Os filmes apresentam-nos frequentemente robôs com uma inteligência artificial altamente avançada mas emocionalmente instáveis. Será possível que assim seja?
Os filmes de fantasia sobre a Inteligência Artificial (IA) são repletos de conteúdos sobre robôs e computadores ora bondosos ora maldosos, que têm sentimentos e emoções que muitas vezes conduzem à ideia de destruir a humanidade.
À primeira vista, o HAL do “2001: A Space Odyssea” (“2001: Odisseia no Espaço”) parece ser útil, mas no final do filme já esgana astronautas que estão a dormir. A mais recente da longa história dos robôs-assassinos, Ava do filme “Ex Machina”, mata um homem e, ao tentar escapar, deixa o outro a morrer.
As histórias de robôs emocionalmente instáveis provocam medos infundados sobre como realmente será o nosso futuro ao lado da IA.
Pensar que os futuros robôs poderão ter emoções humanas é um grande equívoco, afirma Yann LeCun, diretor do departamento de pesquisa sobre a Inteligência Artificial. Ele explica como as emoções robóticas vão funcionar.
Mito №1: robôs avançados serão capazes de sentir
Os robôs que temos no momento não tem nada a ver com a Ava; são mais parecidos com robôs especiais do tipo Wall-E. Ava é a assim chamada Inteligência Artificial comum (AGI), que manifesta a racionalidade ao nível humano e na mesma extensão de problemas que um homem médio é capaz de resolver. Ela pode ver, falar, escutar e raciocinar.
Já os robôs que temos hoje têm a chamada Inteligência Artificial restrita (ANI), ou seja, uma IA que possui capacidades extraordinárias para a solução de problemas muito restritos e especializados, tais como negociação de ações. No futuro, os cientistas talvez elaborem umas ANI mais complexas. Como explica LeCun:
“A maioria das IAs será especializada e não terá nenhumas emoções. O piloto automático do seu carro é feito apenas para conduzir o automóvel, mas não é programado para “sentir” alguma coisa.”
Mito №2: Os robôs vão desenvolver sentimentos espontaneamente
Mesmo o Wall-E não é um robô constante. É um representante da ANI, coletor de lixo, mas que desenvolveu em si uma rica vida emocional. Ele sabe sentir admiração, pavor e amor – emoções que não o fazem mais eficiente em cumprir as tarefas. Na realidade, os robôs vão manifestar emoções apenas se forem programados para isso. As emoções serão um efeito colateral de criação de programas superinteligentes.
Uma das razões pela qual gostaríamos de programar os robôs em sentimentos é que assim seria mais fácil trabalhar, se eles não fossem parecidos com as máquinas insensíveis. LeCun escreve:
“Nós podemos desenvolver neles o altruísmo e boas intenções para ter prazer em interagir com eles e estar por perto.”
LeCun aponta para o caráter de Samanta no filme “Her” (“Uma história de amor” em Portugal e “Ela” no Brasil) como “nada provável” – ela é projetada especialmente para sentir emoções, nomeadamente amor, e para construir as relações com o seu parceiro-homem. Porém, LeCun acha que para criar um AGI assim pode demorar algumas décadas. No entanto, as emoções programadas não vão incluir as emoções negativas (e perigosas), tais como rancor e inveja.
Mito №3: As emoções robóticas serão parecidas com as nossas
Se as pessoas começarem a criar robôs com emoções, é bem provável que elas não sejam parecidas com as nossas, diz LeCun. As emoções da IA vão corresponder mais aos objetivos específicos, baseados na “esperança de recompensa”. Ele explica:
“Hoje o nosso método de ensinar as máquinas é dirigente: é como se mostrássemos a uma criança um livro com desenhos e lhe disséssemos o que está lá”.
Neste caso, o sistema de IA desempenha o papel de aluno, enquanto o cientista torna-se professor. Assim como um aluno normal, a IA deve ter uma aspiração programada para o êxito e vai esforçar-se para atingi-lo.
Mas LeCun garante que mesmo se a IA obtiver algum tipo de emoções, não há motivos para nos preocuparmos: provavelmente, o único objetivo de toda a vida emocional da IA será um prémio. As emoções mais destruidoras, tais como avidez e rancor vão continuar pertencer só a seres humanos. LeCun diz:
“Para os robôs, não haverá motivo para ter um instinto de autopreservação ou ciúmes. As máquinas não terão emoções destrutivas, a não ser que as programemos nelas. E eu não vejo razões para que o façamos.”