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Perceba em que medida as grandes empresas tecnológicas poderão desempenhar um papel fundamental na luta contra o terrorismo.

Almushawah, o chefe do centro Assakina, reparou nos sinais alarmantes de uma provável crise na região, mesmo estando a mil e quinhentos quilómetros de distância do local.

O objetivo do programa financiado pelo governo saudita era seguir as pistas online dos jihadistas. Segundo Almushawah, ele notou novas tendências entre os militantes ainda em 2013. No Estado Islâmico eram criados grupos técnicos de especialistas para ajudar os radicais a enviar mensagens encriptadas. Houve um aumento de atividade em francês e apelos à jihad na Europa. Dois anos mais tarde ocorreram os ataques em Paris, primeiro na revista Charlie Hebdo e depois nas ruas da cidade. Na entrevista Almushawah disse:

"Entendemos que eles estão a criar a realidade de hoje. O que acontece na vida real tem uma sombra anterior no mundo eletrónico."

Os Estados Unidos e os seus aliados dizem que estão a vencer a luta contra o Estado Islâmico. A cidade síria de Kobane e a iraquiana Ramadi foram libertadas dos militantes. Porém, as vitórias numa frente vêm juntamente com as perdas em outra — no território digital que os ataques aéreos não podem atingir.

Em grande parte, o mundo digital é controlado pelas empresas norte-americanas, e por isso os dirigentes da Google e do Facebook juntamente com os representantes do governo mobilizam os esforços para uma resposta concertada.

Território digital

As informações recolhidas por Almushawah mostram o quanto é difícil prever as ações dos terroristas. A campanha na internet liderada pelo EI atraiu milhares de combatentes estrangeiros e inspirou muitos ataques terroristas solitários.

O diretor do FBI James Comey considera que o ataque em São Bernardino, Califórnia, provou como a rede ajuda a "atrair as pessoas e vender assassinatos". Ao dar um discurso depois do ataque de dezembro ele disse que "a internet é o principal lugar onde se divulga o ‘vírus’ [do terrorismo]".

Ultimamente Almushawah tem apontado para o crescimento da atividade relacionada com a Indonésia. A bomba que explodiu há pouco tempo em Jakarta matou oito pessoas. O diretor da Google Ideas Jared Cohen afirmou:

"O Estado Islâmico é a primeira organização terrorista que conseguiu ocupar e manter posições nos mundos real e digital."

Ele considera que a guerra no território digital deve ser levada tão a sério como as operações no terreno. O governo deveria interagir com as empresas para elaborar um meio conveniente de lutar.

No vídeo de 17 minutos publicado no passado domingo pelo Estado Islâmico são mostradas nove pessoas que alegadamente participaram nos ataques em Paris no dia 13 de novembro. Os islamistas estariam no território controlado pelo EI antes dos ataques. Os alvos principais dos combatentes deveriam ser empresários e políticos — o vídeo tem o título de "Matá-los onde quer que estejam".

Nova dinâmica

As redes sociais colaboram com os serviços de informações ocidentais, porém andam na linha entre lutar contra o extremismo e apagar todas as mensagens a pedido de usuários de vários países.

Durante o Fórum Económico Mundial em Davos a diretora de operações do Facebook Sheryl Sandberg disse que quando uma página do EI é eliminada, é imediatamente substituida por outra.

"O melhor antídota contra as más intenções são as boas intenções," disse ela, referindo-se ao exemplo dos neonazis na Alemanha cuja página foi neutralizada com mensagens de tolerância.

Durante a conferência em Munique a ministra britânica de segurança online Joanna Shields disse que no ano passado foram apagados 14 milhões de vídeos do YouTube, e o Twitter suspendeu 10 mil contas do Estado Islâmico. Ao tentar atrair recrutas de todo o mundo, o Estado Islâmico lança materiais de propaganda em mais de 20 línguas. Shields afirma:

"Há uma nova dinâmica de ameaças nesta época digital que exige uma nova resposta. Enquanto há ataques aéreos sobre as posições dos combatentes do Iraque e da Síria, o Estado Islâmico trava uma segunda guerra oculta por cabeças e corações da próxima geração, divulgando uma visão do mundo distorcida."

Contra-ataque

Com o crescimento da presença dos islamistas online também estão a aumentar os esforços dos órgãos de segurança. Antes, esta mesma tática tinha sido aplicada com sucesso para lutar contra a Al-Qaeda.

Neste mês, os Estados Unidos anunciaram a criação do Serviço de Neutralização do Extremismo Violento que vai coordenar os esforços no interior do país. Outro serviço será responsável pela organização da interação com parceiros internacionais. Além disso, em janeiro teve lugar uma reunião dos peritos governamentais de segurança com os representantes das empresas de tecnologia.

A subdivisão especial da polícia de Londres apaga diariamente mais de mil mensagens extremistas. Em junho, a Europol criou um grupo para lutar contra o Estado Islâmico nas redes sociais. O objetivo do grupo era bloquear qualquer conta nova ligada ao Estado Islâmico por duas horas.

O desafio para os serviços de informações é opor-se ao recrutamento e incitações através da internet e redes sociais. Além disso, é importante manter bastantes fontes para recolher dados e prevenir ataques terroristas. Tristan Reed, o analista de segurança da empresa de consultoria estratégica Stratfor, afirma:

"A vitória no território digital não vai acabar necessariamente com a presença do Estado Islâmico na internet. A atividade dos islamistas serve de fonte valiosa de informações."

A alma dos extremistas

A divisão Assakina, a que pertence Almushawah, foi criada na Arábia Saudita em 2003. A corrente de Islão que é professada no país serve de fonte do jihadismo. É por isso que 15 dos 19 participantes dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 eram cidadãos da Arábia Saudita.

A Assakina identificou mais de 200 combatentes do Estado Islâmico do Golfo Pérsico e trocou mensagens com eles no Twitter, levando em consideração as suas preferências religiosas. Para os radicais interessados em éditos e fátuas religiosas, a Assakina pediu aos altos clérigos para preparar mensagens especiais que contradigam a doutrina do Estado Islâmico.

Embora os esforços do centro possam ser bem-sucedidos, atualmente abrangem apenas uma parte insignificante dos combatentes, admite Almushawah. É necessária uma abordagem global. Ele diz:

"O território digital é a alma do Estado Islâmico."

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