A opinião de Aaron Brown, em colaboração com o bloomberg.com
A Ernst & Young publicou recentemente uma análise condenadora das Ofertas Iniciais de Moeda (ICO) de 2017 — concentrando-se no desempenho financeiro do equivalente às Ofertas Públicas Iniciais (IPO) do mundo das criptomoedas desde o final de 2017, o que não reflete a competência dos seus promotores nem a viabilidade tecnológica da iniciativa.
Entende-se que a E&Y tenha apontado as principais falhas das ICO. Muitas não passaram, de facto, de fraudes ou de iniciativas incoerentes e irrealistas, e a propaganda ao seu redor foi efetivamente exagerada. Entretanto, muitas encontram-se moribundas, algumas devolveram os fundos aos respetivos investidores e outras estão em silêncio total.
Porém, deve destacar-se que a maioria dos fundos investidos foi aplicada a projetos que permanecem viáveis — com níveis gerais de sucesso comparáveis aos de projetos de desenvolvimento de software convencional e a iniciativas em estágio inicial, especialmente à luz de sérios problemas de financiamento causados pelo entusiasmo volúvel dos investidores.
Durante a «bolha das criptomoedas» foram, com efeito, muitas as ideias a receberem muito dinheiro, muito cedo — com muito pouca supervisão. Atraíram-se muitos burlões e otimistas iludidos e, como consequência, projetos valiosos lutam agora para conseguir os relativamente poucos dólares de que precisam para alcançar a linha de chegada.
Mas voltando à análise [precoce] da E&Y sublinha-se que serão necessários pelo menos cinco anos para se conseguir avaliar as ICO de 2017 de forma justa. Nessa altura colocaremos duas questões: o projeto resultou em tecnologia viável e útil? Os investidores da ICO foram recompensados adequadamente através da valorização dos seus tokens?
(Nota: o autor do artigo original tem participações em vários projetos mencionados)
A E&Y reclama que as ICO de 2017 perderam 66% do seu valor ao longo de 2018.
O que isso nos diz é que houve uma bolha de preços no final de 2017. Considere a Tezos, por exemplo. Reuniu 232 milhões de dólares em julho de 2017 com o token a 42,5 centavos de dólar — e agora vende a 1,41 dólares, um aumento de 231%. Porém, durante a bolha chegou tão alto como 10,56 dólares o token, perdendo, assim, 86% este ano.
Todavia, tal é irrelevante.
Neste caso os investidores têm o direito de perguntar se os 232 milhões de dólares recebidos para desenvolvimento foram bem gastos. No entanto, ninguém tem o direito de reclamar que após a emissão dos tokens investidores otimistas não relacionados com a Tezos tenham apostado na subida de preço e não tenham conseguido mantê-lo nesses níveis.
A Ernst & Young lista a Tezos como «abaixo do preço de listagem» pois conta a partir de 2 de outubro de 2017, quando a Tezos apareceu nas maiores plataformas de câmbio — negociada a 1,66 dólares. Porém, a questão relevante aqui é como é que é negociada hoje em relação ao preço da Oferta Inicial de Moeda, ou seja, 42,5 centavos de dólar.
A alegada perda de valor das ICO este ano, em relação a 2017, avançada pela E&Y, diz pouco ou nada quanto ao quão boa uma ideia de ICO é, o quão honestos e competentes os indivíduos a gastar as receitas da ICO são ou quanto ao progresso técnico realizado para implementar a ideia. Diz mais sobre os investidores do que sobre as criptomoedas.
Mas as suas queixas não acabam por aqui.
A E&Y lamenta ainda que 71% dos projetos de ICO continuem apenas «ideias». Em termos de desempenho financeiro, as ICO são ponderadas em dólares, o que significa que «apenas» as grandes importam. Todavia, a E&Y refere-se ao número de ICO — com estatísticas dominadas pelas mais pequenas, quanto às quais é difícil reunir informação.
As 10 ICO de 2017 que reuniram mais de 50 milhões de dólares representam mais de um terço de todos os dólares arrecadados. Quatro (Filecoin, Polkadot, Status e Qash) estabeleceram lançamentos para 2019. Todas lançaram versões de teste demo ou beta ou têm funcionalidade parcial. Outras três (Bancor, Kin e WAX) foram lançadas em 2017.
A Tezos foi lançada em setembro de 2018 e as restantes duas (Sirin e TenX) prometeram lançamentos também este ano. É, efetivamente, positivo conseguir-se acompanhar o progresso de alguns projetos — porém, para a maioria dos restantes não se passa muito além da suposição, sendo garantido ceticismo quanto ao grosso.
Nem todos os projetos de ICO estão dentro do cronograma previsto, é um facto. A maioria enfrenta contratempos, adiando objetivos. Questões de governança, de regulamentação e de desinformação continuam a afetá-los — e ideias que funcionaram de forma elegante em Livros Brancos provaram-se conflituosas em termos de código.
As taxas de utilização têm sido, geralmente, dececionantes.
No entanto, trata-se de aspetos expectáveis com inovações ousadas — o caso da maioria das ICO, que envidam todos os esforços em questões técnicas, representam uma nova forma de organização de projeto e reúnem capital usando um modelo não testado. No geral, olhando para as maiores ICO ou para as mais pequenas mas com fundações sólidas, o progresso tem sido melhor que expectativas razoáveis na altura da emissão.
A opinião do autor pode não coincidir com a posição dos editores.