Dicas de um neurocientista para uma maior produtividade
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Saiba o que fazer para manter a concentração no trabalho

À primeira vista, não esperaríamos que Adam Gazzaley afirmasse que a humanidade lida com demasiadas tarefas ao mesmo tempo. Gazzaley é neurocientista na Universidade da Califórnia, em São Francisco, e gere um laboratório que se dedica aos neurodiagnósticos mais recentes e inovadores. Juntamente com Mickey Hart dos Grateful Dead, tem um projeto de investigação e faz pesquisa sobre videojogos que estimulam as capacidades cognitivas. Contudo, no seu novo livro, Gazzaley é perentório em afirmar que o cérebro humano não está preparado para lidar com a execução simultânea de múltiplas tarefas em aparelhos tecnológicos e que a constante rotação entre tarefas exigida pela cultura de trabalho moderna tem efeitos negativos.

O novo livro de Gazzaley, escrito em parceria com o psicólogo Larry D. Rosen, da Universidade Estadual da Califórnia, Dominguez Hills, chama-se “The Distracted Mind: Ancient Brains in a High-Tech World” (a mente agitada: cérebros antigos num mundo tecnologicamente avançado). Nele, apresenta duas estratégias que podem ser usadas para minorar os efeitos da execução de várias tarefas ao mesmo tempo e ir ao encontro das expectativas da cultura de escritório atual – ver o e-mail à noite, quando estamos em casa, ou trabalhar em projetos intelectualmente desafiantes em escritórios barulhentos, caóticos e movimentados – tendo em conta as necessidades de concentração do cérebro humano.

Gazzaley tem uma mensagem encorajadora: há determinadas coisas que podemos fazer para manter a concentração no trabalho e não estarmos necessariamente condenados a uma enchente de notificações push e de correntes de e-mail intermináveis.

Eis alguns dos melhores conselhos de Gazzaley.

1. Conheça os seus limites

Gazzaley afirma que é importante “compreender que o cérebro tem limites fundamentais”; consequentemente, devemos limitar o uso das novas tecnologias. “As maiores empresas de tecnologia criaram plataformas que não só nos permitem um acesso permanente como também nos tornam mais disponíveis”, acrescenta.

O neurocientista recomenda que executemos várias tarefas ao mesmo tempo quando desempenharmos tarefas que exijam pouca atenção, sejam aborrecidas e não sejam fundamentais.

Para nos sentirmos menos assoberbados, aconselha-nos a ter apenas um separador aberto no motor de busca, a não prestarmos atenção ao e-mail quando estamos a meio de um trabalho importante e a pôr o telemóvel em modo avião quando precisamos de nos concentrar.

2. Faça intervalos

Gazzaley aconselha-nos a fazer pausas enquanto trabalhamos em tarefas desafiantes, para podermos aliviar o stress. E explica:

“É como fazer uma pausa num treino de fitness. Fazer um intervalo não é necessariamente responder a um e-mail, porque isso desencadeia outras atividades que o podem distrair da tarefa que tem em mãos. Pondere fazer um treino físico moderado, dar um passeio pela natureza, entre outras atividades reparadoras, como a meditação e os exercícios de mindfulness (atenção plena). É assim que domo a minha mente agitada.”

3. Crie expectativas

Se os seus colegas de trabalho o distraem quando precisa de se concentrar, Gazzaley afirma ser importante criar expectativas relativamente aos períodos em que se encontra disponível ou indisponível para conversar.

“Eu vivo em São Francisco. Muitos amigos meus trabalham na indústria tecnológica, o que me leva a compreender a importância da interação”, explica Gazzaley. Dois dedos de conversa com um colega podem ser benéficos. Mas quando tem uma tarefa por cumprir, pode distrair-se e o seu desempenho pode ser prejudicado.

“Por esta razão, temos de criar expectativas, pondo, por exemplo, um cartaz na secretária a dizer ‘Não interromper’, ou comunicando aos colegas que das 11h00 às 14h00 estaremos indisponíveis”, acrescenta. Também podemos usar auscultadores à prova de som para indicar que não estamos abertos à interação – é uma atitude sensata.

Tudo se resume à cultura do trabalho. Tanto no livro como durante a conversa que teve comigo, Gazzaley observou que, em muitos trabalhos, espera-se que as pessoas estejam contactáveis durante as férias, em casa ou aos fins de semana. Na sua opinião, isso contribui para que as empresas tenham “expectativas de disponibilidade e produtividade 24 horas por dia”.

Contudo, como acrescenta o neurocientista, temos de adicionar períodos de descanso ao nosso horário para relaxarmos e tratarmos de nós, de modo a evitar o stress e a fadiga. De contrário, o desempenho no trabalho irá piorar e não fará sentido conjugar várias tarefas ao mesmo tempo.

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