A Apple já faz relógios. A Google já faz óculos. São dispositivos que conjugam o melhor da moda com o melhor da tecnologia. Mas há uma pergunta que urge colocar: qual é o impacto desses dispositivos na sua saúde?
As marcas de moda e as companhias de tecnologia estão sem folgo por causa da promessa de dispositivos eletrónicos possíveis de usar como acessórios de moda. A oportunidade económica é enorme – um aumento dez vezes maior do mercado para 50 mil milhões de dólares, num prazo de 3 a 5 anos, segundo algumas projeções, e a esperada apresentação do Relógio da Apple em 2015 só tem aquecido as chamas de entusiasmo.
Isto explica a energia observada no início deste mês, numa sessão da Conferência de Luxo Internacional do New York Times sobre vestimentas, onde o painel que incluía Diane von Furstenberg, designer de moda; John Maeda, capitalista de risco, e agora académico; Stefano Rosso, Presidente da companhia de moda Only the Brave; e Babak Parviz, que desenvolveu o Google Glass (e agora trabalha para a Amazon), discutiu as possibilidades.
A discussão de Vanessa Friedman, Diane von Furstenberg, John Maeda, Stefano Rosso e Babak Parviz
Já assisti a demasiadas destas conversações, e, para dizer a verdade, elas começam a tornar-se repetitivas: a tecnologia é entusiasmante; o potencial mercado é enorme; os aparelhos não são atraentes mas a indústria da moda pode ajudar nesse aspeto. Neste painel, von Furstenberg – uma das embaixadoras da moda tecnológica mais visíveis – acrescentou algo de interessante, coisa que raramente faz nestes fóruns.
Ao discutir a evolução do design do Google Glass, para o qual a sua companhia fez as armações, ela disse:
“Primeiro o Google Glass era muito grande. E depois tornou-se mais pequeno e cada vez mais pequeno. E depois tornou-se aquela coisa pequena que se poe na cabeça, e que se espera que não nos dê um tumor no cérebro.”
Por mais que se fale de tecnologia possível de vestir/usar – é útil? Tem estilo? É acessível? – existe sempre a questão que raramente é colocada: é seguro?
O comentário obteve gargalhadas, mas foi como se ela tivesse apresentado um elefante que muitos nem se tinham apercebido que estava na sala. “Desculpem,” acrescentou ela.
O moderador do painel mudou rapidamente de conversa, mas uma mulher na audiência voltou à ideia durante o período de perguntas, dizendo que estava provado que ter o telemóvel sempre junto à cabeça causa mudanças nos níveis de glucose no cérebro. No inicio deste ano, a Fitbit também se deparou com uma questão de saúde diferente, e teve de pedir de volta um modelo do seu monitor fitness quando alguns clientes se queixaram com irritações da exposição ao níquel e químicos das pulseiras.
O problema óbvio é a falta de pesquisa a longo prazo. Sabemos que dispositivos como os telemóveis emitem radiação por radiofrequências (RF). Parviz diz que a sua equipa na Google trabalhou para garantir que dispositivos como o Glass emitam níveis de radiação RF “muito mais baixos” que o definido como seguro pelos regulamentos. O que não sabemos realmente é como nos afetam as ondas RF a longo prazo. A radiação não é forte o suficiente para modificar estruturas moleculares, como são os raios-x, mas criam calor – que é como um microondas cozinha a comida.
Estudos recentes conduzidos no Hospital da Universidade de Örebro na Suécia sugerem que os suecos que usam telefones sem fios há mais de 25 anos, têm a probabilidade mais alta três vezes de desenvolver um tumor no cérebro chamado glioma, potencialmente fatal. Outros estudos – os mais significantes que a Reuters diz terem sido parcialmente financiados por companhias de telecomunicações – encontraram um aumento no risco de tumores cerebrais com o uso de telemóveis.
Muitos concordam que uma medida de caução simples é manter alguma distância física dos nossos dispositivos que emitem radiação – mas claro que isso será muito mais difícil quando os aparelhos estiverem agarrados ao nosso corpo.