O incrível trabalho de Edward Burtynsky
Edward Burtynsky vê beleza – ainda que estranha – nas paisagens industriais em ruínas. As suas fotografias de cortar a respiração aliam a arte às causas sociais, incitando quem as observa a refletir sobre o impacto da humanidade sobre o planeta.
Muitos fotógrafos o fazem, mas Burtynsky, de 61 anos, é uma referência no meio. Durante várias décadas, arrombou vedações e portões para revelar o que acontece no interior de pedreiras, minas e, nos últimos tempos, salinas.
"Encaro estas paisagens como a consequência direta do progresso, da tecnologia, da energia, do crescimento populacional", afirma. "A humanidade provoca um grande impacto sobre a Terra, e é interessante mostrá-lo a todos".
O último projeto de Burtynsky, intitulado "Salt Pans" (salinas), é um bom exemplo. Durante o mês de abril, passou dez dias nas salinas de Little Rann of Kutch, na Índia, onde mais de 45 mil trabalhadores produzem oito milhões de toneladas de sal por ano. Nas imagens aéreas podemos ver estruturas retangulares brancas sobre um deserto árido. A maior parte das pessoas nunca as verá – no entanto, como nos mostram as fotografias de Burtynsky, são indissociáveis da vida quotidiana.
O fotógrafo cresceu em St. Catharines, Ontário, onde está situada uma fábrica de motores da General Motors, que lhe serviu de inspiração, estimulando o seu interesse pelas paisagens industriais. O pai forjava peças de automóveis numa fábrica e Burtynsky lembra-se de pedalar até ao Canal de Welland e de ficar maravilhado com os navios. Ofereceram-lhe a primeira câmara quando tinha onze anos, com a qual adorava tirar fotografias a uma fábrica de transformação de produtos alimentares abandonada.
No início dos anos 80, Burtynsky deparou-se com uma grande mina a céu aberto perto de Ear Falls, no Norte do Canadá. A imensidão da mina fascinou-o, tendo decidido viajar de carro pela América do Norte para fotografar outras. Desde então, visitou mais de 30 países.
"Nesses quatro meses, criei as bases teóricas de uma ideia que me pareceu ser suficientemente ambiciosa para demorar toda uma vida a concretizar", explica.
Burtynsky compõe meticulosamente cada fotograma para causar o maior impacto possível. Com as suas imagens, viajamos das pedreiras cavernosas de Rajasthan às plataformas petrolíferas do Golfo do México e aos ferros-velhos de Bangladeche. A perspetiva é sempre épica, apresentando-nos as vistas panorâmicas que encontramos em quadros do século XIX. Contudo, transbordam de pormenores meticulosos, formas estranhas e cores surpreendentes. O que mais fica na memória é o preço que o meio ambiente paga pelos progressos tecnológicos.
"Não podemos ter uma cidade sem ter um buraco no chão, noutro canto do mundo", afirma.
Mas Burtynsky não espera que seja posto um travão ao progresso. Espera, sim, que o seu trabalho inspire as pessoas e as motive a viver e a consumir de forma responsável – algo que pratica todos os dias, conduzindo um carro híbrido e andando de bicicleta sempre que pode.
"Há que avaliar se estamos a garantir a sobrevivência de outros ecossistemas enquanto exploramos os recursos de que precisamos", alerta.
Pense nisso da próxima vez que pegar no saleiro.