A Petro não vai salvar a Venezuela
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27 de Fevereiro de 2018

“A Petro é apenas uma forma de esconder nova dívida internacional” — é a opinião de Matt Levine, colunista da Bloomberg

Não sei por que razão a criptomoeda Petro me irrita tanto. Talvez em parte porque se pressupõe que a essência das criptomoedas passa pela descentralização: confia-se nas mesmas devido a “certezas objetivas” incorporadas no seu código de fonte aberta — e não porque alguma autoridade lhe diz para tal. Porém, a Petro é o oposto disso. Por um lado não se pode confiar no código — o próprio governo da Venezuela não avança uma teoria coordenada quanto ao tipo de código de que se trata. Por outro lado, o white paper diz que a Petro foi criada na rede Ethereum enquanto o guia do utilizador publicado pelo governo avança que se encontra na rede NEM.

Há muita confusão quanto ao seu funcionamento.

E continua. Outra coisa bastante irritante é o facto desta criptomoeda ter como um dos seus objetivos “promover o bem-estar, aproximando o poder das pessoas” não podendo, contudo, ser comprada com bolívares venezuelanos. As razões para tal são óbvias: a Petro não é uma moeda, uma criptomoeda ou algo semelhante, é uma forma de reunir divisas agora que a Venezuela, alvo de sanções, se encontra limitada no acesso a mercados internacionais de dívida. A Petro surge, assim, como forma de esconder nova dívida internacional.

Além disso, leio em todo o lado que a Petro é uma criptomoeda “baseada no petróleo”. O que é que isso significa? Em primeiro lugar significa que tem de confiar no governo venezuelano no que ao câmbio de petróleo por petros diz respeito. É claro que a Petro não lhe dá qualquer dividendo ou benefício. A Petro não é mais do que dívida indexada ao petróleo de um governo que está a deslizar para o incumprimento e que foi excluído dos mercados internacionais de dívida.

Mais: é pior que isso! A Venezuela nem sequer promete conceder petróleo.

A Venezuela garante que irá aceitar petros para pagamento de impostos, comissões, contribuições e serviços públicos, tomando como referência o preço do barril de petróleo venezuelano do dia anterior com desconto percentual.

Imagine que alguém lhe dizia, sem utilizar as palavras “cripto” ou “blockchain”, que a Venezuela planeava emitir dívida perpétua, sem garantias, capaz de ser utilizada para pagar impostos no país e com um valor associado ao preço do petróleo — mas que os venezuelanos não seriam capazes de comprar essa dívida.

Parece bastante claro que não existem argumentos a favor dessa dívida. Os venezuelanos não conseguem comprá-la com os seus bolívares e os estrangeiros que conseguem comprá-la não vão obter nada da mesma: não paga dividendos e não pode ser trocada por dinheiro. É simplesmente uma piada, um produto para ninguém. Porém, acrescenta-se “blockchain” e parece outra coisa.

A opinião do autor pode não coincidir com a posição editorial

Fonte: Bloomberg

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