O arquiteto canadiano Michael Green apresentou a proposta para construir um edifício que poderá vir a ter um impacto equivalente ao da torre Eiffel. Quais serão as características desta torre de madeira?
Esqueçam o aço e o betão. O novo material de eleição para os arranha-céus poderá vir a ser a madeira, caso o arquiteto canadiano Michael Green consiga levar a sua avante.
A empresa de Green, a MGA de Vancouver, em conjunto com o escritório de arquitetura francês DVVD e o grupo imobiliário REI France, apresentou recentemente uma proposta para construir aquele que seria o edíficio de madeira mais alto do mundo, a propósito da Reinventer Paris, uma competição que procura novas ideias para revitalizar a arquitetura na capital francesa.
Com 35 andares, a torre no centro do complexo “Baobab” – que também incluí habitações para estudantes, espaços verdes, uma estação de autocarros e um centro automóvel – tem como objetivo ajudar a resolver os problemas de habitação naquela cidade, de uma forma sustentável, criativa e amiga do ambiente.
Jardim no telhado do arranha-céus, um projeto da MGA no âmbito do concurso da Reinventer Paris
Algumas das pessoas envolvidas no projeto até comparam o conceito à Torre Eiffel. Segundo Michael Green, quando a Torre Eiffel foi inaugurada como a estrutura mais alta do mundo, em 1889, teve um enorme impacto a inspirar arquitetos a empregar aço nas suas construções. Agora, o arquiteto espera que a Baobab possa fazer o mesmo.
“A madeira, ao contrário do aço e do betão, sequestra o dióxido de carbono, armazenando-o longe da vida do edifício em que se encontra”, Michael Green, arquiteto.
“A visão de Eiffel redefiniu os céus de todo o mundo, eventualmente começando uma corrida pela altura em locais como Nova Iorque e Chicago, nas décadas de 1920 e 1930 e até… nos dias que correm, em cidades globais na Ásia e no Médio Oriente”, considera Green. “Adoramos a ideia de que uma torre de madeira em Paris, ainda que modesta em vários aspetos, possa ajudar a promover uma nova vaga de construção com materiais mais sustentáveis, renováveis e bonitos”, acrescentou o arquiteto.
A ascensão do gigante de contraplacado?
A ideia de um arranha-céus de contraplacado poderá soar demasiado rebuscada para quem não esteja familiarizado com este conceito, e atualmente não existem planos concretos para construir o edifício da MGA em Paris.
Mas os edifícios altos de madeira são uma evolução arquitetural que está a receber cada vez mais atenção e a ser efetivamente considerada em vários locais em todo o mundo.
Já está programado o início da construção do edifício HoHo, uma estrutura de 84 metros constituída quase inteiramente por madeira, em Viena, Áustria, no próximo ano.
A construção será iniciada em 2016
Entretanto, um bloco de apartamentos de madeira com 34 andares poderá ser erigido em 2023 em Estocolmo, se a firma de arquitetura C.F. Moller conseguir concretizar os seus planos.
Os arquitetos da C.F. Møller desenharam uma torre de apartamentos com 34 pisos, com estrutura de madeira, para o centro de Estocolmo. Poderá vir a ser construída em 2023
A MGA já construiu o Centro de Inovação e Design de Madeira, com 30 metros de altura, na Colúmbia do Norte. Outros edifícios de madeira bastante ambiciosos também já apareceram em países como a Austrália e o Reino Unido.
O Centro de Inovação e Design de Madeira, Colúmbia do Norte
As vantagens da madeira incluem a sua destreza enquanto material de construção e as suas fortes credenciais ambientais.
A madeira laminada cruzada – um múltiplo painel de madeira que é utilizado para formar paredes, tetos e chãos – estabeleceu-se rapidamente como um material de construção forte, fiável e popular.
“A madeira, ao contrário do aço e do betão, sequestra o dióxido de carbono, armazenando-o longe da vida do edifício em que se encontra”, considera Michael Green. “Sendo um material renovável alimentado pelo poder do sol, a madeira oferece-nos uma nova forma de pensar acerca do nosso futuro”, conclui.
O material promocional do edifício Baobab afirma que esta estrutura iria armazenar cerca de 3700 toneladas métricas de dióxido de carbono. É o equivalente a manter 2207 carros afastados da estrada durante um ano, ou operar uma casa durante 982 anos, afirma a MGA.
A torre também seria erigida através de um método de construção prefabricada, onde os componentes são medidos e fabricados numa fábrica, frequentemente com o espaço para as portas e janelas já aberto nos painéis, antes de serem rapidamente transportados e montados no local. Potencialmente, isto poderia reduzir os custos, o tempo de construção e o impacto na zona.
Riscos inflamáveis
Do outro lado da barricada, contudo, os críticos dizem que as desvantagens das grandes estruturas de madeira incluem um potencial aumento do risco de incêndios e o facto de que as economias de escala ainda não estão preparadas para tornar a madeira substancialmente mais barata que o aço e o betão.
Algumas notícias que vieram a público este ano sugerem que o departamento de bombeiros de Viena estaria a trabalhar com a firma de arquitetura de forma a encontrar uma solução para minimizar os riscos de incêndio.
Para Michael Green, construir uma estrutura de madeira tão ambiciosa iria “reinventar a madeira; torná-la mais forte, mais segura contra os incêndios, mais duradoura e ajudar a selecionar material de florestas geridas de forma sustentável”.
Este último ponto é particularmente relevante, se a madeira quiser cumprir com a sua promessa de ser um material sustentável. Uma cadeia de fornecimento eficiente, capaz de repor a madeira a uma velocidade semelhante àquela a que é consumida, seria um requerimento básico.
O complexo Baobab como foi desenhado pela MGA em conjunto com os seus parceiros em França
Depois, há também a dificuldade em introduzir novos materiais e conceitos num modelo de construção que já é relativamente eficiente e cujos custos são também eficazes.
Um especialista em madeira do grupo de engenharia ARUP, Andrew Lawrence, afirmou à CNN que as paredes de cisalhamento – o elemento central dos edifícios mais altos – deverão continuar a ser construídas com betão e aço, pelo menos durante o futuro mais próximo. Segundo ele, numa comparação estritamente monetária enquanto materiais de construção, a madeira iria ter dificuldades para ser mais barata que o betão.
“O que temos de fazer, se queremos a madeira como uma solução económica, é pensar em todos os aspetos logo a partir do primeiro momento”, Andrew Lawrence, especialista em madeira.
Michael Green apontou que todos os edifícios de madeira da MGA têm, até agora, sido construídos com “um núcleo central de madeira maciça.” Apesar disso, o arquiteto acrescentou que os alicerces foram construídos em betão e as ligações entre a madeira são feitas de aço.
Ainda assim, Lawrence também considerou que a construção com madeira também pode ter os seus benefícios, se esta for planeada cuidadosamente.
“O que temos de fazer, se queremos a madeira como uma solução económica, é pensar em todos os aspetos logo a partir do primeiro momento”, afirma Andrew Lawrence. “Vamos poupar no planeamento porque tudo está seco e é rápido para erigir. E, potencialmente, se estamos a fazer um edifício de escritórios podemos deixar muita da madeira exposta, poupando no custo e tempo de instalar os acabamentos”, explica o especialista. “Se deixarmos a madeira exposta, também podemos ter uma ambiente realmente agradável dentro do edifício”, concluiu.
Tal como sugerem a MGA e o próprio Michael Green, não há melhor local para testar o potencial estético e estrutural da madeira que o pitoresca cidade parisiense.