Toda a gente faz juízos de valor
Em poucos segundos, seja num encontro romântico ou no supermercado, avaliamos e criamos um conjunto de assunções sobre o nosso interlocutor, desde a inteligência até à probabilidade de ter cometido um crime.
Se há vezes em que as nossas primeiras impressões são surpreendentemente certeiras, há outras em que não podíamos estar mais longe da verdade.
Eis alguns dos fatores externos que influenciam a nossa perceção dos outros.
1. Se é bonito/a, a maioria assume que também é boa pessoa
Graças a um fenómeno que os psicólogos chamam “efeito halo”, temos tendência a assumir que pessoas bem-parecidas possuem qualidades tidas como positivas que vão para além de serem atraentes, tais com inteligência e capacidade de compromisso.
O psicólogo Daniel Hamermesh, da Universidade do Texas em Austin, que estuda os padrões de beleza no local de trabalho descobriu que, entre outras coisas, este preconceito cognitivo significa que quem é mais bonito também é melhor pago.
Um estudo em ambiente universitário obteve resultados semelhantes: foi pedido a um grupo de alunos rapazes que avaliasse um artigo escrito por uma aluna anónima. Os alunos a quem foi mostrada a fotografia de uma rapariga bonita como autora foram mais generosos nas suas críticas, que aqueles a quem foi mostrada uma fotografia de uma jovem pouco atraente, ou aqueles a quem não foi mostrada foto alguma.
2. É possível fazer uma leitura surpreendentemente precisa da sua personalidade a partir de uma foto
O retrato de alguém diz muito sobre a sua personalidade.
Num estudo de 2009, os investigadores mostraram a um grupo de participantes as fotografias de 123 estudantes da Universidade do Texas em Austin, a quem foi dito que mantivessem uma expressão neutra ou que se expressassem livremente.
Independentemente da postura adotada, a sagacidade do juízo dos inquiridos ultrapassou as expectativas nos seguintes aspetos: extroversão dos sujeitos, nível de autoestima, importância da religião, afabilidade e escrúpulos.
3. Avaliamos as capacidades de liderança de alguém em função do rosto e da altura
Em 2013, uma equipa de psicólogos, neurocientistas e engenheiros informáticos europeus e norte-americanos, pediu a uma amostra pequena de participantes que observasse os retratos de 47 homens e 83 mulheres caucasianos e determinasse primeiro a altura e, depois, a capacidade de liderança.
Os investigadores descobriram que usamos o género e o tamanho do rosto para adivinhar a altura, e que os mesmos indicadores servem para avaliar o potencial de liderança de alguém. Os indivíduos tidos como mais altos pelo rosto, foram os mesmos a quem foram atribuídas melhores qualidades de liderança.
4. A estrutura do rosto pode ser um indicador de agressividade
O resultado de um pequeno estudo de 2013, pelo Centre for Behaviour Change (Centro de Estudos Comportamentais) da University College de Londres, sugere que homens com maiores níveis de testosterona apresentam rostos largos e maçãs do rosto mais definidas. Indivíduos com estas características também têm tendência para exibir personalidades mais agressivas ou motivadas pela noção de estatuto.
5. Também usamos a estrutura do rosto para avaliar a força de alguém
Num estudo de 2015, os cientistas utilizaram as fotografias de 10 indivíduos de cinco etnias diferentes e pediram aos participantes que as classificassem em termos de amigabilidade, confiança e força.
Naturalmente, quem apresentava um semblante feliz foi considerado mais amigável e de confiança, ao contrário de quem mostrava uma expressão carregada ou irritada. Também foram considerados mais fortes aqueles com rostos mais largos.
6. Se tem uma aparência “duvidosa” tem mais probabilidades de ser encarado como um criminoso
Não é claro porque é que alguns de nós parecem ser “de confiança”, mas trata-se de um atributo com potencial para mudar o curso da vida de alguém. Uma equipa de investigadores de Israel e do Reino Unido pediu a um grupo de voluntários que observasse as fotografias de homens e mulheres, recolhidas ao acaso, e avaliasse o estado de espírito, personalidade e aparência dúbia dos fotografados. A primeira série de fotos fazia parte de um arquivo de detidos da polícia; A segunda foi uma série controlada em que foi pedido aos atores que parecessem felizes, impávidos ou zangados.
Independentemente da origem das fotos, os indivíduos tidos como de pouca confiança e dominadores foram também considerados bandidos. Nas fotos controladas, as expressões de raiva foram consideradas as mais próprias do estereótipo criminal.
7. A leitura de um rosto pode tornar-se uma questão de vida ou morte
Num estudo de 2015, dois psicólogos da Universidade de Toronto recolheram retratos de reclusos, da Unidade Correcional da Flórida, detidos por homicídio de primeiro-grau. Cerca de metade foram sentenciados a prisão perpétua, enquanto a outra metade aguardava sentença de morte.
Foi pedido ao grupo de participantes que observasse as fotos e avaliasse a confiabilidade dos rostos numa escala de 1 (não inspira confiança alguma) a 8 (altamente confiável). Os detidos com as classificações mais baixas tendiam a pertencer ao grupo à espera de execução.
Na segunda parte do estudo, utilizaram-se as fotografias de indivíduos dados inicialmente por culpados de homicídio, mais tarde exonerados com base em provas de ADN. O resultado foi perverso: os indivíduos com as classificações mais baixas tendiam a ter sido sentenciadas à morte, apesar de provada a sua inocência. “Independentemente da culpa de facto do sujeito, a aparência do rosto tem um impacto real na sentença criminal” foi a conclusão do estudo.
8. Fora constrangimentos cognitivos, a aparência pode ser indicador de estados de saúde. As rugas, por exemplo, podem ser sinal de problemas cardíacos
Uma pele enrugada pode ser mais que uma consequência da idade – pode ser um indicador de performance do coração. Um estudo de 2012 comparou o número de rugas na cara e braços de 216 indivíduos cujos pais viveram por muitos e bons anos, e comparou-o com um grupo de 253 pessoas da mesma idade selecionadas ao acaso. As mulheres com menos risco de doenças cardíacas pareciam pelo menos dois anos mais novas que as congéneres de maior risco.
9. Os olhos podem ser o primeiro indicador de problemas de saúde latentes
Um médico pode diagnosticar um sem número de padecimentos apenas pelos olhos do paciente. Sinais vermelhos na retina, a membrana sensível à luz na parte de trás do olho, pode ser sinal de diabetes. Quando o nível de açúcar no sangue aumenta demasiado, os vasos capilares da retina entopem, o que provoca inchaço e rutura.
10. A cara pode não contar a história toda. Nos homens, o comprimento dos dedos parece estar relacionado com o risco de cancro
Uma equipa de cientistas estudou o comprimento dos dedos de 1.500 pacientes com cancro da próstata e 3.000 homens saudáveis durante um período de 15 anos, ao pedir-lhes que escolhessem, de uma seleção de imagens de mãos, aquelas que mais se assemelhavam às suas.
Homens cujo dedo indicador era do mesmo comprimento ou mais longo que o dedo anelar, tinham 1/3 mais hipóteses de vir a desenvolver cancro da próstata durante o tempo do estudo, que os congéneres cujo dedo indicador era relativamente mais pequeno. A correlação foi ainda mais acentuada no grupo abaixo dos 60.
Note-se que o estudo se baseou em medidas aproximadas indicadas pelos próprios e não em medições reais, pelo que são necessários mais estudos para confirmar os resultados.
11. E a altura pode indicar uma propensão para certas doenças
A pesquisa sugere que pessoas mais altas têm menos risco de doenças cardíacas, enquanto os mais baixos apresentam menos hipóteses de desenvolver cancro. Acredita-se que este efeito está relacionado com a quantidade de hormona do crescimento produzida, e que oferece proteção contra certas doenças, mas aumenta o risco de outras.
Esta conclusão não significa todavia que ser alto ou baixo o impede de vir a desenvolver qualquer uma das condições.