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A gigante de buscas na internet introduziu verificadores de sintomas na sua aplicação a semana passada. Conheça a opinião de Celine Gounder, médica

A Google lançou na semana passada os seus cartões de sintomas, que irão aparecer no topo dos resultados de pesquisa da próxima vez que tentar procurar algo relacionado [por enquanto ainda só nos EUA e em Inglês mas prevê-se que se estenda a outras línguas e países]. Atualmente disponível apenas nas aplicações para Apple e Android, esse recurso também virá a estar disponível nas pesquisas diretamente no browser. O Google (NASDAQ: GOOGL) desenvolveu os seus cartões de sintomas com a ajuda de médicos da Harvard Medical School e da Mayo Clinic.

Outros verificadores de sintomas têm alimentado os temores de hipocondríacos. Não existe processo de verificação. Listam diagnósticos assustadores e raros ao lado dos mais prováveis. Os conselhos que dão são conservadores, recomendando que os pacientes procurem atendimento médico. Também não são muito precisos. Um estudo quanto a 23 verificadores de diagnóstico concluiu que os mesmos apenas apresentavam o diagnóstico certo à primeira tentativa uma em cada três vezes.

Para meu alívio, o verificador de sintomas da Google foca-se no que é mais comum. Então, talvez agora venha a ter menos pacientes a pedir exames desnecessários. Uma pesquisa por “nariz congestionado e tosse” coloca a constipação comum no topo – e o cartão de sintoma do Google recomenda medicamentos com receita, não antibióticos.

Todo o estudante de medicina aprende “quando ouvir cascos pense em cavalos, não em zebras” – o que por outras palavras significa: não favorecer uma explicação exótica sobre a mais provável. Ainda assim, de vez em quando é uma zebra.

Por vezes é um detalhe aparentemente trivial ou não relacionado que nos permite descobrir o diagnóstico. No entanto, pacientes e médicos não classificam ou descrevem sintomas da mesma forma. Os pacientes enfatizam o que é mais doloroso ou incómodo. Nós focamo-nos no que surge como uma boa pista e procuramos red flags.

Poderá ter dor lombar incapacitante. Os cartões de sintomas da Google dizem que provavelmente tem uma luxação ou entorse que pode ser tratada com fisioterapia e analgésicos. É um grande conselho para a maioria das pessoas, mas você também poderá ter alguma febre ou poderá ter-se tornado incontinente recentemente. Poderá não perceber que esses sintomas poderão estar relacionados e apontar para algo mais sério como cancro ou uma infeção na coluna. Poderá dizer-me que sente dor no peito, mas dor no peito quando está a fazer jardinagem significa algo diferente de dor no peito quando respira fundo.

O reconhecimento de padrões por parte dos médicos baseia-se em mais do que um ou dois sintomas. No entanto, introduza três ou mais sintomas – como prisão de ventre, sangue nas fezes ou perda de peso, que poderão ser preocupantes para cancro do cólon – e o verificador de sintomas do Google irá gaguejar.

Também pensamos em termos demográficos (idade, género, raça, etnia), socioeconómicos e geográficos. Queremos saber se fuma, bebe ou utiliza drogas, se viajou e para onde, ou se esteve perto de alguém doente ou tem um novo parceiro sexual. Uma condição médica poderá colocá-lo em risco para outra, e algumas condições médicas surgem em conjunto.

Vamos supor que está com febre. O Google diz-nos que poderá estar com gripe. No entanto, se estiver de regresso de uma viagem de mochila às costas pelo sudeste Asiático poderá ter malária ou dengue. Se tiver as glândulas inchadas o Google diz que poderá ter mononucleose, gripe, constipação comum ou amigdalite. No entanto, se me disser que teve relações sexuais desprotegidas depois de um primeiro encontro, preocupo-me com a possibilidade de ter HIV.

No entanto, o Google poderá ter algumas vantagens sobre nós [médicos]. Os pacientes poderão ser mais honestos com os computadores do que com os médicos – mais dispostos a partilhar detalhes embaraçosos.

O verificador de sintomas do Google não irá substituir os médicos tão cedo. No entanto, cabe lembrar que o Google está a recolher, utilizar e vender informações. Assim, as pessoas que se preocupam com a saúde pública não devem perguntar se o Google irá fazer um diagnóstico preciso um dia – mas a que custo esse desenvolvimento irá chegar.

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