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A Microsoft pode já não ser a máquina de fazer dinheiro que era há uns anos atrás, mas continua com resultados financeiros bastante recomendáveis. A chave para o sucesso está nas astutas táticas desenvolvidas para o mercado dos dispositivos portáteis. Quer saber quais?

Apesar da versão do Microsoft Office para o telemóvel estar a ter um sucesso satisfatório, a empresa parece não estar a ser capaz de criar – ou mesmo comprar – um sistema operativo móvel capaz de competir com o iOS e o Android. Talvez estejam a olhar na direção errada e devessem voltar para as suas táticas “de confiança” “Embrace and Extend” (Adotar e Estender).

A Microsoft publicou os seus números para o 2.º trimestre fiscal de 2015 a acabar em dezembro de 2014. Apesar de a empresa já não ser a máquina de fazer dinheiro de há uns anos atrás, encontra-se num estado saudável: os lucros cresceram uns 8% para $26,5 mil milhões, já os do Operativo diminuíram um pouco (-2%) para $7,8 mil milhões, existe ainda um outro dividendo de $.31 para o trimestre e os fundos de tesouraria encontram-se nos $90 mil milhões.

Estes números dão liberdade a Satya Nadella, CEO da Microsoft, para implementar a ideia Mobile First-Cloud First que concebeu no ano passado. O principal componente deste plano é expandir as aplicações do Office para todas as plataformas e dispositivos: computadores portáteis, tablets e smartphones – apps nativas assim como versões Web. Na semana passada, a Microsoft deu mais um passo nessa direção com o lançamento da sua aplicação histórica Outlook PIM (Personal Information Manager [Gestor de Informação Pessoal]) para o Android e o iOS.

O aspeto mais interessante deste lançamento é bem capaz de ser o facto de servir de complemento para os principais componentes do pacote do MS Office nativo: Word, PowerPoint, Excel e agora o Outlook. Não interessa qual a plataforma que utiliza – Windows, Mac, Android ou iOS – agora pode dispor de todo o complemento da produtividade das aplicações da Microsoft criadas especificamente para o seu dispositivo.

Costumava pensar que se a Apple conseguisse pôr o seu software na ordem e fazer solucionar os (inúmeros) bugs, o iWork poderia substituir facilmente o Microsoft Office no Mac, no iCloud e no iOS. Afinal, o iWorks é grátis… Agora não tenho bem a certeza. Com este lançamento, o MS Office proporciona uma solução estável, de qualidade, segura e efetiva, compatível para todas as plataformas, fazendo valer a pena pagar o seu preço de admissão, especialmente no mundo das empresas.

Mas a Apple não é a concorrente com a qual a Microsoft mais se preocupa. O Office compatível para todas as plataformas é um movimento de oposição poderoso contra a Google Apps. A Microsoft não oferece resistência apenas na velha luta entre Web apps vs. apps nativas, oferece em ambas.

No entanto, noutros aspetos, as coisas não são tão boas para os lados da Microsoft. O seu negócio de hardware para telemóveis não está a correr bem. No seu 10-Q mais recente e na apresentação de slides do lançamento dos rendimentos mostram que o lucro obtido com o hardware é de $2,3 mil milhões, para os 10,5 milhões de telemóveis Lumia vendidos e 39,7 milhões de dispositivos não-Lumia.

O negócio dos smartphones da Microsoft ainda está a lidar com o trauma sofrido com a aquisição da Nokia, por isso estes números são menos fiáveis do que os de uma empresa estável. Mas mesmo se formos com precaução, quando dividimos o lucro de $2,3 mil milhões por 50,2 milhões (o número total de dispositivos), obtemos um escasso PMS (preço médio por software) de $46.

Poder-se-ia argumentar que o cálculo induz em erro por estar a colocar os telemóveis que não são Lumia – tais como o Nokia X com Android – no mesmo saco que os dispositivos Lumia. Por isso, vamos dar mais uma vista de olhos aos números: vamos imaginar que todos os telemóveis que não são Lumia são simplesmente dados, $0 de PMS. Isso dá-nos 10,5 milhões de telemóveis Lumia divididos nos $2,3 mil milhões de lucro para um rentável PMS de $219. Agora compare isto com os $687 de PMS que a Apple conseguiu com os seus iPhones no último trimestre. E se continuarmos a brincar mais um pouco com os números, se assumirmos que o PMS dos telemóveis “dumbphones” não-Lumia é de $20, o PMS para os dispositivos Lumia inteligentes chega aos $143.

Tal como discutido no mês de dezembro passado, mesmo com fundos de tesouraria “eternos”, de que é que serve? As grandes empresas tais como o Bank of America e a Chase que deixaram de apoiar o Windows Phone concordam.

Depois de se atirar para uma ambiciosa estratégia de parceria com a Nokia e logo a seguir arruiná-la completamente, a Microsoft adquiriu o negócio de smartphones da empresa em vez de o deixar morrer. Mesmo assim, a coisa não está a funcionar como deve ser e, tal como os números de indústria mais recentes mostram, existe muito pouca esperança para o negócio de hardware para telemóveis da Microsoft, assim como o infeliz projeto do Windows Phone OS que muito provavelmente não vai ser mais do que um desperdício de tempo, dinheiro e reputação. Muitos já sugeriram que talvez fosse melhor que a Microsoft abandonasse os seus esforços com o OS, deixasse de atacar o Android e voltasse para, agora utilizando as palavras de Ben Thompson, “ as suas origens de ‘abraçar e estender’.”

Isso leva-nos ao Cyanogen. Como tem vindo a ser habitual na Homebrew Computing que originou a Microsoft, a Apple e muitas outras, vários programadores pegaram no sistema operativo Open Android e ampliaram-no ainda mais, abrindo caminhos para versões melhoradas.

Inicialmente, muitos pensaram que estas variantes serviam apenas para os hackers que quisessem brincar com o seu dispositivo, reprogramar o seu ROM e sentirem-se mais homens. Contudo, uma variedade do Android, o CyanogenMod, demonstrou tanta vitalidade que acabou por criar uma empresa organizada para fins lucrativos. Em 2012, a Benchmark e a Redpoint fizeram um primeiro empréstimo de $7 milhões à Cyanogen, Inc Em dezembro de 2014, conseguiu um empréstimo mais substancial de $23 milhões, feito por outro membro da nobre gerência de capitais de risco de Valley, Andreessen Horowitz. E agora já se fala num empréstimo de $70 milhões… no qual a Microsoft poderá ter um papel “menor”.

McMaster, CEO da Cyanogen, tem vindo a ser estranhamente honesto quanto ao objetivo da empresa:

“Sou o CEO da Cyanogen. Estamos a tentar roubar o Android à Google.”

e…

“Ainda mal começámos a ver até onde a indústria dos telemóveis pode chegar. Atualmente, a Cyanogen tem uma certa dependência da Google. Mas amanhã, não terá. Dentro de três a cinco anos vamos deixar de ser um derivado da Google. Há serviços que estão sempre a fazer as mesmas coisas – com o Android, e depois haverá algo diferente. É nesse sentido que a Cyanogen caminha.”

Palavras ambiciosas, sem dúvida, mas apoiadas pelo “dinheiro mais inteligente” de Valley.

O papel que a Microsoft tem na Cyanogen é muito provavelmente um muito pequeno; pode ser que ajude com o portefólio da patente que lança nas OEMs do Android. Todavia, o envolvimento da empresa pode ser visto como uma longa batalha com a Google. Lembre-se que a “Google adquiriu o Android em 2005 como mecanismo de defesa contra o Windows Mobile que dominava nos smartphones tal como o Windows dominava os computadores portáteis.” Mais tarde, em 2008, a Microsoft adquiriu a antiga empresa Danger do fundador do Android Andy Rubin, inspirando-se depois no design do Sidekick para criar os dispositivos da G1 da Google pré-iPhone.

Há muito que a Cyanogen tem estado na mira da Google. No início, a CyanogenMod (atualmente denominada Cyanogen OS) era vista como um inconveniente – ou uma ameaça – e os seus utilizadores descobriram que tinham de arranjar alternativas para carregar as apps da Google (Google Map, Youtube, GTalk entre outros). Como podia a Windows resistir à tentação deste irritante da Google?

Atormentador como é o investimento da Cyanogen, poderá não ser suficiente para manter a Microsoft no negócio brutal dos hardwares para smartphone, mas está em conformidade com os esforços da empresa em abalar seja de que maneira for, o ecossistema da Google, incluindo arranjar aliados para fazer ao Android o que a Microsoft de Bill Gates fez uma vez ao Lotus 1-2-3.

Não esqueçamos que a indústria telemóvel não é mais matura do que a indústria do computador era em meados dos anos 80. As coisas podem ficar interessantes à medida que a Cyanogen vai revelando o modelo empresarial que os seus fortíssimos investidores compraram. E irão ficar particularmente interessados se a empresa conseguir reunir reforços de representantes de indústrias que estejam desejosos de se ver livres do poderio da Google.

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