Um programa desenvolvido por investigadores chineses apresentou resultados que nos fazem lembrar filmes de ficção científica.
A ciência deu um pequeno passo em direção ao HAL 9000. Um novo programa de inteligência artificial (IA) desenvolvido por investigadores chineses venceu os humanos num teste verbal de coeficiente de inteligência.
Tradicionalmente, os computadores têm muita dificuldade em obter boas pontuações em testes verbais, uma vez que as palavras têm múltiplos significados e uma relação complexa entre elas. Mas neste novo estudo, o programa teve um melhor desempenho que os seus concorrentes humanos.
Os resultados desta investigação sugerem que as máquinas podem estar um passo mais próximo de atingirem o nível de inteligência humana, de acordo com os responsáveis pelo estudo que foi colocado na base de dados online arXiv, mas que ainda não foi publicado num jornal científico.
O QI não é a medida de inteligência definitiva
Mas não fiquem já demasiado entusiasmados: o QI não é a medida de inteligência definitiva, seja humana ou artificial.
Desde logo, o teste apenas mede um tipo de inteligência (e habitualmente, como apontam os críticos, à custa de outros elementos, como a criatividade ou a inteligência emocional). Além disso, alguns investigadores afirmam que o QI não é a melhor forma de medir a inteligência das máquinas, uma vez que algumas questões podem ser solucionadas com uma batota básica.
Os testes de QI, uma ideia inicialmente proposta pelo psicólogo alemão William Stern, no início dos anos 1900, consistem habitualmente num grupo de perguntas projetadas para medir a inteligência humana em lógica, matemática e compreensão verbal.
As questões verbais testam o entendimento acerca das palavras com múltiplos significados, sinónimos e antónimos, bem como analogias (por exemplo, uma pergunta pode pedir para escolher, entre várias possibilidades, qual a que melhor corresponde à analogia “sedativo : sonolência”.
Não existem muitos programas de computador capazes de resolver testes de QI, o que dá mais valor a estes resultados.
Bin Gao, um cientista da Microsoft Research em Pequim, desenvolveu este novo programa de IA, com o objetivo específico de responder às questões do teste verbal.
Primeiro, Gao e a sua equipa desenharam um programa para perceber que tipo de questão estava a ser colocada. Depois, encontraram uma nova forma de representar os diferentes significados das palavras, e como é que as palavras se relacionavam entre si.
A equipa de investigadores utilizou uma abordagem conhecida como “aprendizagem profunda”, que envolve construir cada vez mais representações abstratas de conceitos. (Por exemplo, o Google utiliza a aprendizagem profunda nas suas funcionalidades de pesquisa e de tradução).
Finalmente, os investigadores desenvolveram uma forma de resolver os problemas inscritos nos testes. Eles deram um conjunto de questões de QI ao seu programa de computador e a um grupo de 200 pessoas com diferentes níveis de educação, recrutadas com plataforma de crowdsourcing Amazon Mechanical Turk.
Ainda assim, os resultados são estupendos
Os resultados da IA foram estupendos. Apesar de ter obtido melhores pontuações que a média das pessoas incluídas no estudo, não esteve tão bem contra alguns participantes, tais como as cerca de 30 pessoas que tinham um mestrado ou um doutoramento.
Estes resultados foram elogiados por outros cientistas que não estiveram envolvidos no estudo, embora também tenham advertido que estes ainda são os primeiros, e pequenos, passos.
Robert Sloan, um cientista da Universidade de Illinois em Chicago, afirma que o desempenho deste programa é um pequeno passo em frente, mas também apontou que estes exames de resposta múltipla são apenas um tipo de teste de QI, e não são comparáveis aos exames de pergunta aberta administrados pelos psicólogos aos estudantes.
No que se refere à IA, “os aspetos em que até agora vimos muito pouco progresso estão relacionados com o diálogo aberto e a compreensão social”, revelou Sloan. Por exemplo, se perguntarmos a uma criança o que ela faria se visse um adulto deitado na rua, a expectativa é que ela responda que iria pedir ajuda. “Neste momento, não há forma de desenvolvermos um programa de computador que fosse capaz de dar a mesma resposta”, afirma o especialista.
Em 2013, Sloan e a sua equipa desenvolveram um programa de IA que, num teste de QI, obteve a mesma pontuação que uma criança de quatro anos, embora o seu desempenho tenha sido extremamente variado. Se uma criança registasse a mesma variação, as pessoas iram logo pensar que ela tinha algum problema, considerou Sloan na altura em que o estudo foi publicado.
Hannaneh Hajishirzi, uma engenheira elétrica e cientista da Universidade de Washington em Seattle, desenvolve programas informáticos capazes de resolver programas matemáticos, e também ela é da opinião que estes resultados são interessantes. Os investigadores chineses “obtiveram resultados interessantes em termos de comparação com os humanos neste teste de questões verbais” afirma, acrescentado, contudo, que “ainda estamos longe de desenvolver um sistema que possa raciocinar como os humanos”.
Assim, talvez a IA ainda não esteja preparada para dominar o mundo, como previram Stephen Hawking e outros cientistas. Mas, pelo menos, teremos computadores capazes de fazer boas analogias.