Uma startup checa criou uma aplicação que lhe permite detetar se uma imagem foi alterada. Assim não será facilmente ludibriado pelos media.
Há um algoritmo que consegue determinar se uma fotografia foi falsificada
A história está cheia de imagens manipuladas. Adolf Hitler, Joseph Stalin e Mao Zedong foram conhecidos por cortarem ex-aliados de fotografias históricas depois de um desacordo. Até mesmo Winston Churchill não deixava de adulterar fotografias quando isso lhe convinha.
Naquela época era necessário equipamento técnico especial e demoradas técnicas de câmara escura para manipular uma imagem. Mas desde que as fotografias se tornaram digitais tornou-se muito mais fácil modificá-las e muito mais difícil dizer quando é que uma imagem foi ou não adulterada.
No entanto, uma start-up checa criou um produto que pode fazer exatamente isso – e os bancos e companhias de seguros estão a utilizá-lo para detetar fraudes.
Em 2004, um grupo de cientistas e especialistas do digital liderados por Babak Mahdian reuniram-se em Praga com um único objetivo: construir um conjunto de ferramentas que permitissem detetar se uma imagem tinha sido adulterada.
O cigarro de Winston Churchill foi removido desta imagem quando fumar passou a ser considerado prejudicial
Tinham ouvido que identidades falsas estavam a ser submetidas junto dos bancos para que indivíduos pudessem criar contas fraudulentas online – e estavam a ser utilizadas imagens manipuladas para enganar companhias de seguros.
O alto dirigente do Partido Comunista chinês, Bo Gu, foi removido desta fotografia depois de um desentendimento com Mao
A equipa criou o Verifeyed que utiliza aprendizagem automática para descobrir se as fotografias passaram por software de edição e estabelecer que câmara ou telemóvel foi utilizado para as tirar.
Hitler mandou retirar o ministro da propaganda, Joseph Goebbels, da imagem original
As câmaras digitais tradicionais têm diversos componentes: um sistema ótico, um foto-sensor e um sistema de armazenamento. Cada componente tem uma “impressão digital” única.
Um indivíduo tentou enganar uma companhia de seguros fazendo parecer que um carro tinha sido danificado. É com este tipo de imagem que o Verifeyed trabalha
Essa “impressão digital” pode ser exclusiva para uma câmara ou modelo de câmara e pode ser corrompida quando uma imagem é adulterada.
Stalin retirava os seus inimigos de fotografias frequentemente. Foi removido um comissário desta fotografia após um desentendimento entre ambos
Uma das formas de o Verifeyed detetar imagens falsas passa por descobrir quantas vezes a mesma foi comprimida em formato JPEG para arquivo.
O Rei George VI foi removido da fotografia original de si próprio – e da rainha Elizabeth e Primeiro Ministro canadense William Lyon Mackenzie King – pois o Primeiro Ministro queria pintar-se a si mesmo com uma luz mais poderosa
Se uma imagem tiver sido adulterada será descompactada, carregada em software de edição de fotografias, manipulada e novamente compactada.
O ditador italiano Benito Mussolini mandou remover o tratador de cavalos da fotografia original para parecer mais heróico
JPEG é um formato com perdas, o que significa que cada vez que se compactar uma imagem jPEG algumas informações são perdidas para tornar o ficheiro mais pequeno.
Não se preocupe, a Sandra Bullock deve estar bem – esta imagem é falsa
Quando uma imagem JPEG é comprimida é dividida em blocos adjacentes de pixéis. Esses blocos são comprimidos separadamente mas ainda se relacionam entre si da mesma forma que o fariam na fotografia original.
O website saudita, Al-Arabiya, com notícias em inglês publicou uma fotografia na qual foram digitalmente inseridos aviões de combate acima dos combatentes rebeldes líbios perto de um posto de controle nos arredores de Ras Lanuf, no norte do país
Se alguém tiver feito alterações em partes de uma imagem as alterações não se irão relacionar entre si da mesma forma. O algoritmo Verifeyed é capaz de detetar essas diferenças.
A revista francesa Paris Match alterou uma fotografia do presidente Nicolas Sarkozy, removendo alguma gordura corporal. A revista disse que tinha tentado ajustar a iluminação da fotografia
Assim que foi criado, o Verifeyed assumiu contratos com um banco, agência de notícias e duas companhias de seguros.
A agência oficial de notícias iraniana lançou uma fotografia divulgando o desenvolvimento de um novo e sofisticado drone no país, mas na verdade tinha removido características de uma imagem de um drone desenvolvido pela Universidade de Chiba no Japão
Depois de seis meses a rever mais de 1.5 milhões de imagens, cerca de 2% das imagens sinalizadas pelo Verifeyed constituiam falsos positivos – fotos reais incorretamente sinalizadas como falsas.
Não se trata de uma grande percentagem – mas se uma companhia de seguros recebesse 4 milhões de imagens digitais por ano tal significaria 80.000 falsos alarmes. Uma grande quantidade de clientes poderia ser falsamente acusada de fraude.
Um jornal russo distribuído por um grupo pró-Kremlin publicou uma imagem manipulada a mostrar o blogger/ativista Aleksei Navalny atrás de Boris A. Berezovsky, esquerda, um financeiro exilado procurado pela polícia russa.
E o produto Verifeyed levou um ou dois segundos a processar cada fotografia. Uma empresa poderá ter milhares de fotografias a processar diariamente logo o processo demora muito tempo.
Uma fotografia de Sarah Palin tornou-se viral, pouco depois de Palin ter sido anunciada como candidata a vice-presidente, mostrando-a num biquíni patriótico e a segurar numa espingarda. Na verdade era uma combinação da cabeça de Palin e do corpo de outra pessoa. Durante algum tempo a CNN acreditou que fosse verdadeira
A equipa voltou para a prancheta – os clientes do Verifeyed queriam um sistema que não fosse tão lento ou tão sensível.
O ortodoxo jornal israelita Yated Neeman removeu digitalmente duas mulheres membro do governo de uma fotografia do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu (centro-esquerda) e do Presidente Shimon Peres (centro-direita), substituindo as mulheres por membros do governo do sexo masculino
Depois de introduzidas algumas melhorias apenas 0,01% das imagens digitais que o Verifeyed examina são falsos positivos – e já analisa as imagens em menos de um segundo.
O Verifeyed também é utilizado em inteligência militar. O programa descobriu que um soldado tinha sido removido desta imagem
O Verifeyed, que agora tem uma equipa de nove pessoas, não divulgou as suas receitas. Mahdian disse que a empresa não recebeu qualquer financiamento de capitais de risco.
Um turista numa varanda de uma das Torres Gémeas não estava lá no 11 de setembro de 2001. O carimbo da hora e avião foram adicionados mais tarde
Segundo Mahdian, em vez disso o Verifeyed tem-se baseado em algumas business angels como Jan Stok, o CEO da companhia de seguros MAI. A equipa também utiliza os recursos da sua empresa-mãe, uma empresa de desenvolvimento de visão computacional chamada ImageMetry.
O CEO da Verifeyed, Babak Mahdian, e o seu CTO, Radim Nedbal, na fotografia com Michael Bloomberg, venceram a competição NYC Next Idea em 2011