Como é criar uma startup num país caótico
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Edificar uma startup não é tarefa fácil. Mas quem o faz em países que vivem convulsões políticas tem pela frente desafios acrescidos.

Construir uma empresa nunca é fácil. Fazê-lo durante o tumulto político que se segue à queda de um ditador – bem, isso é um desafio bastante maior que as tarefas típicas de Silicon Valley, como angariar dinheiro, encontrar um espaço para o escritório, ou contratar engenheiros. “Não faz ideia,” disse Omar Gabr, co-fundador da Instabug baseada no Cairo.

Omar Gabr

Para a Instabug, que oferece uma ferramenta que permite aos utilizadores reportar bugs nas aplicações sacudindo os seus telemóveis, a instabilidade política pode dar um tiro nos seus planos. Vejamos por exemplo o lançamento da Instabug em 2013. A empresa planeou fazer o seu lançamento numa conferência de tecnologia em São Francisco, mas esses planos foram por água abaixo quando a embaixada americana no Cairo foi fechada e ficou sem eletricidade. Isso deixou Gabr e o seu co-fundador Moataz Soliman sem forma de entrar nos Estados Unidos, forçando-os a pensar num plano B. Um amigo americano acabou por apresentar a Instabug na competição de startups da conferência.

Quatro anos depois da revolução egípcia, Gabr diz que a estabilidade voltou ao país. Agora existe um cenário tecnológico vibrante, com cerca de 200 startups, uma mão cheia de capitalistas de risco, e muitos engenheiros graduados com vontade de trabalhar em empresas mais pequenas, diz ele. Em Março, a Quartz falou com Gabr durante uma viagem de um mês a São Francisco. Ele falou sobre como o otimismo renovado conduziu a paisagem de startups no Egito, e sobre o que a região está a fazer para promover o empreendorismo.

Como é que a revolução afetou o cenário tecnológico do país?

"Isso foi o lado bom da revolução do dia 25 (os protestos começaram a 25 de Janeiro de 2011). A maioria da população participou. Tínhamos acabado de derrubar uma pessoa que dirigia o país há 30 anos. Isto deu às pessoas a motivação de que conseguimos faze-lo, e conseguimos fazer qualquer coisa. Se conseguimos fazer isso, conseguimos construir o nosso próprio país, conseguimos construir as nossas próprias empresas."

Como está a paisagem de starups hoje em dia?

"Há muita atividade a acontecer agora mesmo. Existem provavelmente cerca de cinco capitalistas de risco e um grupo de “anjos” e há um acelerador que está a produzir a maioria das empresas de boa qualidade. Chama-se Flat6labs – e nós fomos uma das empresas. Podemos pensar nela como uma Y Combinator para o Médio Oriente. Eles têm uma agência no Egito (Cairo), em Abu Dhabi, e em Jeddah, na Arábia Saudita. Tem os mesmos elementos do ecossistema aqui [na Bay Area], mas muito mais pequeno. Há um pequeno número de consultores, um pequeno número de investidores, um pequeno número de empresas. O bom é que se pode angariar dinheiro a partir daqui.

Uma vez que os ecossistemas são mesmo pequenos, toda a gente tem um papel importantíssimo. O governo tem fundos para apoiar engenheiros. Eles têm edifícios em algo chamado Smart Village – podemos pensar nelas como o Googleplex, 100 edifícios juntos. Ahmed Alfi [fundador da Sawari Ventures e Flat6Labs] alugou um edifício velho na baixa, perto da praça Tahrir. Chamam-lhe o Greek Campus. Ele está a tentar que todo o ecossistema caiba nesse edifício."

Quais são as vantagens de conduzir uma empresa no Egito comparando com São Francisco?

"A retenção é mesmo muito, muito, muito difícil se quer contratar alguém em São Francisco. Está-se a competir com a Google, com o Facebook, com toda a gente – e toda a gente quer os melhores talentos. O lado bom do Egito é que eles têm os mesmos talentos que aqui. Muitas universidades têm grandes programas de engenharia."

Existe algum paralelo entre a função do Instabug como ferramenta que procura e corrige bugs e a política no Egito?

"Essa é uma observação realmente interessante. O Egito está mais estável, mas ainda é bastante complicado. Nós estamos a tentar resolver bugs no software. Outras pessoas estão a tentar resolver os bugs no governo. Toda a gente está apenas a fazer a sua parte a resolver o que é possível."

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