A parte mais lamentável do legado de Barack Obama
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Especialistas apontam para a possibilidade de Mossul, uma das maiores cidades do Iraque (atualmente nas mãos do Estado Islâmico), não vir a ser recuperada em 2016.

Pouco tempo depois da queda de uma das maiores cidades do Iraque, Mossul, para as mãos do Estado Islâmico em junho de 2014, uma delegação de altos funcionários do Curdistão iraquiano visitou Washington com uma pergunta preocupante: de onde viria a força para recuperar a cidade?

O exército iraquiano estava demasiado abalado, os curdos muito fracos e as potências exteriores –como a Turquia e os Estados Unidos – relutantes em enviar forças terrestres.

Muito aconteceu nos quase dois anos desde essa altura. Entre outras coisas, a administração Obama controlou cerca de 20.000 tropas iraquianas, enviou cerca de 5.000 consultores militares, fuzileiros e forças de operações especiais para a área e lançou mais de 11.000 meios de combate aéreo contra alvos do Estado Islâmico.

No entanto, quando outra delegação de altos funcionários curdos circulou por Washington na semana passada a sua pergunta em relação a Mossul continuou a mesma: quem é que vai fazer isto?

“Ouvimos dizer que está quase pronto o plano para recuperar a cidade” disse Qubad Talabani, vice primeiro-ministro do Governo Regional do Curdistão no Iraque, que se encontrou recentemente com o Primeiro-Ministro Haider al-Abadi e com o alto-comandante norte-americano responsável pelo conflito na área – o tenente-general Sean MacFarland – em Bagdade. “No entanto achamos que o plano tem grandes lacunas.”

Oficiais americanos dizem que o Presidente Obama, que tem referido várias vezes que a guerra é a sua principal prioridade, pediu uma “aceleração” da campanha.

Contudo, dar ouvidos aos curdos é assumir a existência de enormes obstáculos que ainda precisam de ser ultrapassados antes das duas cidades mais importantes controladas pelos jihadistas, Mossul no Iraque e Raqqa na Síria, poderem ser recuperadas.

O que está em falta é não só um número adequado de forças como também apoios financeiros, liderança política e uma visão exequível do que irá acontecer depois dos maus da fita serem derrotados.

O facto do Iraque estar a sofrer uma crise económica e fiscal provocada pela queda dos preços do petróleo também não ajuda, assim como mais uma crise política em Bagdade, onde um sitiado Abadi tem estado a tentar – sem sucesso – introduzir um novo governo.

Essas agitações têm deixado o Curdistão, uma região autónoma, falido: há três meses que os seus combatentes, os peshmerga, não são pagos. A visita de Talabani a Washington foi, em parte, para pedir apoio financeiro aos EUA, sem o qual as forças curdas não poderão ser mobilizadas para uma ofensiva a Mossul. Os curdos pediram $200 milhões por mês; o Pentágono sugeriu $50 milhões.

A Casa Branca não tomou qualquer decisão em relação ao financiamento prestado aos curdos. Contudo, mesmo que esse financiamento se realize, a pergunta permanece: quem vai liderar o combate rua a rua necessário em Mossul?

Os terroristas construíram trincheiras de defesa por toda a cidade, colocaram minas, engenhos explosivos improvisados e, segundo os curdos, obus carregados com gás mostarda. Uma força de assalto poderá ter de enfrentar os ataques químicos que as tropas americanas esperavam ter enfrentado em 2003 mas que nunca chegaram a acontecer.

As forças militares iraquianas começaram a fraquejar no mês passado quando tentaram dar início a operações de ataque perto da cidade de Makhmur, a cerca de 113 km a sul de Mossul. Foi nessa altura que foram enviados secretamente para a área 200 fuzileiros norte-americanos para estabelecer uma “base de ataque” com artilharia. Mesmo com esse apoio, os iraquianos só conseguiram recuperar um pequeno grupo de aldeias. “Todos sabemos que o exército iraquiano ainda não está preparado” contou Falah Bakir, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Curdistão, a um grupo de jornalistas do Washington Post.

De momento o Pentágono fala sobre a criação de mais bases de ataque até à cidade de Mossul e várias fontes afirmam que poderão ser enviadas outras centenas de forças de operações especiais e tropas à medida que a campanha vai sendo divulgada.

Os comandantes militares esperam que os milhares de sunitas que estão a ser treinados para forças de segurança possam ser utilizados para proteger a cidade quando esta for libertada. Mas isso continua a levantar a questão sobre se as milícias xiitas iraquianas apoiadas pelo Iraque terão permissão para se juntar ao assalto. Se isso acontecer, poderão mergulhar num mar de sangue sectário com a população sunita.

Estas complicações poderão ser a razão pela qual Abadi e MacFarland têm de mostrar um plano mais completo aos curdos. Ainda mais distante está uma estratégia para a governação pós-guerra em Mossul e outras áreas habitadas por população sunita. Talabani considera que uma jurisdição sunita dentro de um Iraque federal pode ser a resposta, no entanto, não existem sinais de que o governo liderado por xiitas em Bagdade, os seus aliados no Irão e até os próprios sunitas venham a concordar com essa proposta.

Tudo isto aponta para um único veredito: Mossul não vai ser libertada em 2016. O Estado Islâmico vai conseguir passar por cima da administração dos EUA cujos lapsos na Síria e no Iraque ajudaram a que isso acontecesse. E essa será a principal nódoa do legado de Barack Obama.

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