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Os resultados das eleições do fim de semana, com a surpreendente ascensão do “Podemos” e do “Ciudadanos”, criam um novo xadrez político de governo imprevisível.

No rescaldo de uma noite eleitoral sem precedentes, os políticos espanhóis estão a fazer contas para ver que coligações podem permitir um governo. É oficial, o bipartidarismo morreu. Como bem aponta o Observador, na Espanha chegou a era do quadripartidarismo. Os tradicionais partidos terão de negociar com os novos, que entram de rompante no parlamento, e com os independentistas, que prometem não abrir mão das promessas que fizeram ao seu eleitorado. Só uma situação pode evitar que isso aconteça, mas é muito pouco provável: uma aliança de bloco central entre o PP e o PSOE.

De facto, uma coligação entre estes dois partidos parece ser, neste momento, a única hipótese que o PP tem para se manter à frente dos destinos de Espanha. Juntos, populares e socialistas têm 213 deputados, mais do que os 176 necessários para uma maioria absoluta. Essa possibilidade parece, no entanto, estar bastante longe da cabeça quer de Mariano Rajoy quer de Pedro Sánchez, que protagonizaram um dos episódios mais duros da campanha no frente-a-frente que os opôs na semana passada, com acusações mútuas (Sánchez disse que Rajoy não era uma pessoa “decente”, Rajoy respondeu que o líder do PSOE era “ruim e miserável”).

Caso o Ciudadanos, com os 40 deputados que elegeu, não quiser mesmo viabilizar um eventual governo com o PSOE e Podemos (o que daria um total de 200 deputados), os cenários complicam-se. Entre as coligações mais evidentes, não há nenhuma que consiga uma maioria parlamentar. Como indica o Observador, eis as possibilidades mais óbvias:

  • PSOE + Podemos: 159 deputados
  • PSOE + Podemos + Izquierda Unida: 161 deputados
  • PSOE + Ciudadanos: 130 deputados
  • PP + Ciudadanos: 163 deputados

Assim como em Portugal, a Constituição espanhola dá ampla liberdade ao rei para indigitar o primeiro-ministro que queira, mas, também como em Portugal, seria inédito na história se Felipe VI não nomeasse o líder do partido mais votado (neste caso, Rajoy). O PP vai, quase de certeza, apresentar um programa de governo no Congresso, mas, também quase de certeza, será chumbado. Na melhor das hipóteses para os populares:

  • PP + Ciudadanos + Partido Nacional Basco + Coligação Canária: 170 votos a favor
  • PSOE + Podemos + Izquierda Unida + Esquerda Republicana da Catalunha + Democracia e Liberdade: 178 votos contra

Posteriormente, numa segunda votação, a maioria absoluta já não é necessária, mas as condições para que Rajoy se torne primeiro-ministro não melhoram. Mesmo que o Partido Nacional Basco, o Democracia e Liberdade e o Bildu (também basco) se abstenham e o Ciudadanos e a Coligação Canária votem a favor, o resto da oposição tem força para fazer cair o governo. A menos que Rajoy negoceie o voto favorável dos bascos, uma situação que o deixaria nas mãos de partidos abertamente independentistas.

Seja como for, no novo parlamento os partidos independentistas vão ter um peso mais significativo. Isto porque, falhando Rajoy, o mais natural é que seja o líder socialista Pedro Sánchez a ser chamado para formar governo. E o PSOE não consegue obter maioria absoluta através de nenhuma das coligações prováveis. Nas improváveis, se conseguir convencer o Podemos, o Democracia e Liberdade e a Esquerda Republicana, consegue 178 deputados — mas fica, lá está, nas mãos de separatistas.

Sendo assim, o melhor que Pedro Sánchez pode esperar é abstenções que lhe permitam formar um governo minoritário. E nesse caso só tem uma hipótese:

  • PSOE + Ciudadanos + abstenção dos restantes + votos contra do Podemos e do PP: 130 deputados

Se, no final de todo o processo, não for possível chegar a qualquer acordo que dê um governo a Espanha, a Constituição prevê que se convoquem novas eleições. O prazo máximo são dois meses desde que ocorra a primeira reunião do parlamento. Ou seja, até 13 de março.

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