O projeto de realidade virtual da Google
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Conheça o Google Cardboard, um dos projetos de vanguarda do universo da realidade virtual. Quais serão as novas possibilidades abertas por esta tecnologia?

David Coz trabalhou no escritório da Google (NASDAQ: GOOG) em Paris, mas o que ele realmente queria era um emprego na “nave-mãe”, em Silicon Valley. Na primavera passada Coz, nascido em França, apareceu na sede da Google em Mountain View e tinha esperanças de conversar sobre o seu mais recente projeto com quem quisesse ouvir. "Eu vim com o meu protótipo e a minha bagagem," diz ele, "e eu encontrei-me com 10 ou 15 pessoas." Um deles era Christian Plagemann, um cientista de pesquisa da Google que explora novos interfaces para dispositivos eletrônicos de consumo. Apesar de eles nunca se terem conhecido, Coz mostrou-lhe o protótipo: um par de óculos de realidade virtual feitos de papelão. Plagemann ficou intrigado – "o David mostrou-me esta caixa de papelão," disse ele, "e eu pensei que era absolutamente incrível" – Plagemann pegou na engenhoca e levou-a até aos grandes do Google, incluindo o diretor executivo Larry Page e o vice-presidente da engenharia Sundar Pichai.

"Eu convenci-o a deixar-me uma das caixas. Ele voou de volta para Paris. E eu comecei a mostrar a caixa," lembra Plagemann.

Dois meses depois, Pichai revelou o projeto no palco principal da conferência anual de programadores da Google em São Francisco, os funcionários da Google entregaram headsets de papelão a milhares de programadores enquanto eles transmitiam da sala dos altifalantes. Foi um espetáculo um pouco estranho numa conferência onde a empresa tipicamente distribuía milhões de dólares em telefones, tablets e outros equipamentos eletrônicos. Mas naquele ano, este dispositivo de tecnologia inesperadamente baixa – algo que pode envolver um ecrã de smartphone comum – engendrou dentro da empresa um amplo projeto de realidade virtual, dando à Google um suporte numa área que está preparada para remodelar o mundo da tecnologia.

Coz chegou a juntar-se à nave-mãe. Ele, Plagemann e um outro empregado de Paris, que criou o Google Cardboard, Damian Henry, fazem todos parte de uma equipa de realidade virtual da Google que é "maior do que as pessoas pensam que é." Em dezembro, a equipa persuadiu um grupo de especialistas de visão em 3-D liderado por Steve Seitz, um professor da Universidade de Washington, cujo trabalho deu origem a uma aplicação da Microsoft para fotos panorâmicas chamada Photosynth. John Wiley, que já tinha supervisionado o design visual do motor de busca Google, também se juntou recentemente à equipa. A equipa está neste momento a construir tecnologia de realidade virtual bastante complexa o que coloca o Google em concorrência com o Facebook (NASDAQ: FB), Microsoft (NASDAQ: MSFT) e outros.

Na quinta-feira, depois do líder da equipa Clay Bavor ter mostrado uma nova encarnação dos óculos de papelão na conferência de programadores da Google I/O deste ano, ele revelou que a empresa tem projetada uma câmara com lentes 16 que pode gravar vídeos num raio de 360 graus, e que também está a desenvolver um sistema de software que pode transformar esses vídeos num tipo de experiências estereoscópicas imersivas, que os óculos se destinam a fornecer.

A empresa chama a tudo isto a sua plataforma de realidade virtual "Jump", e diz que a GoPro (NASDAQ: GPRO) vai oferecer uma versão da sua câmara este verão. Mas todos estes desenvolvimentos, ao que parece, são apenas percursores de algo maior.

"Temos ambições para além do Papelão", diz Bavor. "Existem muitas outras coisas a acontecer."

Participantes a olhar através do Google Cardboard VR (realidade virtual) espectadores durante a Conferencia anual de Desenvolvedores Google I/O em San Francisco. David Paul Morris / Bloomberg pela Getty Images

'A realidade virtual nerd'

A ascensão do Google Cardboard mostra o caminho incomum em que opera a Google. Em Paris, Coz e Henry trabalharam para o Instituto Cultural Google, uma maneira de os museus e outras instituições colocarem a sua arte online. Os seus óculos de papelão, entretanto, eram um "projeto de 20%," onde os funcionários da Google dedicam um dia por semana (ou seja, 20% do seu tempo) a alguma nova ideia.

O projeto começou depois de eles terem encontrado um vídeo pouco visto do YouTube de um drone voador. Era um vídeo estereoscópico para um headset 3-D que eles não tinham, e eventualmente, eles perceberam que poderiam ver esses vídeos se criassem um headset improvisado em volta de um telefone – "tem apenas que garantir que o telefone entende para onde a sua cabeça está a olhar" disse Coz – falaram da ideia ao seu diretor em Paris para desta forma conseguirem uma maneira dos alunos visitarem virtualmente as galerias dos museus.

Projetos de 20% originaram alguns produtos muito graves no passado – pense no Gmail e no AdSense – mas até mesmo para a Google, a transformação de papelão francês numa equipa bem equipada de realidade virtual é um caso extremo.

"Quando saiu no ano passado, parecia um abre olhos para a realidade virtual – um abre olhos para todos aqueles que pensavam que a realidade virtual era algo de alto calibre. Eles disseram coisas como: ‘Não tem que ser assim,” diz Brian Blau, um analista de uma empresa de pesquisa, Gartner que anteriormente explorou a realidade virtual, tanto como acadêmico e no mundo comercial. "Contudo este abre olhos tornou-se num ‘Uau, tínhamos razão. ’ E tudo agora é muito mais sério também. "

Na primavera passada, após Plagemannn – um engenheiro nascido na Alemanha que trabalhou anteriormente em carros autodirigíveis na Universidade de Stanford – mostrou os óculos de papelão ao homem de confiança da Google, alguém sugeriu-lhe que os levasse a Bavor. Bavor era o vice-presidente da gestão de produtos que supervisionou o design do interface do usuário para o Gmail, Google Docs, Google Drive e Google Apps. Mas dentro da empresa, ele era conhecido como um "nerd da realidade virtual."

Clay Bavor

"Eu tinha feito experiências com realidade virtual e telepresença: Como podemos ter uma conversa se eu e tu não estamos realmente aqui?" diz Bavor, o homem com aparência de menino. É o tipo de coisa, explica ele, com que ele sempre experimentou. Ele gosta de pensar que criou a sua primeira aplicação de realidade virtual quando tinha doze anos, usando o antigo programa Hypercard da Apple para criar uma imagem panorâmica da sua casa." Não existiam óculos. Era praticamente a realidade virtual de um homem pobre. Mas era algo em que eu estava verdadeiramente a pensar."

Sob Bavor, a equipa transformou aqueles óculos de papelão em algo que é agora usado por nada mais nada menos que um milhão de pessoas. Blau diz que isto faz com que o papelão seja o dispositivo de realidade virtual mais bem-sucedido de todos tempos – "por uma grande margem." Usando os modelos da Google, qualquer um pode construir os seus próprios óculos, colocando duas lentes à frente do dispositivo de papelão e um telefone na parte de trás. A partir do telefone, eles podem, então, usar uma aplicação para reproduzir esses vídeos estereoscópicos – vídeos que capturam a mesma cena a partir de dois ângulos ligeiramente diferentes e dão a ilusão de profundidade quando vistos através de duas lentes separadas (uma para cada olho).

Enquanto o projeto se expandia, a equipa adicionou designers de câmara, assim como Seitz e a sua equipa. Seitz mantém o seu posto na Universidade de Washington, mas há cerca de cinco anos atrás, ele entrou para a Google para criar um grupo dedicado à visão 3-D.

"Foi-me dito que eu podia vir para a Google e contratar quem eu quisesse e trabalhar em tudo o que eu queria," diz ele. "Eu seria capaz de contratar a equipa dos meus sonhos."

Anteriormente, o grupo construiu passeios com fotos 3-D em cima do Google Maps e eles trabalharam numa ferramenta que permite centrar de novo uma fotografia depois de ser tirada.

Bavor recusa-se a dizer no que a empresa está a trabalhar fora o Papelão e o Jump. Mas de acordo com o Wall Street Journal, a equipa está a construir uma "versão do sistema operacional Android para as aplicações de realidade virtual." Embora o jornal seja escasso em detalhes, isto implica que o sistema operacional seria executado numa nova geração de hardware, ou seja, óculos que não sejam feitos de papelão

'Na hora certa'

O esforço com a realidade virtual por parte da Google coloca-a num caminho paralelo ao Facebook, que adquiriu a startup de realidade virtual Oculus na primavera passada e está pronta para lançar o seu headset Rift ainda este ano. Mas a Google também está de olho na "realidade aumentada," semelhante ao que a Microsoft está a explorar com o seu headset Hololens. Além do seu muito discutido headset Google Glass – que está numa espécie de limbo neste momento – a empresa recentemente juntou-se a um grupo que investiu $542 milhões na capaz startups de realidade aumentada Magia Leap. Bavor diz que estava "muito envolvido" no negócio.

Os sistemas de realidade aumentada fornecem uma forma de sobrepor imagens 3-D — ou "hologramas"—sobre o que se vê aqui no mundo real. A esperança é que não só forneçam uma nova forma de utilizar sistemas de computação, tais como pendurar uma janela de Skype na sua parede, mas também transformem a maneira como assistimos a filmes e jogamos jogos e até mesmo que seja possível ajudar os projetistas e engenheiros a criar objetos físicos. A realidade virtual, pelo contrário, deixa de fora o mundo real, submergindo-o num "lugar" diferente de uma forma que é mais adequada para jogos, educação e formação.

Na quinta-feira, a Google lançou o que chama de Expeditions— uma forma de as crianças de escola fazerem viagens virtuais a lugares como Veneza e à Grande Muralha da China. É um eco do original do que Coz e Henry fizeram para o seu diretor em Paris.

Bavor diz que este é o futuro próximo da realidade virtual. Mas o Facebook também o vê como um meio de comunicação por todo o mundo. Isso está longe da realidade, mas estamos a ir nessa direção— no Facebook, Google e outros. "Cardboard," diz Coz, "foi um projeto que veio na altura certa."

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