Perceba como a líder do comércio online está a revolucionar a forma de fazer compras.
Na passada sexta-feira, chegaram-me à porta 16 Larabars e uma caixa com 80 sacos de lixo da Glad. Estes objetos não têm nada de especial, exceto pelo seguinte: para encomendá-los, bastou-me pressionar uns botões no balcão da minha cozinha. As compras online – também conhecidas como o impulso “certamente que vamos precisar disto para o apocalipse” – podem agora ser feitas (nos EUA) pressionando um pequeno botão de plástico “Compra-me!” produzido pela Amazon.
Podemos olhar para os botões Dash da Amazon de várias formas. A primeira, e a mais óbvia, é a de que eles são um “truque”. Há algo de ridículo quando temos de gastar dinheiro para gastar mais dinheiro. Pelo menos, foi isso que senti quando entrei no site da Amazon e enchi o meu carrinho de compras virtual com os botões, perfazendo um total de 16,29 dólares por três (cada um custa 4,99 mais IVA).
“É só isto?”, pensei eu, quando os botões com pouco mais de sete centímetros chegaram uns dias mais tarde. Cada um vinha numa caixa de cartão minúscula, como se fosse uma caixa da Amazon para uma casa de bonecas. É esta a visão da Amazon para o futuro das compras? Atualmente, existem botões para a Bounty, Smartwater, Gillette, Huggies, Gatorade, e mais uma dúzia de marcas. Alegadamente, estas marcas pagaram dinheiro à Amazon para terem os seus próprios botões de plástico. Seja de que forma for, a Amazon recebe sempre dinheiro.
Mas estes botões também suportam uma experiência de compras que envolve uma interação praticamente inexistente, seja ela vasculhar pelas prateleiras das lojas ou tocar num ecrã para fazer compras virtuais. Sim, quando se configura o botão pela primeira vez é necessário entrar na aplicação móvel da Amazon. É preciso escolher a encomenda específica do produto que se quer encomendar repetidamente, seja uma pacote de três unidade de panos Clorox por 10 dólares ou um pacote de seis unidades com aroma a limão por 23 dólares. Mas quando chega a altura de realmente comprar? Basta pressionar o botão Dash. Uma pequena luz branca começa a piscar, até se tornar uma luz verde a indicar que a sua encomenda está a caminho.
A noção de que a melhor interface é não ter interface não é nova. Contudo, num cenário de comércio online, isto faz, surpreendente, muito sentido. Até mesmo as compras “com um clique” exigem que se abra uma app ou um site. Este método não. Os botões Dash também não são o primeiro produto da Amazon a abraçar esta ideia. Antes existiu um outro dispositivo Dash, um que funcionava com o serviço de entrega de mercearia da Amazon, em Manhattan. Poderia falar para esta “varinha mágica” e pedir “carne”, por exemplo, e receberia carne em casa.
O Echo, um novo altifalante sem fios da Amazon, é um assistente virtual controlado por voz que pode reduzir a intensidade das luzes da sua sala, configurar o despertador ou colocar uma playlist de música a tocar. As suas escolhas músicas nem sempre são as melhores, mas há algo imensamente conveniente no Echo, já que não tem de abrir uma app e procurar por aquilo que lhe interessa. A maior ironia dos produtos “smart” é que nos fazem sentir estúpidos quando temos de navegar numa app.
E mencionei que também pode comprar coisas com o Echo? (Não achou que a Amazon se iria afastar muito disso, pois não?) “Alexa”, poderá dizer, “Encomenda mais sacos do lixo”, e sacos do lixo é o que irá receber em casa.
Os botões Dash são, assim, outro meio para os fins da Amazon. É uma tentativa vamos-atirar-estes-à-parede-e-ver-se-eles-colam-literalmente. Chamar a estes botões de “equipamento” seria um exagero, e, de qualquer forma, não é o equipamento que interessa; é levá-lo a comprar coisas.
Para os consumidores, os botões Dash são uma forma de comprar sem ir às compras. É fácil esquecer que gastámos dinheiro, até que recebemos o email com o recibo da Amazon. “Posso carregar num?”, perguntaram-me três adultos quando viram os botões Dash em minha casa. Será porque se parecem com brinquedos? Ou porque a ideia de encomendar algo com um simples toque num botão, como se fosse uma campainha para o armazém da Amazon, é simplesmente demasiado tentadora? “Eu preferia não ter mais 96 Larabars à porta de casa hoje”, diria eu, especialmente porque as barras que eu encomendei sabiam mais a caixa da Amazon do que a manteiga de amendoim e chocolate.
Perguntei à Amazon o que aconteceria se uma criança, ou um animal, ou se um adulto pressionasse o botão Dash várias vezes. Acontece que o botão Dash apenas responde ao primeiro toque até que a encomenda tenha sido entregue. Por outro lado, se ativou as notificações, saberá se alguém encomendou seis caixas de Larabars, e poderá cancelar as encomendas se necessário.
Também há a questão da frequência com que realmente utiliza os botões Dash. Por agora, não planeio encomendar mais Larabars. Oito sacos de lixo deverão ser suficientes por um bom tempo. Tal como três latas de toalhetes de limpeza. Idealmente, haveriam mais marcas a participar, ou os botões poderiam ser programados para encomendar diferentes tipos de produtos. Mas a Amazon, como seria de esperar, parece ter planos maiores para isto. O seu Dash Replenishment Service envolve parcerias com os fabricantes de eletrodomésticos – como a Whirlpool e a Brita – que tanto podem ter botões físicos ou sensores que iriam ativar uma nova encomenda. Neste cenário, fazer compras não é apenas uma atividade sem interface; é também baseada nos padrões de comportamento, tal como a frequência com que se gasta a tinta da impressora ou a frequência com que substitui o filtro de água.
Eu tive uma falha com os botões Dash: nunca cheguei a receber os toalhetes de limpeza Clorox. A encomenda não foi processada após ter carregado no botão. Assim que me apercebi disto, fui até à cozinha e pressionei novamente o botão Dash da Clorox. Elas devem chegar na quinta-feira.