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O Facebook está a caminho de se tornar uma instituição financeira. E das mais poderosas do mundo. Como poderá o novo sistema de pagamentos eletrónicos da empresa de Mark Zuckerberg ter tanto impacto?

A tecnologia está a mudar um dos meios mais fundamentais que afetam todas as pessoas neste planeta: o dinheiro. A ascensão da bitcoin mostrou-nos que existe uma procura por uma moeda digital aceite globalmente.

Contudo, tudo aquilo que ainda está a prender a bitcoin – a aceitação dos comerciantes, as transações instantâneas (a bitcoin demora cerca de uma hora a ser transferida) e a segurança – está a ser criado pela rede social global. No passado mês de março, o Facebook (NASDAQ: FB) inaugurou um sistema de pagamentos diretos gratuitos, e colocou a empresa no caminho de se tornar uma das instituições financeiras mais poderosas do mundo.

Por que gera dinheiro

O ano passado, os trabalhadores imigrantes enviaram 583 mil milhões de dólares para os seus países de origem, um processo também conhecido como remessas. As remessas são um dos maiores fluxos financeiros do mundo desenvolvido. Em alguns países, as remessas contabilizam cerca de 30% do PIB.

Contudo, enviar dinheiro é dispendioso. O mercado é controlado por duas empresas – Western Union (NYSE: WU) e MoneyGram (NASDAQ: MGI) .– que detêm o duopólio da indústria global. A taxa média por transferência é de 8%, mas alguns países ainda cobram uma tarifa que pode chegar aos 29%.

Num relatório publicado recentemente pelo Banco Mundial, esta instituição concluiu que “é errado forçar os trabalhadores imigrantes a pagar 50 dólares para enviar 200 dólares, especialmente quando eles estão a enviar os salários para os quais trabalharam com a esperança de poder suportar as suas famílias que ficaram para trás.”

Pelo seu lado, o Facebook não está a cobrar qualquer taxa pelas transferências. A empresa incorre em encargos impostos pelos bancos, mas afirma que não vai passar estas despesas para o consumidor.

Neste momento, as transferências de dinheiro através do Facebook estão limitadas aos utilizadores nos Estados Unidos, mas várias fontes dentro da empresa confirmaram que esta funcionalidade vai expandir-se além das fronteiras americanas num futuro próximo. Resta ainda saber se o Facebook vai cobrar alguma taxa sobre as transferências internacionais e a conversão de moeda, mas, a acontecer, é provável que esta seja muito reduzida. De acordo com Steve Davis, gestor de produto do Facebook, a companhia “não está a tentar ganhar dinheiro com os pagamentos.”

O Facebook já está bem encaminhado para se tornar uma instituição financeira global. No verão passado, o Financial Times descobriu que o Facebook está prestes a receber autorização do Banco Central da Irlanda para se tornar uma instituição de dinheiro eletrónico na Europa. Isto irá permitir aos utilizadores guardar dinheiro na rede social, transferir dinheiro para outras pessoas ou comprar itens online.

A longo prazo, os pagamentos do Facebook têm poder para destruir por completo a Western Union e a Money Gram (que façam boa viagem), e beneficiar milhões de pessoas no mundo desenvolvido, com um fluxo mais livre de milhares de milhões de dólares. O Facebook está em posição para controlar a maior parte das remessas enviadas por todo o mundo, oferecendo taxas de transferências abaixo da média de mercado e a melhor experiência para os utilizadores de dispositivos móveis. Isto não poderia vir em melhor altura para a rede empresa, que para crescer necessita desesperadamente que o resto do mundo se inscreva na rede social.

O último par de anos têm sido particularmente duros para o Facebook, à medida que os mercados europeu e norte-americano chegam a um ponto de saturação. Não deve haver melhor forma para o Facebook atrair novos utilizadores do mundo em desenvolvimento que tornar-se a aplicação definitiva para receber dinheiro do estrangeiro.

Corrida ao ouro?

As remessas podem abrir a porta ao crescimento, mas isso não se compara a uma oportunidade muito maior para o Facebook – oferecer às pessoas que não utilizam bancos eletrónicos uma forma de também elas fazerem compras online. Segundo a empresa de consultoria McKinsey, existem 2,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo que não utilizam bancos formais ou instituições financeiras. As suas economias são quase totalmente baseadas em dinheiro vivo, e sofrem o problema da “galinha e do ovo”: uma vez que ninguém está disposto a converter dinheiro vivo em dinheiro eletrónico, não há incentivo para os comerciantes aceitarem pagamentos eletrónicos. Sem nada para suster o sistema de dinheiro eletrónico, o ciclo continua inalterado.

Mas o mundo está a mudar. Nos próximos cinco anos, quase todas as pessoas no planeta vão ter acesso à internet. A Ericsson prevê que, em 2019, vão existir 5,9 mil milhões de pessoas com um smartphone. Quando todas as famílias do planeta tiverem acesso a um smartphone com internet veloz, o paradigma vai-se alterar. Vai desaparecer a ideia de que ainda precisamos de dinheiro físico, de cartões de plástico e de dinheiro de papel. Já está a começar a acontecer. Durante o ano novo chinês em fevereiro, os utilizadores do WeChat enviaram mais de mil milhões de “envelopes vermelhos” com dinheiro eletrónico.

É fácil imaginar um mundo onde os trabalhadores dos países em desenvolvimento são pagos através do Facebook com pagamentos diretos, guardam o seu dinheiro no Facebook, compram bens locais através de transferências e têm a possibilidade de pagar items por via do Facebook. O efeito que o Facebook poderá ter no mundo enquanto instituição financeira eletrónica é simplesmente abismal.

O grande dia de pagamento

Então, porque deveria o Facebook facilitar milhões de transferêncuas e compras online sem cobrar praticamente nada em troca? Primeiro que tudo, coloca a empresa próxima de obter o “santo graal” da informação – saber como é que os utilizadores gastam o seu dinheiro. Não vamos esquecer que, no final contas, a grande essência do Facebook é como rede de publicidade.

Quando um utilizador “gosta” de uma marca, isso não significa que ele ou ela seja um cliente. Por exemplo, quantos dos 11 milhões de fãs da Lamborghini no Facebook podem, de facto, adquirir um carro? O Facebook pode tentar advinhar, mas não consegue responder a essa questão com qualquer certeza.

Contudo, num mundo onde o Facebook pode combinar transações financeiras e gráficos sociais, os anunciantes poderão ter uma informação quase perfeita acerca da sua audiência. Nenhuma outra rede de publicidade no mundo poderia oferecer as mesmas capacidades e informação do Facebook – comportamento de compras, rendimento, poupanças, etc.

Mostra-me o dinheiro eletrónico

Apesar do que dizem os “velhos do Restelo”, o futuro do mundo nunca pareceu tão promissor. Estamos atualmente a passar por um período de enorme crescimento socioeconómico. Em 2009 existiam 1,9 mil milhões de pessoas inseridas na classe média, e esse número vai crescer para 4,9 mil milhões durante os próximos 15 anos.

À medida que milhões de pessoas se erguem da pobreza para se tornarem consumidores, a questão torna-se cada vez mais premente – como é que as novas economias do futuro vão operar? Será que se vão manter fiéis às moedas e ao papel que a sociedade tem vindo a usar durante os últimos 3500 anos? Ou será que a internet e a tecnologia móvel podem mudar essa situação?

Eu quero acreditar na segunda hipótese. É verdade que muitas destas ideias vão demorar décadas até dar fruto, mas eu acredito que vamos ver muitas delas ocorrer durante um futuro próximo. O Facebook está defronte uma oportunidade incrível: pode utilizar a tecnologia para alterar a forma como as pessoas veem o dinheiro. Eu deixei de utilizar o Facebook há alguns anos, mas talvez Mark Zuckerberg me venha a dar uma boa razão para reativar a minha conta.

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