu idealismo e os seus sonhos distinguem-no e tornam-no melhor do que o resto.
Podemos aprender como tudo pode ser transformado se colocarmos a nossa vida acima da vida prática do dia a dia, acima do desejo de segurança, acima da motivação do poder. Poucos de nós podem viver ao nível do idealismo de Gatsby a maior parte do tempo. No entanto, o livro de Fitzgerald desafia-nos a ter idealismo além do de Gatsby, apontando os limites dos seus ideais.
2. "Siddhartha" de Hermann Hesse
Este livro é mais uma lição sobre o equilíbrio entre “trabalhar” e “viver bem”.
O romance fala de um homem que luta para equilibrar os negócios e a espiritualidade. O homem torna-se um comerciante rico que, no início, não é apegado ao sucesso material, concentrando-se em colocar os clientes em primeiro lugar e agindo eticamente com todos. Contudo, mais tarde torna-se ambicioso, sucumbe à "doença da alma dos ricos" e torna-se não apenas um espírito mesquinho mas também suicida.
Por fim, encontra algum equilíbrio ao transportar viajantes pelo rio, oferecendo orientação espiritual a algumas pessoas. No entanto, acaba por concluir que a maioria das pessoas quer apenas bons serviços de transporte.
3. "O Estrangeiro" de Albert Camus
Este livro é bastante poderoso para repensar a vida. Ao deixar de lado, temporariamente, questões relacionadas com a espiritualidade e a religião este livro coloca perguntas mais básicas: qual o sentido da vida? Será que tem algum sentido?
4. Livros de Zuckerman ("Zuckerman Bound"), uma trilogia de Philip Roth
A trilogia – que apresenta o alter ego de Roth, Nathan Zuckerman – merece o mais alto elogio estético. É uma razão para ler o livro.
Porém, não é a única. O "The Ghostwriter" – o primeiro livro da trilogia – é uma ilustração maravilhosa da importância do equilíbrio entre a ambição pessoal e a consciência social – o equilíbrio entre o individualismo e a responsabilidade comunitária.
5. "Os Despojos do Dia" de Kazuo Ishiguro
Este livro é um estudo útil das diferenças entre o Leste e o Oeste.
O romance – que conta a história de um mordomo profundamente dedicado à sua profissão, que se fecha para o resto do mundo ao seu redor – é muitas vezes apontado como referência de liderança e ética.
6. "A Morte de um Caixeiro Viajante" de Arthur Miller
Esta peça é uma lição de confiança – em si e quanto ao mundo que nos rodeia.
O caixeiro viajante Willy Loman pensava que podia controlar sozinho o seu destino e o da sua família, tentando forçar-se (e aos seus filhos) a fazer trabalho que não era da sua natureza.
E se Loman procurasse contar com os outros em vez de tentar controlar tudo sozinho e aceitasse a sua própria natureza em vez de tentar ser quem não é? Talvez fosse muito mais bem-sucedido.
7. "O Último Magnate" de F. Scott Fitzgerald
O último (e não terminado) romance de Fitzgerald oferece uma análise do sempre relevante equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Fitzgerald conta a história de vida de um magnata de Hollywood, Monroe Stahr (baseando-se na história real do produtor de filmes Irving Thalberg), – um executivo de negócios muito bem-sucedido que prospera em público e sofre na vida pessoal.
A questão que surge é: será que a personagem teria tanto sucesso se tivesse uma vida mais equilibrada?
8. "Miramar" de Naguib Mahfouz
O livro "Miramar" conta a história de uma camponesa chamada Zohra que foge de casa e encontra emprego num pequeno hotel em Alexandria, vindo a sofrer de assédio sexual no trabalho.
Há, no entanto, outra interpretação do texto – com implicações ao nível dos negócios (seculares).
O livro mostra a tensão entre valores duradouros (justiça, liberdade e coragem como virtudes) e coisas passageiras (procura de lucro a ponto de se ignorarem valores humanos fundamentais).
9. "Todos Eram Meus Filhos" de Arthur Miller
No romance, o empresário norte-americano Joe Keller envia conscientemente peças defeituosas para aviões durante a Segunda Guerra Mundial – ameaçando o próprio filho piloto, Larry – avançando que o fez pelo outro filho, Chris, que iria herdar o seu negócio.
Joe expande os seus valores para além da sua família e começa a pensar sobre a nação. Percebe que não deve cuidar apenas de Larry e Chris pois "todos eram meus filhos."
Quando conhece o crime do pai, Chris abandona o seu idealismo ingénuo e vê que o mundo não é a preto e branco como pensou que fosse. Começa a ver os outros como uma mistura de virtudes e vícios, em vez de seres unidimensionais.