O acordo insere-se na visão de Elon Musk, estratégia sobre a qual fala há meia década
Na semana passada a Tesla (NASDAQ: TSLA) anunciou a sua vontade de adquirir a SolarCity (NASDAQ: SCTY), a empresa de leasing de painéis solares em dificuldades – e que é gerida por Lyndon Rive, primo de Elon Musk, o CEO da Tesla.
Na segunda-feira, a SolarCity avançou que formou um comité de diretores independentes para avaliar o possível acordo – pois Musk é o maior acionista individual de ambas as empresas e presidente da SolarCity.
Santo conflito de interesses!
Na verdade, Musk e Rive avançaram que se irão abster de votar quanto ao possível acordo.
De qualquer das formas, a SolarCity é uma compra de 3 mil milhões de dólares para a Tesla, numa transação com todas as ações que acrescentaria – prepare-se – cerca de 3 mil milhões de dívida ao saldo da Tesla.
Se parece um resgate da SolarCity – a empresa viu a sua capitalização de mercado, agora em 2,25 mil milhões de dólares, ser cortada ao meio no ano passado – é porque é disso que se trata.
O acordo poderá parecer irritante e a análise pós-anúncio sugeriu que a Tesla está a fazer algo errado – mas não está. Está a seguir as promessas que Musk fez mais do que uma vez ao longo da última meia década.
Se tem estado a prestar atenção, então terá previsto esta iniciativa – embora talvez tenha pensado que a Tesla e a SolarCity se tornassem parceiras mais próximas e não que a Tesla assumisse o controlo.
Então, por que razão está a Tesla a tomar esta medida?
Não será, certamente, de modo a aumentar o valor acionista. As ações da Tesla caíram quando a notícia foi divulgada.
Que valor acionista?
Nunca foi claro se a Tesla se preocupa muito com o mesmo.
Em vez de agradar investidores ou reivindicar ratings e preços-alvo a analistas de Wall Street, a fabricante de carros elétricos está a jogar um jogo maior. As ações apenas a ajudam a chegar lá fornecendo um meio para aumentar capital, como fez recentemente e também no ano passado, e para serem utilizadas como forma de super moeda para sustentar a visão de Musk de um mundo livre da dependência dos combustíveis fósseis.
A SolarCity é essencial para essa visão, mesmo que seja a iniciativa de menor interesse para Musk – é difícil competir com o carro do futuro ou missões da SpaceX a Marte.
E é isso que toda a gente está a perder aqui.
Com esta oferta, a Tesla está a tentar tornar-se o que Musk provavelmente queria que fosse este tempo todo: uma holding integrada a oferecer soluções contra o aquecimento global.
Se o acordo com a SolarCity ganhar forma, então a Tesla será uma fabricante de carros, uma fabricante de baterias – graças à Gigafactory a ser construída no Nevada –, uma empresa de armazenamento de energia – graças à Tesla Energy, revelada no ano passado e a vender packs de baterias residenciais –, e uma empresa de painéis solares.
Coloque tudo sobre o mesmo teto e tem uma empresa que pode vender-lhe ou alugar-lhe um estilo de vida com zero emissões.
Além disso, Musk resgata o seu investimento na SolarCity no processo. No entanto, não há nada surpreendente aqui. Musk sempre considerou as empresas em que se encontra envolvido como um único mega investimento. Faz sentido utilizar as ações de uma para manter outra.
Sim, toda a dívida poderá ser, eventualmente, um grande problema para a Tesla. Já está a gastar fundos na medida em que está a tentar passar da montagem de 50.000 carros por ano em 2015 para 500.000 carros por ano até 2018. E a SolarCity está a incinerar dinheiro.
Assim, essa carga de dívida que a Tesla estaria a assumir não irá a lado nenhum. Os acionistas poderão acusar Musk de pendurar uma âncora de 3 mil milhões de dólares ao redor do pescoço da Tesla.
É claro que os acionistas também poderão votar contra o acordo – ou podem vender as suas ações.
Se a Tesla pode realmente salvar o mundo então, a partir da perspetiva de Musk, tem valido a pena assumir toda a dívida.